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Ódio de Trump à ciência provocará uma grande fuga de cérebros, ameaçando minar o atual domínio dos EUA na biomedicina. “Estes são os melhores e mais brilhantes cientistas de classe mundial para competir com a China”, destacou um pesquisador de alto nível
O governo Donald Trump, que se chocou abertamente com a ciência e foi responsável pelo desastre que matou centenas de milhares de pessoas durante a pandemia de covid-19 no país, acaba de anunciar, após seu retorno à Casa Branca, a demissão de 5.200 pesquisadores das agências federais de saúde. Cientistas seniores alertaram que a medida pode expulsar pesquisadores que podem deixar os EUA em busca de oportunidades mais estáveis no exterior.
A fúria com que o governo Trump está agindo para “limpar” o setor de saúde, como ele diz, está alarmando os cientistas que temem que o clima político atual esteja enfraquecendo a determinação dos pesquisadores de seguir carreiras na ciência acadêmica. A ansiedade já é tão profunda que muitos cientistas dizem que isso certamente minará a posição do país como líder mundial em biomedicina.
Um pesquisador de alto nível, que falou sob condição de anonimato, disse que o NIH efetivamente encerrou um programa de pesquisa interno altamente competitivo para titulares de graduação antes de iniciarem a pós-graduação ou a faculdade de medicina. Segundo ele, esses servidores que estão sendo mandados embora são responsáveis pela próxima geração de líderes em ciências biomédicas.
“Estes são os melhores e mais brilhantes com grande chance de se tornarem cientistas de classe mundial para competir com a China”, disse o pesquisador. O programa teve cerca de 1.600 pessoas no ano passado. Mais de 1.000 cargos não serão preenchidos, informou o professor. A liderança do CDC foi informada de que a agência com sede em Atlanta perderia cerca de 1.300 trabalhadores. Os trabalhadores receberão um mês de licença remunerada, mas perderão o acesso aos sistemas de trabalho até o final de sexta-feira, segundo fontes.
A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada para Saúde (ARPA-H) será uma das mais atingidas. A atual diretora do órgão, Renee Wegrzyn, afirmou que nos últimos dois anos e meio, acordou todos os dias com entusiasmo e senso de urgência para construir uma capacidade nova e transformadora para o povo americano. “Embora hoje tenha começado do mesmo jeito, termina de tal forma que não tenho mais a oportunidade de servir como Diretor da ARPA-H”, informou a pesquisadora.
O expurgo de funcionários da agência de saúde está alinhada, segundo o site Statnews (Reportagens das Fronteiras da Saúde e Medicina), com os cortes agressivos da força de trabalho que ocorrem em todo o governo. O governo Trump, auxiliado pelo Serviço DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) dos EUA, entregue ao neonazista Elon Musk, está planejando demissões em massa. Os trabalhadores federais também foram incentivados a sair por meio de uma oferta de compra, ordem de retorno ao trabalho e a ameaça de proteções legais limitadas.
O ativista antivacina, Robert F. Kennedy Jr., que foi confirmado como secretário de Saúde e Serviços Humanos na quinta-feira, prometeu repetidamente “limpar” as agências federais de saúde. Ele disse que quer eliminar “departamentos inteiros” do FDA e demitir 600 funcionários do NIH.
Especialistas alertam que demissões em massa podem interromper gravemente o trabalho no FDA e outras agências. O HHS (Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos ) emprega mais de 80.000 pessoas em suas agências federais de saúde, incluindo mais de 20.000 pessoas no NIH de US$ 47 bilhões por ano, que financia pesquisas sobre câncer, Alzheimer, doenças infecciosas e doenças raras. O CDC, com cerca de 15.000 funcionários, opera com um orçamento de US$ 9,2 bilhões e é responsável pela resposta a surtos e proteções de saúde pública.
O medo que tomou conta dos funcionários desses institutos pode remodelar o governo tanto quanto às próprias ações. “Se eu fosse gripe aviária ou qualquer que seja o próximo patógeno pandêmico, este seria meu manual exato – dizimar a infraestrutura federal de ciência e saúde”, disse Holly Fernandez Lynch, bioética e advogada da Universidade da Pensilvânia.
“A abordagem da marreta – e a crueldade absoluta e desrespeito aos servidores públicos – atrasará a inovação científica americana por pelo menos uma geração”, disse Lynch. “A miopia é surpreendente. O número de curas que não obteremos e os avanços científicos que não teremos como resultado desses cortes são incontáveis”, denunciou a pesquisadora da Pensilvânia.