
O PIB dos EUA aumentou 1,01% no segundo trimestre de 2018, em relação ao trimestre anterior, ou 2,8% na comparação com igual período do ano passado, segundo o Departamento de Comércio dos EUA. Como é costume, a Casa Branca comemorou “alta de 4,1%”, apelando para aquela pirotecnia que praticamente só é usada pelos EUA e que consiste em, arbitrariamente, multiplicar por quatro (um ano) o que é apenas resultado de um trimestre.
1,01% não é nada de tão excepcional, embora seja o melhor resultado desde 2014 e assim não é de estranhar que Trump (como Obama e antecessores faziam) prefira o “4,1%” fake. Trump soltou fogos, querendo capitalizar sua política econômica de corte de impostos para os ricos e as corporações e guerra comercial. “Mais uma vez somos a inveja econômica do mundo inteiro”, correu a tuitar.
Conforme os analistas, a alta do PIB teve como principais fatores o crescimento no consumo – em boa parte, gastando aquela merreca no imposto de renda que Trump concedeu à classe média enquanto dava US$ 1,5 trilhão (em dez anos) de cortes nos impostos das corporações –, aumento dos gastos do governo – principalmente em defesa – e o aumento das exportações, no caso, granjeiros antecipando venda de soja para a China antes que entrassem em vigor as tarifas retaliatórias sobre produtos agrícolas dos EUA.
Os cortes de impostos deram a milhões de norte-americanos um aumento único de renda, e isso agora está sendo gasto em “gadgets, carros e férias”, analisou o economista Ian
Shepherdson. “Acho que alguns desses componentes, que parecem ótimos no segundo trimestre, não serão tão bons no terceiro, em particular os números do comércio exterior”, como a alta da exportação de soja. Já Trump promete o contrário, “à medida que os acordos comerciais forem feitos”. Uma conseqüência de os consumidores fazerem a festa com o extra via alívio no imposto de renda foi a maior queda nos estoques desde 2009, o que propicia certo espaço para reposição de estoques – e, portanto, crescimento, no próximo trimestre.
A grande polêmica é se essa taxa de crescimento é sustentável. A Moody’s projetou que o crescimento do PIB no próximo ano ficará em 2,6%. Mas para 2020 – apenas 0,9%. Ninguém sabe ao certo o que vai sair da guerra comercial, e as consequências sobre a produção interna e sobre as cadeias globais de fornecimento.
Por outro lado, os 4,0% de taxa oficial de desemprego, enquanto, como assinalou Emily Stewart, do The Vox, “os salários reais do primeiro para o segundo trimestre caíram -1,8%”, só revelam como os números oficiais cada vez se tornam mais incapazes de descrever adequadamente os fenômenos que supostamente deveriam aferir. Assim, a taxa de participação da população civil no emprego ainda não retornou ao nível pré-crise de 66%, se mantendo em torno de 62%. Desde 2006, segundo o mesmo estudo, os salários reais caíram -9,3%. Em paralelo, a bolha de tudo, contrapartida aos juros reais negativos, e ainda maior concentração de riqueza nas mãos de muito poucos, com a avalanche de recompra de ações.
Ainda conforme a revisão quinquenal dos números do PIB, a atual recuperação econômica que começou em junho de 2009 ainda é a mais lenta no período pós-guerra, com taxa média anual de 2,2%. O que não desanima o vice Mike Pence. “Nas duas últimas administrações, a economia cresceu menos de 2%. E nos primeiros 18 meses deste governo – estávamos um pouco tímidos em 3% no ano passado – estamos no caminho de obtermos 3% ou mais este ano”. Mas, como concluiu o economista Thimothy McBride, da Universidade de Washington, “se o PIB está subindo, mas os salários estão caindo, o dinheiro está indo para o topo”.
A.P.