Casa Branca inclui no “projeto” o muro na fronteira com o México, mais 10 mil guardas, mudanças para expulsão sumária, caça em massa aos indocumentados etc.
Uma semana após as polêmicas sobre se é “imbecil” e se vai “começar a III Guerra Mundial”, o presidente Trump resolveu desviar a discussão para seus bodes expiatórios preferidos, os imigrantes ilegais, e enviou ao Congresso dos EUA sua ‘política de imigração’, que inclui o muro na fronteira com o México, mais 10 mil guardas, mudanças nas leis para expulsão sumária, caça em massa aos indocumentados, arrocho sobre as cidades santuário, uso do programa E-Verify pelas empresas para impedir que ilegais consigam empregos e chantagem aberta sobre os 800 mil que chegaram ainda crianças e acreditaram na legalização parcial de Obama. Avalia-se que existam nos EUA 11 milhões de sem-documentos, além de um número ainda maior de portadores legalizados do ‘green card’ e de naturalizados.
Aliás, a xenofobia não se limita aos ilegais, retratados no documento como ameaças à segurança nacional ou potenciais bandidos, chegando a declarar que a imigração legal “suprimiu os salários, alimentou o desemprego e esgotou recursos federais”. A proposta revoga ainda o atual sistema que favorece o reagrupamento familiar, em que cidadãos dos EUA e imigrantes legais podem patrocinar a vinda de pais, filhos, cônjuges e outros parentes próximos, o que seria substituído por um sistema com base em emprego. No relato do New York Times, a Casa Branca asseverou que “as mudanças solicitadas pelo presidente eram essenciais par a proteger os trabalhadores americanos da concorrência desleal e dissuadir o que eles descreveram como um fluxo interminável de imigrantes ilegais na país”. Também centrais para o objetivo “mudanças legais que eliminariam os direitos dos imigrantes ilegais para reivindicar o asilo”.
Outro alvo é o afluxo de menores desacompanhados da América Central, verdadeiros refugiados decorrentes da intervenção de décadas de Washington na região e da violência de gangues. Além da intensificação da repressão, a ‘política de imigração’ de Trump busca assegurar que a maioria dos pedidos dos refugiados que ingressam em solo norte-americano seja liminarmente negada, com sua expulsão imediata, sem sequer direito a um advogado. Para deportar com mais celeridade, Trump quer mais 3700 juízes de imigração e mais 1.000 advogados.
Dois dias antes do envio dessa famigerada política, o chefe da repressão aos imigrantes de Trump, Thomas Homan, havia ameaçado a Califórnia com uma caçada em massa aos ilegais, após o estado aprovar lei declarando-se ‘santuário’ em defesa desses imigrantes, cujo número é de mais de 2,3 milhões – a maioria de mexicanos. A lei estadual proíbe servidores estaduais de colaborarem com as investidas federais contra imigrantes.
Homan ameaçou ainda remover para outros estados os imigrantes ilegais capturados na Califórnia, o que dificultaria seu contato com as famílias, advogados e entidades. Centenas de cidades e condados no país inteiro já se oficializaram como santuários. Mas no Texas, sob governo republicano, uma lei estadual proibiu as cidades texanas de se tornarem santuários.
Os líderes democratas no Senado e na Câmara, Chuck Schumer e Nancy Pelosi, se disseram “chocados” com a proposição de Trump, depois de dias atrás, após almoço com o presidente, terem considerado estarem perto de um acerto que preservasse os chamados ”sonhadores” de Obama, que com uma mão provera uma anistia parcial, e com a outra expulsou 2,7 milhões de imigrantes. Se um acordo não for alcançado – o decreto de Obama foi revogado por Trump no mês passado – milhares de “sonhadores” que chegaram quando crianças começariam já em março a perder a proteção contra deportação e a permissão para trabalhar legalmente.
Em entrevista ao programa de rádio Democracy Now, de Amy Goodman, o advogado – e “sonhador” – Cesar Vargas, ele próprio prestes a perder a proteção legal, denunciou que o que Trump está buscando é “ampliar como deportar, deter e atingir mais imigrantes”. Ele acrescentou que no caso dos “sonhadores” está perigosamente sendo alimentada “uma narrativa de imigrante bom contra imigrantes malvados”, e “melhores educados versus crianças centro-americanas”. Vargas repudiou a chantagem sobre quem acreditou na lei de Obama, dizendo que Trump está “me pedindo para ser cúmplice em deportar minha própria mãe em troca de um cartão verde, e esse acordo tóxico é simplesmente um que não podemos aceitar”.
ANTONIO PIMENTA