A BBC, a emissora oficial da realeza britânica, saiu em defesa do magnata Lai Chee-Ying, que prefere ser chamado de “Jimmy Lai” ou “Fatsy Lai” (Lai Gorducho) – considerado culpado de duas acusações de conluio com forças externas nos protestos anti-China em 2014 e 2019 por um tribunal de Hong Kong -, clamando ser ele “o magnata que resolveu testar os limites da China – e acabou preso”.
Também em defesa de Lai vieram o Departamento de Estado e algumas fachadas legais da CIA, sempre muito zelosas dos ataques aos “direitos”, além do Reino Unido, antiga potência colonial, e do G7.
Pelos crimes julgados pelo tribunal, Lai é passível de prisão perpétua, de acordo com a Lei de Segurança Nacional da Região Administrativa Especial de Hong Kong sob o princípio de ‘Um país, dois sistemas’, forma que tomou a devolução à China do território que lhe havia sido arrancado pelo império britânico na guerra que travou para impor o ópio ao povo chinês, a primeira narcoguerra da história da humanidade.
“Este caso histórico envia uma mensagem clara ao mundo: qualquer tentativa de dividir o país ou minar a prosperidade e estabilidade de Hong Kong será punido severamente pela lei”, registrou o Global Times. Ainda está em curso a definição da dosimetria da sentença. Representantes consulares dos Estados Unidos, França, Reino Unido e União Europeia compareceram à leitura da sentença.
“Não há dúvida de que (Lai) nunca hesitou em sua intenção de desestabilizar o governo” da China, afirmou a juíza Esther Toh, da Alta Corte, em um comunicado. Ela acrescentou que “o custo final foi sacrificar os interesses das populações” da China e de Hong Kong.
Segundo os promotores, Lai estava por trás de duas conspirações para pedir a países estrangeiros que adotassem “sanções ou bloqueios” ou efetuassem “atividades hostis” contra Hong Kong e a China. “Não há dúvida de que (Lai) nutria ressentimento e ódio pela República Popular da China durante grande parte de sua vida adulta e isto é visível em seus artigos”, acrescentou Toh.
Com uma dose de cinismo poucas vezes vista, governos ligados exatamente à deflagração da guerra pelo livre tráfico do ópio e pelo século de humilhações ao povo chinês, se arvoram em “defensores” do “Estado de Direito” e da “liberdade de imprensa”, quando o que há é a cumplicidade do oligarca – que se considera britânico – na tentativa de fazer de Hong Kong um punhal contra o rejuvenescimento da milenar nação chinesa e da reunificação de Taiwan à pátria, tarefa ainda a concluir.
Registre-se que, sob a dominação colonial inglesa, a população de Hong Kong não tinha qualquer direito democrático e não elegia ninguém.
“QUEM COZINHOU A SOPA EM HONG KONG”
Curiosamente, foi uma indiscrição cometida pela própria BBC, que foi registrada magistralmente pelo ex-embaixador indiano e atual comentarista da cena internacional, K Bhadrakumar, “Quem cozinhou a sopa em Hong Kong”, que escancarou a interferência externa nos “protestos” anti-chineses, onde, como registrado em fotos e vídeos, não faltaram bandeiras britânicas nem norte-americanas.
Segundo a própria BBC, o “protesto espontâneo” de 2014 havia sido preparado com dois anos de antecedência por agentes dos EUA, que haviam treinado cerca de 1000 operativos, a exemplo da notória operação que depôs Milosevic na Iugoslávia. Por uma notável coincidência, 2014 também foi o ano do golpe em Kiev.
A matéria, assinada por Laura Kuenssberg e publicada em 21 de outubro de 2014 sob o título “Protestos de Hong Kong: ativistas compartilham segredos no Fórum da Liberdade de Oslo”, relatava que “longe de serem manifestações improvisadas, é um segredo aberto neste encontro na Noruega que os planos para as manifestações foram incubados quase dois anos antes (janeiro de 2013)”.
O total de agentes treinados – ali chamados de “manifestantes treinados” – chegou a 1000, segundo Kuenssberg, sendo a proposta “usar ação não-violenta como ‘arma de destruição em massa’ para desafiar o governo chinês”.
Na “revolução dos guardas-chuvas” de 2014, insuflada sob o pretexto de uma “mudança no currículo”, os “manifestantes treinados” chegaram a expor uma faixa com o nome insultuoso com que os invasores fascistas japoneses tratavam a China.
Na “revolução de 2019”, a interferência norte-americana e britânica assumiu aspectos gritantes, ao ser flagrado e fotografado um encontro entre a conselheira política do consulado norte-americano em Hong Kong, Julie Eadeh, e o assim chamado ‘líder dos protestos’, Joshua Wong.
Também se tornou público que ela também estivera no mesmo dia com dois conhecidos apologistas do separatismo, Anson Chan Fang e Lee Chu-ming. Então, já sob o primeiro mandato de Donald Trump.
“FUI A WASHINGTON VÁRIAS VEZES”
Os chamados “protestos” foram antecedidos pela ida de uma fornida malta de “oposicionistas” pró-EUA a Washington, em maio, onde se reuniram com o secretário de Estado Mike Pompeo e com a presidente da Câmara de deputados, Nancy Pelosi. Como um internauta postou nas redes, qual seria a reação de Washington se um diplomata chinês se reunisse com os líderes do Occupy Wall Street, ou os do Black Lives Matter, ou com manifestantes do Never Trump?
Diante das fotos, Wong asseverou ao Hong Kong Standard que não havia nada de sinistro em sua reunião com a conselheira do consulado. “Eu até fui a Washington várias vezes, então o que há de tão especial em conhecer um cônsul dos EUA?”
Segundo ele, o assunto tratado foi o projeto de lei, apresentado no Congresso dos EUA, que prevê sanções contra a China sob o pretexto de ‘defender a democracia’ no porto chinês. Em suma, uma confissão de conspiração com o governo Trump para apoiar sanções à China.
Os violentos protestos tiveram como pretexto a ampliação da lei de extradição que já existe para incluir os demais países – atualmente só abrange 20 – inclusive a China continental e Taiwan. Ampliação cujo estopim foi o assassinato de uma mulher de Hong Kong pelo namorado durante visita a Taiwan, que causou grande comoção e que ficaria impune se a lei não fosse alterada.
O que foi manipulado, pelos pró-anglo-americanos, sob a alegação de que o objetivo da lei era facilitar a extradição para o continente dos corruptos e dissidentes, o que ameaçaria o futuro do porto como centro financeiro. Manipulação em que o Apple Daily foi essencial. Mesmo com a lei tendo sido retirada, os tumultos prosseguiram.
“TRABALHO DOS EUA”
No final de julho de 2019, a porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, já havia chamado a violência e caos na Região Administrativa Especial de Hong Kong de “trabalho” dos EUA. A declaração foi para rebater palpite do secretário de Estado Pompeo, sobre a China “fazer a coisa certa” diante dos “protestos pacíficos”,
“Eu não sei se ele [Pompeo] quer mover para os EUA os protestos em Hong Kong, onde ativistas radicalmente violentos atacaram a polícia com barras de aço e armas mortais. Os EUA então poderão mostrar sua ‘democracia’ para o mundo”.
“Receio que ele [Pompeo] ainda se considere o chefe da CIA. Ele pode acreditar que a recente violência em Hong Kong é razoável, porque, como todos vocês sabem, é, afinal de contas, um ‘trabalho’ da CIA e dos EUA”, disse ela.
O caráter de provocação da ação dos manifestantes trajados de preto ficou evidente no cerco a delegacias de polícia, invasão do parlamento central e até uma bandeira da China arrancada do mastro.
O IMPRESCINDÍVEL LAI
No açulamento dessas arruaças, o tablóide do magnata Lai, o Apple Daily, foi essencial ao “incitar imprudentemente confrontos sociais, glorificar a violência e solicitar abertamente sanções estrangeiras contra a China e a RAEHK, convidando a interferência externa”, afirmou o atual chefe do executivo de Hong Kong, John Lee.
“Suas ações prejudicaram os interesses fundamentais do país e o bem-estar dos cidadãos de Hong Kong. Suas condutas eram vergonhosas e maliciosas. Seus crimes foram cometidos abertamente, com evidências esmagadoras. A condenação do tribunal demonstra a justiça da lei e defende os valores centrais de Hong Kong”.
“Algumas organizações, especialmente organizações de mídia estrangeiras, deliberadamente enganam o público e branqueiam deliberadamente os atos criminosos de Lai sob o disfarce de que ele era um chamado magnata da mídia”, acrescentou Lee.
FICHA CORRIDA
Por si só é eloqüente a ficha de Lai, apresentada por essa nova defesa da BBC de sua cumplicidade nos ataques à China e a Hong Kong. Anticomunista feroz e adepto dos delírios do pai do ultraliberalismo e autor de “A Estrada para a Servidão”, Friedrich Hayek.
Apologista histérico das mentiras ocidentais sobre a Praça da Paz Celestial – onde, se em 1989 os oposicionistas tivessem prevalecido, a China teria seguido a mesma devastação desencadeada sob Gorbachev, ao invés de ser hoje a nação que encabeça o avanço social e tecnológico no planeta, a constituição de um mundo multipolar e ganha-ganha, e a busca por um futuro compartilhado para a Humanidade.
MEGAFONE DOS COLONIALISTAS
Foram 156 dias de julgamento e 885 páginas de documentos – é por isso que Lai foi condenado, não por expressar “opiniões”, ou escrever editoriais, mas por servir de megafone aos colonialistas na sua tentativa de deterem a China. Inclusive, sob o século das humilhações, o povo chinês soube, sabiamente, diferenciar entre a “burguesia patriótica”- que lutou junto com o povo contra a intervenção estrangeira – e a “burguesia compradoira” – que ganhou na intermediação do ópio.
“A China deplora e se opõe firmemente a certos países que fazem acusações falsas e flagrantes contra os assuntos judiciais de Hong Kong, disse Guo Jiakun, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, instando a “respeitar a soberania da China e o Estado de Direito em Hong Kong, e a se abster de fazer comentários irresponsáveis sobre o julgamento de casos judiciais na RAEHK, de interferir nos assuntos judiciais de Hong Kong e interferir nos assuntos internos da China de qualquer forma”.
Em 2019, a porta-voz Hua havia reagido a um arrogante telefonema do novo Ministro das Relações Exteriores britânico: “Gostaria de salientar que Hong Kong hoje é uma região administrativa especial da República Popular da China. Já se passaram os dias em que estava sob o domínio colonial britânico”.











