Uma charge do Political Cartoons retratou o espírito da equipe de governo que o ex-presidente Donald Trump está montando para perpetrar o mandato que obteve graças ao colapso da bidenomics, a alta da inflação, aluguéis e juros, e o repúdio às guerras em Gaza e na Ucrânia.
Um bote estropiado simbolizando os EUA, com a bandeira de estrelas e listras e Trump na proa, e os ratos, muitos ratos, nadando para pegar seu naco no barco meio naufragado. Melhor dizendo, ratazanas.
Como o senador gusano-americano Marco Rubio para o Departamento (de golpes) de Estado; o apresentador da Fox News, ex-militar e lobista de criminosos de guerra, Pete Hegseth, no Pentágono; e a apologista do genocídio de Israel em Gaza, Elise Stefanik, de embaixadora na ONU.
O homem mais rico do mundo, dono do X (ex-Twitter) e patrono financeiro da campanha presidencial, Elon Musk, como o “czar da eficiência” e desmonte da máquina pública (que será auxiliado por outro bilionário, Vivek Ramaswamy).
O chefe da deportação em massa, aliás, ‘czar da fronteira’, Thomas Homan. A governadora Kristi Noem, para, na Secretária de Segurança Interna, se superar na perseguição aos imigrantes que comem gatos e cachorros. Em um livro biográfico publicado em maio, ela relatou que matou seu cachorro Cricket de 14 meses “por não apresentar sinais de um cão de caça ideal”, gerando intensa repulsa. Depois Noem alegou que seu objetivo com a história foi mostrar como é capaz “de realizar tarefas cruéis quando necessário”.
O deputado Matt Gaetz, para procurador-geral – isto é, ministro da Justiça – e que como credencial tem a derrubada do antigo presidente republicano da Câmara, Kevin McCarthy, entre outras demonstrações de lealdade a Trump.
Susie Wiles, copresidente da campanha de Trump, chefe de Gabinete da Casa Branca, a primeira mulher a ocupar o cargo e considerada uma das figuras-chave na bem-sucedida candidatura à reeleição e responsável por ajudar a manter sua campanha mais disciplinada.
O secretário da poluição e devastação ambiental, um certo Lee Zeldin, que adora abanar o rabo quando Trump grita “drill, baby, drill” açulando a máquina poluidora do gás obtido via fracking. Michael Waltz, ex-coronel das forças especiais, deputado e notório fanático de guerra, que se opôs à retirada do Afeganistão, vai para Conselheiro de Segurança Nacional.
John Ratcliffe, na chefia da CIA; no primeiro mandato de Trump, como Diretor Nacional de Inteligência ele foi um opositor de primeira hora ao “Russiagate”, a trama montada pelos democratas em 2016 para atribuir a Putin a derrota de Hillary e vitória de Trump.
O ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, como embaixador dos EUA em Israel. Ele é um fundamentalista cristão, que no passado já declarou que “não existe tal coisa como um palestino”, defensor entusiasta do genocídio em curso e contra a solução dos Dois Estados.
A lista é grande, e terá de passar pelo crivo do Senado, cujo controle foi retomado pelos republicanos.
Há ainda os convertidos de última hora, como Robert Kennedy Jr, o excêntrico filho do assassinado Bob Kennedy e sobrinho de JFK, tido como “antivacina”, para o Departamento da Saúde. Ele alega que sempre combateu o excesso de mercúrio nos peixes e nem por isso era tratado como “anti-peixe”.
A ex-deputada democrata, militar da reserva e ex-pré-candidata à presidência pelos democratas, que virou de lado, Tulsi Gabbard, para diretora de Inteligência Nacional, e, segundo “críticos” citados pela Reuters, “‘extremamente simpática’ ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi, ao presidente sírio Bashar al-Assad e ao presidente russo Vladimir Putin”. Ao endossar a candidatura de Trump, ela alegou que o bilionário transformaria o Partido Republicano “de volta ao partido do povo e ao partido da paz”, a ver.
Setores progressistas têm denunciado a catadupa de néscios e fascistas que Trump reuniu em torno de si, mas há contestações a nomeações, de parte de desclassificados como John Bolton, que são apenas esperneio do Estado Profundo, que prefere alguém ainda pior.
Há também quem, zombateiramente, estranhe a ausência na equipe de Trump de alguns promissores elementos, como o Coringa ou Jack o Estripador. É que, em se procurando bem, sempre se pode encontrar uma utilidade para tais expertises nessa Liga dos Vilões à qual o presidente laranja incumbiu dar conta dos desafios, para virar a mesa, vividos pelo império em decadência diante das mudanças tectônicas em curso no mundo e da ascensão da Maioria Global, do mundo multipolar e dos BRICS.
O TATUADO HEGSETH
Ao que parece, Trump, ao fazer barba, cabelo e bigode, no colégio eleitoral, no voto popular, no Senado e na Câmara, se sente em condição de patrocinar tipos tão exóticos quanto Hegseth para o Pentágono, em substituição ao lobista da Raytheon, general de pijama Lloyd Austin.
O apresentador da Fox News e autor do livro “A Guerra aos Guerreiros: Por Trás da Traição dos Homens que Nos Mantêm Livres”, ganhou também notoriedade por ter tatuagens que, aos não iniciados, parecem muito com suásticas ou coisas semelhantes. Mas asseveram os trumpistas, a tatuagem no peito não é uma cruz de ferro nazista e sim um símbolo cristão medieval, uma “Cruz de Jerusalém”.
Segundo Times Now, ele tem várias outras tatuagens, incluindo a frase ‘Deus Vult’ em seu bíceps, que significa “Deus quer” – o grito dos cruzados -, bem como ‘1775’ em algarismos romanos e a icônica cobra ‘Join or Die’.” Ele é, ainda, ligado ao movimento Veteranos Engajados da América, financiado pelos irmãos bilionários fascistas, Koch.
Em 2019, no seu programa “Fox & Friends”, Hegseth encabeçou uma campanha pela exoneração de três soldados condenados ou aguardando julgamento por crimes de guerra no Iraque e Afeganistão, que incluíam a execução sumária de prisioneiros desarmados e o assassinato de crianças e velhos. Eles receberam o perdão de Trump.
Hegseth defendeu, ainda, a privatização da agência do governo dos EUA que dá assistência aos veteranos.
Também contou pontos para a indicação sua oposição ao “wokenism” no interior do Pentágono, assunto de seu livro. Para maior estresse, o The Wall Street Journal registrara, horas antes, que a equipe de transição de Trump estava esboçando uma ordem executiva para criar um “conselho guerreiro” de oficiais da reserva para revisarem a atuação dos generais e almirantes nos postos de comando, em especial em relação às práticas DEI (diversidade, equidade e inclusão).
A indicação já está causando alarme no Pentágono, com oficiais, à boca pequena, indagando “você confiaria nele para comandar o Walmart?” – como militar da Guarda Nacional, ele se limitou a dirigir grupos de 50 a 100 soldados, no Iraque, no Afeganistão e em Guantánamo. Nos últimos oito anos, só fez puxar o saco de Trump na Fox News.
Ao ser informado pela NBC News sobre a nomeação de Hegseth, O senador republicano Bill Cassidy reagiu com “Quem?”. E continuou: “Eu não conheço Pete. Eu simplesmente não sei nada sobre ele.”
O GOLPISTA RUBIO
A indicação do senador Rubio sinaliza que a interferência do Estado Profundo na América Latina vai seguir crescendo – não há um golpe no quintal ao sul do Rio Grande em que o gusano-americano não dê pitaco. Foi um dos patrocinadores da escalada de sanções contra a Venezuela em 2019, no primeiro mandato de Trump e um fiel escudeiro de Juan Guaidó.
“Ele será um forte defensor da nossa nação, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro destemido que nunca recuará diante dos nossos adversários”, exagerou Trump ao anunciar o nome do senador para o Departamento de Estado.
Freneticamente anti-China, Rubio participou de todas as articulações para deteriorar os laços Washington-Pequim, da Huawei ao TikTok, passando pelos veículos elétricos. Patrocinou um projeto de lei para impedir a importação de produtos chineses supostamente fabricados com “trabalho forçado” da minoria étnica uigur.
Mais recentemente, mudou em parte o tom em relação à guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia. Foi um dos 15 senadores republicanos a votar contra o pacote de ajuda militar de US$ 95 bilhões ao regime de Kiev. Passou a dizer nas entrevistas que a Ucrânia precisa buscar um acordo negociado com a Rússia em vez de se concentrar em recuperar todo o território perdido.
CIDADÃO GAETZ
A bem dizer, a indicação de Matt Gaetz para o Departamento de Justiça começou quando o trumpismo ganhou o controle da Câmara no ano passado, com a derrubada do então presidente, o republicano pró-establishment, Kevin McCarthy. No Departamento de Justiça, ele será secundado com dois juristas que defenderam Trump nos tribunais. Democratas lembram declarações de Trump sobre o “inimigo interno” e estão em polvorosa.
“Sob Gaetz, teríamos todos os motivos para esperar uma América onde criminosos corporativos andam livres, mas imigrantes e pessoas de cor são assediados ou presos com o mínimo de pretexto”, disse Robert Weissman, co-presidente da Public Citizen, citando o desprezo do indicado “Estado de Direito, verdade e decência”.
A revista The Nation, por sua vez, fez uma curiosa observação sobre a escolha de Gaetz. “Matt Gaetz é o melhor resultado possível para o procurador-geral. O homem é uma escolha absurda que quase certamente fará coisas terríveis – mas não tão terríveis quanto o que um promotor mais experiente faria.”
A oposição também está exigindo que o que foi apurado por uma investigação sobre ele no Comitê de Ética da Câmara referente a alegações de tráfico sexual com uma menor de 17 anos seja tornado público. O caso terminou sem acusações.
Ao iniciar sua investigação, o painel de ética da Câmara disse que examinaria se Gaetz “se envolveu em má conduta sexual e/ou uso ilícito de drogas, compartilhou imagens ou vídeos inapropriados no plenário da Câmara, usou indevidamente registros de identificação estaduais, converteu fundos de campanha para uso pessoal e/ou aceitou suborno, gratificação indevida ou presente inadmissível, em violação às regras da Câmara, leis ou outros padrões de conduta”.