
Em resposta à ameaça do governo Trump de aumentar de 10% para 25% a sobretaxa sobre US$ 200 bi de exportações chinesas, a China imediatamente se declarou pronta para introduzir tarifas de até 25% sobre 5.207 tipos de mercadorias americanas até o valor de US$ 60 bilhões, inclusive o gás liquefeito natural, que Washington anda tentando empurrar goela abaixo no mundo inteiro. Em um pouco comum editorial, o Diário do Povo disse que Trump – citado nominalmente – estava estrelando “seu próprio e ilusório drama ao estilo briga de rua” e advertiu que as medidas anunciadas pela Casa Branca punham em risco “a credibilidade nacional dos EUA”. As sobretaxas chinesas só entrarão em vigor, caso as de Trump sejam efetivamente acionadas.
A declaração do Ministério do Comércio da China enfatizou que as medidas tomadas por Pequim têm exclusivamente o propósito de “defender seus legítimos direitos”, com a expectativa de “evitar que o atrito comercial se amplie”. Os chineses advertiram que as ações dos EUA estão “interrompendo a cadeia global de suprimentos” e o sistema multilateral de comércio, com “sérios danos” não apenas aos interesses e cidadãos da China, mas também com grandes riscos para o crescimento econômico no mundo inteiro. Considerando os US$ 34 bilhões em exportações dos EUA para a China já afetados por sobretaxa retaliatória, mais esses US$ 60 bilhões, segundo o ministério, implicaria em ônus sobre 85% do que Pequim importa dos EUA.
Por sua vez, a chancelaria chinesa alertou que chantagens e ameaças jamais funcionarão contra Pequim. O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse que “as portas do diálogo permanecem abertas”, mas que qualquer diálogo deve se baseado “na igualdade, respeito mútuo e regras”, e que pressões seriam “contraproducentes”.
Chang acrescentou que as atuais tensões foram iniciadas pelos EUA e que os problemas devem ser resolvidas sob as normas da Organização Mundial do Comércio e não da lei norte-americana. Ele responsabilizou os EUA pelo desequilíbrio comercial entre os dois países, notando que “60% do superávit comercial da China com os EUA foi criado por empresas estrangeiras que operam na China” e que as empresas americanas obtiveram no país “lucros enormes”.
Para ele, as sobretaxas impostas por Washington são um exemplo de “unilateralismo e hegemonia econômica”, inaceitável para “qualquer estado soberano”. Pequim e Washington sequer se entendem sobre o tamanho do desequilíbrio comercial. Segundo a China, o superávit é de US$ 275,8 bi (em 2017) enquanto os EUA asseveram tratar-se de US$ 375,2 bi.
Trump chegou a ameaçar de impor sobretaxas sobre US$ 500 bilhões em exportações chinesas, o que significaria que praticamente toda a produção dos monopólios ianques deslocada para a China também seria afetada, o que explica a resistência desses setores a essa política.
Mas o problema não é exclusivamente o “déficit comercial”. Com suas alegações sobre “roubo de propriedade intelectual” por parte da China, o governo Trump evidencia que o alvo é o programa de dez anos da China para produzir – e dominar o conhecimento – internamente a alta tecnologia, até 2025. Também Wall Street não para de imaginar o saqueio que pode cometer se puder forçar a China a abrir seu sistema financeiro.