A ficha da decadência americana ainda não caiu inteiramente e o desnorteado prometeu também se apoderar do Golfo do México. Levou lambada de todo lado
Até o jornalismo da Rede Globo, sempre muito impressionado com um alardeado poderio militar americano, foi obrigado a reconhecer, como fez na última na quarta-feira (8), que as bravatas de Donald Trump, de que pretende invadir o Panamá, anexar o Canadá, adquirir a Groenlândia e se apoderar do Golfo do México lembram “falas napoleônicas”. Não há como não fazer essa comparação diante do tamanho ridículo dessas “metas” de Trump.
Na verdade há uma diferença importante entre as pretensões dessas duas figuras. O imperador Napoleão Bonaparte ameaçava com invasões e conquistas territoriais – e as fazia – antes de sofrer as derrotas para a Rússia e a Inglaterra. Depois ele calou a boca. Parece que, para Donald Trump, a ficha ainda não caiu. Ou ele desconhece que seu “império” já não é mais aquele? Derrotas homéricas como a da Coreia, depois a do Vietnã, o Iraque e, mais recentemente, o vexame no Afeganistão deveriam fazê-lo pensar duas vezes antes de anunciar suas bravatas.
Com a tremenda crise vivida pelos EUA, essa baboseira de que ele vai voltar a ser o “valentão do bairro do peixoto” pelo mundo afora não cola em lugar nenhum. O próprio Trump sabe disso. Ele está ciente de que os EUA não estão com essa bola toda. Seu próprio slogan ( MAGA) denuncia isso.
O seu lema “MAGA” (Make America Great Again”) significa em português “Faça a América Grande Novamente”. Só isso já revela que a coisa não está boa para os americanos. Ou seja, não é mais a “grande América”. E não é só isso, no debate com Kamala Harris, na campanha, ele já admitia que a situação do país está uma droga. “Os chineses estão nos deixando para trás. Vocês democratas destruíram os EUA”, denunciava ele, na ocasião.
Não é por acaso que a pequenina Groenlândia já mandou o bufão se catar. “A Groenlândia é nossa. Não estamos à venda e nunca estaremos. Não podemos perder nossa longa luta pela liberdade”, disse o primeiro-ministro da ilha, Mute Egede. Ele acrescentou que considera realizar um referendo de independência da Dinamarca. Há duas semanas, Múte Egede disse que “não devemos perder nossa longa luta pela liberdade”. Em seu primeiro discurso de 2025, ele afirmou que “o próximo passo para a Groenlândia” é a independência e pediu para que os cidadãos considerem a ideia.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, também rebateu as provocações de Trump. Ela sugeriu mudar o nome de uma região dos Estados Unidos, em resposta ao plano de Trump, de mudar o nome do Golfo do México. “Por que não chamamos isso de ‘América Mexicana’? Parece bom, certo?”, questionou Sheinbaum sobre o sudoeste os Estados Unidos enquanto apontava para os territórios em um mapa. Além disso, acrescentou que o nome “Golfo do México” é reconhecido internacionalmente.
Já as autoridades do Panamá declararam que a soberania do seu canal interoceânico “não é negociável”. “O presidente [do Panamá] José Raúl Mulino disse: a soberania de nosso canal não é negociável e é parte de nossa história de luta e uma conquista irreversível”. O governo panamenho acrescentou que “as únicas mãos que controlam o canal são panamenhas e continuará sendo assim”.
Até líderes europeus, que andam meio genuflexos nos últimos tempos, esbravejaram contra Trump. O porta-voz do governo francês denunciou “uma forma de imperialismo” após a fala de Trump sobre a Groenlândia, enquanto seu homólogo alemão ressaltou que “as fronteiras não podem ser deslocadas pela força”. “Em minhas conversas com nossos parceiros europeus, houve uma notável incompreensão no que diz respeito às atuais declarações dos Estados Unidos sobre o princípio da inviolabilidade das fronteiras”, declarou o social-democrata Olaf Scholz, sem mencionar diretamente Trump.