O presidente Donald Trump autorizou a CIA a voltar a esconder as vítimas civis dos ataques com drones, ao revogar no dia 6 decreto de seu antecessor, Barack Obama, que cobrira os crimes de guerra com drones, de que era entusiasta, com uma folha de parreira que já não existe mais.
O decreto de Obama foi assinado em julho de 2016, após o escândalo com as denúncias sobre “as sextas-feiras da morte” da Casa Branca – em que ele pessoalmente escolhia os “alvos” – e investigações de entidades de direitos humanos e jornalistas mostrando que, para cada suposto terrorista morto por mísseis lançados pelos drones norte-americanos, morriam dezenas de civis – mulheres, crianças, idosos, camponeses. E muitos mais ficavam mutilados.
Quando assinou o decreto, Obama já vinha matando civis com drones há seis anos no Afeganistão, Paquistão, Iêmen e Somália e tinha multiplicado o número de ataques em relação ao governo W. Bush.
Como os drones eram operados à distância, como numa guerra de videogame e usando câmeras, adolescentes colhendo lenha à margem da floresta eram considerados “terroristas plantando bombas” e massacrados com mísseis.
Outros alvos dos drones eram definidos a partir de nebulosos números de celular. Execuções realizadas sem julgamento, sem direito de defesa e sequer sem que a identificação do suposto alvo tenha sido efetivamente comprovada.
Um dos estudos sobre a nova modalidade de crime de guerra chegou a comparar o voo aterrorizador dos drones e seu típico ruído com o assovio que ficou marcante das V2 nazistas, “as V2 dos tempos modernos”.
Sob W. Bush e Obama, o Departamento de Justiça dos EUA – o mesmo que arrumara uma justificativa para a oficialização da tortura – passara ao largo das leis internacionais e da própria constituição norte-americana ao definir que o ataque poderia ser decidido por “uma alta autoridade”, desde que houvesse “risco iminente” de ataque por parte do “alvo”, o que era entendido de uma forma tão ampla que qualquer coisa poderia ser bombardeada – e foram -, até festas de casamento.
“Bombardeios de drones têm sido vendidos para o público norte-americano sob a justificativa de que esses ataques são ‘precisos’. Mas não há nada rigoroso quando isso resulta na morte de centenas de desconhecidos – homens, mulheres e crianças”, denunciou a responsável por um desses estudos de denúncia dos crimes de guerra com drones, Jennifer Gibson, na época em que Obama foi forçado a dar alguma satisfação à opinião pública.
Naturalmente, o número de civis mortos “colaterais” nos ataques de drones, nesses menos de três anos que o decreto folha de parreira existiu, sempre foi uma fração do total de civis assassinados.
Sob Trump, o volume de ataques com drones voltou a crescer, e se estende agora também à Líbia e aos países do Sahel – a região subsaariana da África. Juristas e entidades como a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) já repudiaram a revogação.