CARLOS FERNANDES (*)
Quando Jair Bolsonaro se espelha em Donald Trump, guardadas as devidas proporções e a aura quase folclórica das comparações, podemos tirar disso uma lição democrática para o nosso futuro e para as eleições de 2022 no Brasil.
Nos Estados Unidos, como se sabe, Trump caminha para a derrota. A sociedade norte-americana está indignada com o desprezo do seu presidente pela vida, pela saúde e pela ciência; com o obscurantismo e o deboche com que tratou a pandemia; com a canalhice e a irresponsabilidade que acirram o ódio, a desigualdade e o preconceito, e fizeram eclodir os conflitos raciais.
A chama da revolta está acesa contra o negacionismo, as teorias conspiratórias, o descaso com as questões sociais e ambientais como as mudanças climáticas, o confronto doentio com a imprensa e com as instituições democráticas, a necessidade de ter sempre como alvo inimigos reais e imaginários, resgatando inclusive um apelativo e extemporâneo sentimento anti-comunista.
Ficará evidente que um governo de bravatas, baseado no cultivo do ódio e na disseminação de fake news, pode até iludir muita gente por muito tempo, mas não vai enganar todo mundo por todo o tempo. O bolsonarismo tem prazo de validade.
Bolsonaro vê Trump como fonte de inspiração. Lá como cá, temos dois personagens caricatos, despolitizados, despreparados e desqualificados para ocupar a Presidência. Incapazes de promover a unidade necessária para tocar o governo com tranquilidade, incompetentes para promover um diálogo civilizado com a sociedade organizada ou de ter um mínimo de respeito pela oposição.
A onda de protestos, acompanhada pela queda acentuada de popularidade, mostra que Trump cavou a sua própria ruína, assim como Bolsonaro vai aos poucos se mostrando um fiasco. A rejeição a Trump chega na hora em que o eleitorado cobra um balanço da gestão presidencial e não enxerga nenhum resultado positivo nestes quatro anos.
Aqui no Brasil viveremos dias idênticos quando Bolsonaro tiver que apresentar as suas realizações. Não há o que mostrar.
Os índices da aprovação bolsonarista são pontuais, momentâneos, resultantes da conjuntura: é óbvio que a ajuda emergencial tem grande aceitação popular num país em crise. Nem poderia ser diferente. Mas nem isso foi ação de Bolsonaro, mas do Congresso.
Ficará evidente que um governo de bravatas, baseado no cultivo do ódio e na disseminação de fake news, pode até iludir muita gente por muito tempo, mas não vai enganar todo mundo por todo o tempo. O bolsonarismo tem prazo de validade.
Ainda estamos longe das eleições de 2022. Caberá a nós, brasileiros conscientes e democratas, aos movimentos cívicos, aos partidos de oposição, à sociedade que não se rendeu à ação das milícias bolsonaristas nas redes, nas ruas e nas urnas, buscar a unidade e o equilíbrio necessário para mostrar as mentiras e as contradições deste governo à maioria da população.
Não se trata mais de delimitar o campo ideológico em esquerda, centro ou direita, nem de opor os liberais aos conservadores, os progressistas aos reacionários. Nossa missão é muito maior. É resgatar o Brasil da mão de fanáticos e de lunáticos. É combater o obscurantismo. É promover a vitória da civilização contra a barbárie.
Bolsonaro é mais do mesmo. É vazio. É cria da velha politicagem, que nós combatemos nos governos anteriores e vemos renascida agora com nova roupagem. O que nós precisamos é resgatar a boa política, reaquecer a economia, reformar o país, resgatar a esperança do brasileiro que caiu no conto do mito que se revelou um mitômano.
Não se trata mais de delimitar o campo ideológico em esquerda, centro ou direita, nem de opor os liberais aos conservadores, os progressistas aos reacionários. Nossa missão é muito maior. É resgatar o Brasil da mão de fanáticos e de lunáticos. É combater o obscurantismo. É promover a vitória da civilização contra a barbárie.
(*) Carlos Eduardo Batista Fernandes é secretário Executivo de Abastecimento e Agricultura da Secretaria Municipal de Subprefeituras de São Paulo e presidente municipal do Cidadania na capital paulista. Reproduzido do Blog do Carlos Fernandes