O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu pelo Twitter o secretário de Estado Rex Tillerson, nesta terça-feira (13), que será substituído pelo até então diretor da CIA, Mike Pompeo. “Ele fará um trabalho fantástico”, prometeu Trump sobre seu novo secretário de Estado. Não foi dada qualquer explicação sobre o mais recente “está demitido” de Trump. A nomeação terá de ser confirmada pelo Senado.
Ex-executivo-mor da Exxon, Tillerson acabara de voltar de uma viagem à África poucas horas antes da demissão e fora também pego de surpresa pela aceitação de Trump da cúpula com o líder coreano Kim Jong Un. Curiosamente, quando no ano passado Tillerson admitiu negociações com Pyongyang, havia sido admoestado para “não desperdiçar seu tempo” com “o pequeno homem-foguete” por Trump. Após o bota-fora, o presidente bilionário disse achar que “o Rex será muito mais feliz agora, mas eu realmente aprecio seu serviço”.
Sete dos 12 conselheiros mais importantes de Trump renunciaram, foram demitidos ou trocados de cargo. Conforme a Associated Press, Tillerson achava que ia continuar e já tinha uma agenda até final do ano. Já tivera alguns choques com Trump, como no célebre episódio que vazou – do qual não se retratou propriamente – em que teria chamado o presidente bilionário de “imbecil f….”. Segundo Trump, Tillerson tinha um “pensamento diferente do seu”, com a mídia apontando a disposição do presidente de rasgar o acordo com o Irã como um desses desencontros.
Ninguém acha que o forte de quem encabece a CIA seja propriamente a diplomacia, mas Trump só teve palavras de elogio para Pompeo: “energia tremenda, tremendo intelecto, estamos sempre no mesmo comprimento de onda. É isso que eu preciso como secretário de Estado”. Trump nos últimos dias vinha sendo pressionado pela mídia de que seu governo “não estava preparado” para a cúpula com a Coreia “que poderia jamais ocorrer”, e que seu governo “estava um caos”.
Oficial aposentado do exército norte-americano formado em West Point e ex-deputado republicano, Pompeo é considerado um “falcão” – um “linha-dura” -, especialmente em relação ao Irã e Coreia. Ele também tem procurado minimizar a suposta “interferência russa” nas eleições presidenciais de 2016, que segundo a campanha da perdedora Hillary e a mídia, foi “para eleger Trump”.
Para a direção da CIA, em substituição a Pompeo, irá Gina Haspel, até então vice-diretora, e agora Trump já pode capitalizar seu lado feminista, além daqueles outros mais, digamos, notórios: “a primeira mulher escolhida para o cargo”. Entre as credenciais para a função, está a de dirigido uma prisão secreta da CIA na Tailândia, em que supostos jihadistas foram torturados.
Segundo especulações dos principais jornais norte-americanos, outros capos do governo Trump também estão na corda bamba, como o general McMaster. O chefe de gabinete de Trump, general John Kelly, recentemente retirou do genro Jared Kushner a credencial para receber o informe de inteligência diário, o que foi tido como uma “humilhação”. Na semana passada, o principal conselheiro econômico de Trump, o banqueiro Gary Cohn, se demitiu em função da sobretaxa das importações de aço e alumínio em, respectivamente, 25% e 10%.
O porta-voz de Tillerson jura que ele só soube da demissão na terça-feira, mas o Washington Post diz que ele foi informado na sexta-feira. Na segunda-feira, Tillerson acusou a Rússia de estar envolvida no ataque com suposto agente químico na Inglaterra, questão sobre a qual a Casa Branca, através da porta-voz, evitara algumas horas antes fazer menções diretas a Moscou. O próprio Trump disse na terça-feira que “assim que tivermos os fatos claros, se concordarmos com eles, vamos condenar a Rússia ou quem quer que seja”.
Talvez Tillerson tenha resolvido cair atirando, na medida em que o calcanhar de aquiles da presidência de Trump é a alegação de que existiria uma “colusão entre ele e a Rússia” (a farsa do Russiagate). Ele asseverou – sem evidentemente ter visto qualquer prova – que o envenenamento do ex-espião Sergei Skripal “veio claramente da Rússia” e certamente provocará “uma resposta”. O ainda secretário de Estado no momento da declaração disse não saber se o Kremlin sabia sobre o ataque, mas que o agente tóxico “não poderia ter vindo de qualquer outro lado”.
Cinicamente, Tillerson acrescentou que “nos indignamos que a Rússia pareça estar novamente envolvida em tal comportamento”. Provavelmente para seu epitáfio como secretário de Estado e salvo conduto para novo e lucrativo posto de executivo-mor, disse que “da Ucrânia à Síria – e agora Reino Unido – a Rússia continua a ser uma força irresponsável de instabilidade no mundo”. Na Câmara de deputados, a investigação conduzida pela maioria republicana foi encerrada com a conclusão de que “não houve colusão entre a Rússia e a campanha de Trump” – embora quanto ao resto, provavelmente os russos sejam, nas terras do Grande Irmão do Norte, culpados de absolutamente tudo.
A.P.