Em junho, Trump ponderou que “se dependesse de Bolton já teríamos aberto guerra ao mundo inteiro de uma vez”. Quando representou os EUA na ONU, ele dizia que não faria falta se a sede das Nações Unidas fosse destruída.
O maníaco de guerra John Bolton foi demitido esta terça-feira (10) da função de assessor de Segurança Nacional dos EUA, como anunciou, naturalmente pelo Twitter, o presidente Donald Trump. Ele estava no posto há 18 meses.
“Esta noite informei a John Bolton que seus serviços já não são necessários na Casa Branca. Não estava de acordo com muitas de suas sugestões, assim como outros no governo, pelo que pedi a John sua renúncia, que me foi dada esta manhã”, registrou @realDonalTrump, direto de sua torre de vigia na internet.
Bolton asseverou que se tratou de uma renúncia voluntária oferecida por ele na noite anterior, a que Trump retrucara que “falaremos disso amanhã”. Parece que o velho proxeneta do cartel bélico não gostou de ir parar no rol das dezenas de “está demitido”, que deram fama a Trump em tempos de reality show.
Certa vez, Trump, um tanto surpreendentemente, emitiu um juízo ponderado sobre seu principal assessor de segurança nacional: Bolton “se enfrentaria com o mundo inteiro de uma vez” se isso “dependesse dele”.
Naquele encontro surpresa no final de junho com o líder norte-coreano Kim Jong Un na zona desmilitarizada, Trump – afinal, prevenir é melhor que remediar – tomara a providência de enviar Bolton para milhares de quilômetros dali, para a Mongólia.
É considerado um dos mentores da invasão do Iraque e da saída dos EUA do Tratado ABM (Antimíssil), que era um dos esteios do sistema de prevenção de uma guerra nuclear, no governo de W. Bush.
O que completou agora, ao encabeçar o movimento que tirou os EUA do Tratado INF de Proibição de Mísseis Intermediários.
A folha corrida de Bolton em matéria de crimes contra a Humanidade é difícil de igualar. Sob sua gestão, intensificaram-se as tensões com o Irã – fruto da retirada do governo Trump de acordo negociado e assinado pelo antecessor Obama -, a Guerra do Afeganistão segue sem solução, o bloqueio a Cuba foi redobrado, a ingerência na Venezuela chegou ao extremo, enquanto a negociação com a Coreia do Norte só não implodiu devido à ação pessoal de Trump. Também foi incapaz de deter a derrota em curso na Síria, ou de qualquer ato que contribuísse para a paz no Oriente Médio.
Entre outras provocações, no auge de negociações entre Washington e Pyongyang, Bolton disse que o desarmamento nuclear da Coreia do Norte seria “ao modelo da Líbia”. Também detestava qualquer organização internacional, que atrapalhasse a rapinagem dos cartéis norte-americanos. Embaixador dos EUA na ONU, costumava dizer que se vários andares do prédio fossem destruídos, não faria falta.
É conhecido, ainda, pela truculência, tendo partido dele as ameaças à família do então diretor da Organização de Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o brasileiro Jose Maurício Bustani, porque a política imparcial que seguia, em sustentação ao trabalho dos inspetores internacionais e pelo ingresso de Bagdá na organização, estava atrapalhando os planos de Washington para assaltar o petróleo iraquiano sob acusações falsas. “Eu sei onde seus filhos estão”, ameaçou Bolton, conforme relato ao The Intercept do diplomata brasileiro que foi afastado da direção da OPAQ para não haver obstáculos ao ataque ao Iraque
Bolton também chegou a se declarar favorável a bombardear a Coreia do Norte, além de, quanto à América Latina, ser um entusiasta da doutrina do nosso “pátio traseiro”, estando em cruzada explícita contra a Venezuela, Cuba, Nicarágua e Bolívia.
Na conhecida declaração sobre Bolton, Trump explicara ter em sua equipe na Casa Branca “dois grupos de pessoas, tenho pombas e falcões. Bolton é inteiramente um falcão” – termo cunhado durante a resistência à guerra do Vietnã sobre aquelas figuras fanáticas por matar e destruir terra alheia.
A “pomba” do time Trump deve ser o Mike Pompeo, ex-chefe da CIA e atual secretário de Estado, famoso por uma descontraída declaração sobre a CIA: “nós mentimos, nós fraudamos, nós roubamos”. Perguntado por um repórter sobre a saída de Bolton, asseverou “jamais se surpreender”. Fica a curiosidade sobre o que afastou duas figuras tão ternas quanto Bolton e Trump. Como Trump acabara de desistir das negociações com o Talibã, dava a impressão de convergência – Bolton sempre é a favor de esticar uma guerra. Trump anunciou que a nomeação de novo assessor de segurança nacional será na próxima semana.
A.P.