
O presidente defendeu em reunião ministerial a punição para Eduardo Bolsonaro. Ele “está adotando os EUA, negando sua pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro”, denunciou
O presidente Lula afirmou, na manhã desta terça-feira (26), em reunião de sua equipe de ministros, que o Brasil é um país soberano e todos têm que respeitar a constituição e as leis da nação. Ele falou das ameaças do presidente do EUA.
“Somos um país soberano, temos uma Constituição, temos uma legislação, quem quiser entrar nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”, afirmou.
“Trump ameaça qualquer país. Disse que quem ameaçar suas big techs será penalizado. Isso pode ser um problema, porque quem quiser entrar em nosso espaço aéreo ou marítimo tem que prestar contas às nossas legislações. É assim que vamos fortalecer nossa soberania e democracia”, acrescentou Lula.

O presidente frisou que o Brasil está disposto a negociar em pé de igualdade em qualquer mesa internacional. “Só não vamos ser tratados como subalternos. Isso não vamos aceitar. Nosso compromisso é com o povo brasileiro”, disse Lula. “O ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, e o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, estão à disposição para sentar com qualquer país sobre a questão comercial”, destacou.
Lula falou sobre a a reação do país às ameaças de Trump. “Ele tem agido como se fosse o imperador do planeta terra. É uma coisa descabida, mas ele continua fazendo ameaças ao mundo inteiro”, afirmou Lula, destacando também a traição da família Bolsonaro ao Brasil. “Não conheço na história desse país algum momento em que um traidor da pátria teve a desfaçatez de mudar para o país, que ele está adotando como pátria, negando a sua pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro”, acrescentou.
Ele considerou uma afronta ao país o parlamentar ter abandonado o mandato para trabalhar nos EUA contra os interesses nacionais. “Ele deveria ter sido expulso da Câmara. Ele está insuflando outro Estado contra o Brasil. No campo da política, isso precisa ser enfrentado. Ele adotou os EUA como pátria, nega a sua pátria e tenta insuflar o ódio de alguns americanos contra o povo brasileiro”, afirmou. O presidente ainda ironizou a postura do deputado: “Se gostássemos de imperador, o Brasil seria uma monarquia ainda. Queremos o Brasil republicano”, afirmou.
Assista a abertura da reunião ministerial
Lula reforçou o papel de integrantes de sua equipe como negociadores. “Esse homem aqui [Alckmin], aquele homem ali que é o Haddad, aquele ali que é o Mauro Vieira, estão 24 horas por dia à disposição de negociar com quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial”, apontou.
Ele também anunciou o envio de uma delegação brasileira para o México, liderada por Geraldo Alckmin, com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Juntamente com eles, devem seguir 100 empresários aproximadamente. Eles serão recebidos pela presidenta do México, Claudia Sheinbaum, e por ministros e empresários mexicanos. O objetivo é abrir mercados recíprocos para compensar as tarifas importas por Trump.
No discurso, Lula voltou a criticar os crimes de Israel. O governo israelense já assassinou centenas de milhares de palestinos e anunciou recentemente o extermínio final da população de Gaza. Desde o início da agressão, o governo brasileiro vem condenado os crimes de Netahyahu. “Temos a continuidade do genocídio na Faixa de Gaza, que não para, todo dia mais gente morre”, declarou Lula. Segundo o presidente, crianças que passam fome são “assassinadas como se fossem do Hamas” pelas tropas israelenses.
Lula também afirmou que a guerra entre Ucrânia e Rússia “está para chegar ao final” e que há uma preocupação entre os principais atores, como EUA e União Europeia, sobre quem ficará com a dívida do conflito. “Todo mundo sabe o que tem acontecido em nível internacional, todo mundo tem acompanhado há longo tempo a questão da guerra entre a Ucrânia e a Rússia e todo mundo sabe que esta guerra está prestes a chegar ao final.
“Na verdade, acho que a preocupação maior de todos eles é quem vai ficar com a dívida da guerra porque alguém vai ter que tentar ajudar a recuperar a Ucrânia, alguém vai tentar se rearmar outra vez. A UE aprovou 800 bilhões de euros de rearmamento de todos os países da UE quando a gente estaria precisando de dinheiro para acabar com a fome ou, quem sabe, manter as florestas em pé, já que a gente vai ter a COP30 em Belém”, destacou.
“Eu acho que tanto o presidente [Vladmir] Putin e quanto o presidente [Volodymyr] Zelensky já sabem o limite de onde vai essa guerra, a Europa já sabe o limite, Trump já sabe o limite. Então eu acho que estão apenas aguardando o momento que eles tenham coragem de anunciar o fim dessa guerra. Na verdade, eu acho que preocupação maior é quem vai ficar com a dívida da guerra”, afirmou o presidente.
Lula voltou a criticar a atuação da ONU. “A fragilidade do mundo é tão grande, a fragilidade da governança global é que ninguém toma uma atitude. Ou seja, é por isso que estamos há muito tempo reivindicando essa questão de mudança na governança da ONU, para que alguém tenha interferência de parar um genocídio como esse, de parar uma guerra, de evitar uma guerra, coisa que não temos hoje”, afirmou.
O presidente se solidarizou também com o ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça, que teve seu visto de entrada nos EUA cancelado. Lula fez uma pergunta: Que crime ele cometeu para estar impedido de entrar no país governado por Donald Trump? Nenhum, é claro. A sanção que Lewandowski recebeu foi fruto da ação de Eduardo Bolsonaro, que fez o Brasil de refém para tentar garantir a impunidade do pai.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, titular da pasta que cuida da indústria, comércio e desenvolvimento, também falou para os ministros logo depois de Lula e disse que as tarifas dos EUA são “injustas” e “injustificadas”. Ele contou o que o governo tem feito e defesa da economia. Alckmin detalhou a situação dos setores atingidos pelo tarifaço e como o governo vai enfrentar cada um deles. O ministro falou dos financiamentos que, segundo ele, poderão chegar a R$ 40 bilhões, e de outros projetos do governo.
“Alckmin fará uma importante viagem ao México, a pedido da presidente Cláudia, em resposta a um oferecimento meu, após a taxação dos EUA. Conversei com Cláudia e disse a ela que enviaria meu vice-presidente da República, alguns ministros e empresários, para que possamos descobrir o potencial da relação entre México e Brasil”, disse Lula.
Leia o balanço apresentado pelo ministro Rui Costa na reunião ministerial: