Do mundo inteiro, estão chegando manifestações de completo repúdio a Trump, cuja bravata reverbera outras feitas recentemente, como ‘comprar’ a Groenlândia, retomar o Canal do Panamá e anexar o Canadá como “51º estado”.
Em reunião com o genocida Netanyahu, Trump anunciou que os EUA assumirão o controle e serão donos da Faixa de Gaza para torná-la “a Riviera do Oriente Médio” e, quanto aos 2,2 milhões de habitantes palestinos, terão de ir embora, limpeza étnica, para não atrapalharem os planos delirantes do fuhrer de Mar-a-Lago.
“Em vez de [os palestinos] terem que voltar e reconstruí-la, os EUA vão assumir a Faixa de Gaza, e vamos fazer algo com ela”, disse Trump, afirmando que seu país poderia liderar o processo de “reconstrução”.
Aliás, planos revelados na terça-feira ao mundo, tendo ao lado o genocida-mor, Bibi Netanyahu, sob investigação do Tribunal de Haia pelo massacre de 61 mil palestinos e obliteração de toda a infraestrutura de Gaza, de casas, a hospitais, escolas e centros de assistência, bombardeados até os escombros, e com gente dentro.
“Vamos tomar conta”, exultou-se Trump, já antevendo seu próprio grupo imobiliário e outros empreendedores amigos na jogada. “Ter aquele pedaço de terra, desenvolvê-lo, criar milhares de empregos. Vai ser realmente magnífico”, acrescentou Trump.
“As mesmas pessoas”, isto é, sua população palestina, “não deveriam estar encarregadas de reconstruir e ocupar a terra” e deveriam ser tangidas para outros países da região, conclamou. Uma apologia de uma Nakba laranja, para a qual Trump admitiu que chamaria os marines.
Para os palestinos, campos de concentração em cinco países vizinhos. “É um local em escombros. Se pudéssemos encontrar o pedaço certo de terra, ou vários pedaços de terra, e construir alguns lugares realmente bons com bastante dinheiro na região [para os palestinos], aí sim. Acho que seria muito melhor do que voltarem para Gaza”, disse Trump a repórteres no Salão Oval.
REPÚDIO GLOBAL
As declarações de Trump foram recebidas com uma rejeição que engloba os países árabes e islâmicos, todos os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, os países africanos, latino-americanos e do sudeste asiático, entidades de defesa dos direitos humanos e até aliados dos EUA na cumplicidade com Israel, como a Alemanha.
Sobre a “tomada de Gaza”, o senador oposicionista Chris Murphy afirmou que “[Trump] perdeu completamente a noção. Uma invasão dos EUA em Gaza levaria ao massacre de milhares de soldados americanos e a décadas de guerra no Oriente Médio. Parece uma piada de mau gosto e doentia”.
Assim, além de tentar rasgar a Constituição dos EUA, a alucinada administração norte-americana está ladrando aos quatro ventos que vai rasgar a Carta da ONU e instaurar a lei da selva nas relações internacionais justo nos 80 anos da derrota do nazismo. Isso, com os EUA em indisfarçável decadência, e inclusive meme da campanha de reeleição de Trump.
ESTRITAMENTE PROIBIDA
Na sede da ONU, a reação foi de estupor, uma “bomba nuclear” na lei internacional. “Qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”, afirmou o Escritório de Direitos Humanos da ONU em Genebra à agência de notícias Reuters. Aliás, Trump retirou os EUA do Comitê de Direitos Humanos da ONU.
A Rússia já manifestou seu ‘Nyet”, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, dizendo que só é possível um acordo no Oriente Médio “com base na solução de dois Estados”.
“Essa é a tese consagrada na resolução relevante do Conselho de Segurança da ONU, é a tese compartilhada pela esmagadora maioria dos países envolvidos nessa questão”. E concluiu: acreditamos que essa é a única opção possível.
O presidente Lula reagiu nesta quarta-feira (5) à bravata de Trump. “Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos. O que eles precisam é ter uma reparação de tudo aquilo que foi destruído, para que possam reconstruir suas casas, hospitais, escolas, e viver dignamente com respeito”, disse Lula.
A França reiterou sua oposição “a qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza, o que constituiria uma grave violação do direito internacional, um ataque às legítimas aspirações dos palestinos, além de um grande obstáculo à solução de dois Estados e um fator de desestabilização significativo para nossos parceiros próximos, Egito e Jordânia, assim como para toda a região”.
NÃO À LIMPEZA ÉTNICA
“Não permitiremos que os direitos do nosso povo, pelos quais lutamos por décadas e fizemos grandes sacrifícios para alcançar, sejam violados”, expressou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, segundo a Wafa. “O povo palestino não abrirá mão de suas terras, direitos e locais sagrados”.
Abbas acrescentou que qualquer tomada Gaza pelos EUA seria uma “grave violação do direito internacional” e reiterou seu apoio a uma solução de dois estados. alou.
“As declarações de Trump sobre seu desejo de controlar Gaza são ridículas e absurdas, e qualquer ideia desse tipo é capaz de incendiar a região”, disse o dirigente do Hamas, Sami Abu Zuhri.
“Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos se concretizem, e o que é necessário é o fim da ocupação e da agressão (israelense) contra nosso povo, não sua expulsão de sua terra”, ele acrescentou.
“O que a ocupação fracassou em fazer, nenhum governo norte-americano ou poder no mundo terá sucesso em implementar”, ele sublinhou.
Em reação à proclamação de Trump, a Arábia Saudita afirmou que “rejeita qualquer tentativa de deslocar os palestinos de sua terra. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, afirmou a posição do reino de maneira ‘clara e explícita’, que não permite qualquer interpretação sob nenhuma circunstância”.
INACEITÁVEIS
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, considerou “inaceitáveis” os arreganhos de Trump. Qualquer plano que deixe os palestinos “fora da equação” levaria a mais conflitos, insistiu.
“Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”, disse o chanceler Ayman Safadi.
Até a Alemanha, que tem sido extremamente conivente com Israel, disse que a Faixa de Gaza pertence aos palestinos, e sua expulsão seria inaceitável e contrária ao direito internacional. “Não pode haver uma solução acima das cabeças dos palestinos”, afirmou a ministra das Relações Exteriores Annakeba Baerbock.
A recaída de Trump em matéria de fazer a apologia da lei da selva nas relações internacionais parece dar razão ao recente artigo do chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, de que “‘America First’ ecoa o lema de Hitler ‘Deutch Uber Alles’”, em que adverte que uma política externa com base no excepcionalismo sabota a ordem internacional.