
O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou na segunda-feira (14) impor tarifa de 100% sobre a Rússia, que se estenderá aos países que comerciarem com Moscou (tarifas secundárias), sob a alegação de que a Rússia tem 50 dias para se submeter às exigências da Otan de um cessar-fogo.
Tal cessar-fogo por imposição traz, da forma mais explícita, um socorro para que se mantenha de pé o regime neonazista instaurado pela CIA em Kiev em 2014, e que se recusa a restaurar o status de país neutro bem como a respeitar os direitos da população de fala russa, sem falar na desnazificação do país.
O anúncio, precedido de alvoroço sobre “uma grande declaração”, foi feita por Trump com o secretário-geral da ONU, o ex-premiê holandês, Mark Rutte, ao seu lado, e incluiu o adendo de que os países europeus vão pagar por 17 sistemas Patriot para o regime ucraniano.
No novo arranjo, “A Europa pagará à América pela guerra na Ucrânia”, registrou o jornal russo Vzygliad.
O tarifaço secundário de 100% anunciado pretende ainda dialogar com maníacos de guerra em Washington, como o republicano Lindsey Graham, que anda, junto com o democrata Richard Blumenthal, cevando no Senado uma lei com sobretaxa “opcional” de 500%!. Uma “marreta”, segundo Graham.
Na verdade, trata-se de uma provocação com o intento de forçar a China e a Índia, que são os dois maiores compradores do petróleo e gás russo, ao bloqueio contra a Rússia, e uma tentativa de minar os BRICS. Ambas acusadas de “financiarem” a guerra de Putin (em dezembro de 2022, a China comprava 47% e a Índia, 38%).
No momento em que Trump faz essa declaração, o chanceler russo Sergey Lavrov está em Pequim para negociações. Putin está com visita oficial marcada à Índia.
Como Lavrov alertou repetidamente, qualquer arma fornecida a Kiev será um alvo militar legítimo e apenas dá fôlego ao regime neonazi para se recusar à paz. Muitos bilhões de dólares em equipamento bélico já foram torrados pelas forças russas que combatem os neonazis.
Trump – ainda sem ter desistido de evitar que a “guerra de Biden na Ucrânia” se torne a sua própria guerra à beira das eleições intermediárias do próximo ano – aproveitou para reclamar que o Kremlin está envolvido em “conversas doces, mas vazias”, enquanto bombardeia Kiev.
“Putin é um cara durão. Ele enganou muita gente. Clinton, Bush, Obama, Biden, mas não a mim! Quando as palavras acabam, as ações começam”, acrescentou Trump.
“ELIMINAÇÃO DAS CAUSAS PROFUNDAS”
Sobre as condições para um cessar-fogo que leve a uma paz duradoura, o presidente Putin tem apontado ser imprescindível a “eliminação de suas causas profundas”.
A primeira delas, a expansão da Otan até às portas da Rússia – nada de nem 1 cm a leste, como prometeram – e o desmanche dos mecanismos de segurança mútua estabelecidos desde Helsinki. A restauração aos direitos da população de ascendência russa, da língua à religião. A desmilitarização – o país foi transformado em uma casamata da Otan – e a desnazificação. E o reconhecimento da reunificação com a Rússia das regiões que assim o decidiram por plebiscito.
Sem isso, o cessar-fogo é só uma pausa para voltar a entupir os neonazis de armas e de “conselheiros”, tentando repetir a enganação já feita nos Acordos de Minsk, como confessaram François Hollande e Angela Merkel.
Aliás, a vassalagem aninhada em Londres e Paris já andou arrotando que, tão logo haja o ‘cessar-fogo’, irão mandar 50 mil soldados para o solo ucraniano.
“ÚNICO BENEFICIÁRIO: O COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL DOS EUA”
Ainda não há uma reação oficial de Moscou sobre a declaração de Trump, mas os jornais russos e algumas personalidades se manifestaram. O vice-presidente do Conselho da Federação (Senado), Konstantin Kosachev, disse que “há apenas um beneficiário: o complexo militar-industrial dos EUA.”
“A Ucrânia precisa continuar lutando até o último ucraniano, já que eles próprios determinaram esse destino. E em 50 dias, oh, quanta coisa pode mudar, tanto no campo de batalha quanto no humor dos que estão no poder nos EUA e na OTAN. O principal é que isso não afete em nada o nosso humor”, enfatizou.
Ao Komsomolskaya Pravda, um analista observou que o comércio entre a Rússia e os EUA já é mínimo, e a tarifa de 100% não fará diferença – além de que, como ocorreu sob Biden, a própria Casa Branca terá de estabelecer isenções em casos como o urânio.
A RT ironizou o fato de uma parte decisiva dessas sanções ter como alvo a Índia, a qual Washington diz querer fazer uma parceria estratégica: “primeiro as sanções, depois aliados”.
Zongyuan Zoe Liu, membro sênior em estudos da China no Conselho de Relações Exteriores, duvidou que as tarifas mudassem o curso da guerra. “O petróleo é fungível e a Rússia desenvolveu uma frota sombra [de petroleiros] ágil”, disse ele. “Portanto, a fiscalização seria um desafio.”
Ele advertiu ainda que adicionar uma tarifa de 100% sobre a China, além dos impostos de importação já em vigor, essencialmente interromperia o comércio entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo.
MAIS “IDIOTS” A SEREM INCINERADOS
Em paralelo, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, que recentemente andou declarando que os alemães estavam prontos para “matar soldados russos”, viajou também a Washington para se encontrar com seu homólogo no Pentágono, o ex-apresentador da Fox News, o tatuado Pete Hegseth. E o representante especial de Trump, general Keith Kellogg, está em Kiev para uma visita de vários dias.
Um especialista militar russo e historiador, Yuri Knutov, lembrou ao jornal Vzygliad as conhecidas limitações do sistema Patriot (que começaram aliás durante a Guerra do Iraque, quando ficaram conhecidos como “Idiot”).
“Eles são eficazes contra mísseis de cruzeiro e drones, mas usá-los contra UAVs não é rentável. O PAC-2 não funciona contra alvos balísticos, e o PAC-3 intercepta apenas com baixa probabilidade. Esses sistemas são ineficazes contra os mísseis Kinzhal ou Iskander.”
“Um Patriot custa US$ 450 milhões, e cada míssil custa entre US$ 2 e US$ 4 milhões. O resultado é um contrato extremamente caro, onde os europeus pagam e os americanos ganham”, ele resumiu.
Para Knutov, o Ocidente “tentará criar um sistema de defesa aérea multicamadas na Ucrânia”, mas a força aérea russa mostra já ter se adaptado: “os ataques passaram a ser combinados – usando Gerânio-2, iscas, mísseis de cruzeiro e balísticos, incluindo hipersônicos. Tal ataque é extremamente difícil de repelir. As táticas de uso de drones também estão em constante aprimoramento”. Em síntese, vão queimar igual aos que já foram entregues antes, e viraram destroços.