Jeanine Áñez assumiu a presidência em 2019, como resultado de um golpe que contou com apoio da OEA que propagou informações falsas de fraude eleitoral para invalidar a vitória de Evo Morales
No primeiro julgamento contra os autores do golpe de estado na Bolívia em 2019, Jeanine Áñez, a ex-chefe da junta que depôs Evo Morales, foi condenada na sexta-feira a 10 anos de prisão por um tribunal que a considerou culpada por empalmar a presidência em 12 de novembro de 2019 violando os requisitos constitucionais, dois dias depois que o ex-presidente Evo Morales foi forçado a se demitir por militares, após acintosa ingerência da Organização dos Estados Americanos (OEA), que falsamente acusou o governo de fraudar a eleição, o que serviu de gatilho para a virada de mesa.
O julgamento foi tornado possível pela vitória inquestionável, nas eleições presidenciais arrancadas pela pressão popular, do candidato do Movimento Ao Socialismo (MAS), Luis Arce, ex-ministro da economia de Morales. Mobilização que isolou os fascistas, os corruptos e os pró-americanos e devolveu a democracia e a soberania à Bolívia.
A promotoria, que estava pedindo pena de 15 anos de cadeia para Áñez, demonstrou que a sessão do Senado em que ela se autodeclarou presidente não teve quorum. Apontou, ainda, que dada a renúncia forçada de Morales, a presidência interina deveria recair para um integrante do governista Movimento ao Socialismo (MAS), que tinha a maioria no parlamento, e não para o bloco de oposição do qual ela fazia parte.
Áñez também irá a julgamento no chamado caso “golpe de Estado I”, em que é acusada dos crimes de sedição, terrorismo e conspiração.
Também estão sob investigação os crimes contra a humanidade de Sacaba e Senkata, perpetrados pelas forças de segurança e militares sob seu comando durante os primeiros dias de seu governo, que deixaram um saldo de pelo menos 38 pessoas mortas e centenas mais feridas. Ela está em prisão domiciliar desde março do ano passado.
A ex-chefe da junta golpista tentou por todos os meios atrasar o julgamento, encenou um meio jejum, que chamou de ‘greve de fome’ e chegou a ser levada a um hospital, alegando sofrer estresse, ataques de pânico e dores nas costas. Sua defesa chamou o julgamento de “vingança” do atual governo.
Áñez, que jurou “inocência”, asseverou que sua participação no golpe foi para “pacificar o país”, dizendo que “faria tudo de novo”. Chegou mesmo a apontar que assumiu a presidência “sem pedir, sem buscar, muito menos esperar” e, se superando em cinismo, considerou que a Bolívia atualmente parecia um país de “época medieval e totalitária” e com “presos políticos” – claro, ela e os outros cúmplices.