A notória Gina Haspel comandou uma prisão secreta da CIA na Tailândia em 2002 e, posteriormente, destruiu vídeos da tortura, isto é, as evidências do seu crime
O presidente dos EUA Donald Trump, após trocar na secretaria de Estado Rex Tillerson pelo até então diretor da CIA, Mike Pompeo, escolheu para chefiar a agência de espionagem e assassinatos norte-americana sua atual vice-diretora, Gina Haspel, apontada por sites progressistas como a “rainha da tortura” e a bruxa perversa de Abu Ghraib, por atuar em torturas no Iraque em 2003, comandar uma prisão secreta na Tailândia em 2002 e, posteriormente, por ter destruído os vídeos da tortura, isto é, as evidências do seu crime.
Para Trump, tratou-se de um “marco histórico” – afinal, pela primeira vez, será uma psicopata do gênero feminino, e não do gênero masculino, que dirigirá a CIA. É Trump dando vazão ao seu lado ‘feminista’. Haspel comete crimes na CIA há mais de 30 anos.
A principal entidade de defesa das liberdades civis dos EUA, a ACLU exigiu que a CIA “desclassifique e libere todos os aspectos do registro de tortura por Haspel” antes que sua nomeação entre em efeito. O conceituado Centro de Direitos Constitucionais advertiu que “Gina Haspel deve ser processada e não promovida”.
“OLHO DE GATO”
Foi Haspel que chefiou a chamada prisão secreta Cat’s Eye (Olho do Gato) da CIA na Tailândia, o primeiro das dezenas de “buracos negros” em que a Agência cometeu tortura em larga escala no mundo inteira sob W. Bush após o 11 de Setembro. Sabe-se que ela ordenou e supervisionou os “interrogatórios” de acusados sequestrados pela CIA e transferidos ilegalmente para lá, os mais notórios deles Abu Zubaydan e Abdel al Nashiri.
Só Zubaydah foi submetido a “waterboarding” (afogamento) 83 vezes em um mês, foi espancado inúmeras vezes, impedido de dormir por dias a fio e, sob custódia de Haspel, perdeu o olho esquerdo. Num dos “interrogatórios”, chegou a ser dado como morto. Os dois continuam até hoje no campo de concentração de Guantánamo.
Os registros sigilosos da brutalização a que os dois foram submetidos no buraco dirigido por Haspel em 2002 vieram à luz no ano passado, em decorrência de uma ação sob a lei de liberdade de informação impetrada pela ACLU contra a CIA.
De 2003 a 2005, Haspel esteve a par do alcance da tortura cometida pela CIA, na qualidade de chefe de gabinete do diretor de operações encobertas, José Rodríguez. Foram Rodríguez e Haspel que deram a ordem ilegal em 2005 de destruir os vídeos da tortura de Zubaydah e al Nasshiri, conforme a Human Rights Watch – questão que gerou grandes debates no Congresso. O “programa” de tortura supliciou 119 presos, e incluía ainda coisas como “alimentação retal forçada”.
Se havia alguma substância na acusação de que Zubaydah e al Nashiri teriam sido, respectivamente, o cabeça do ataque ao navio de guerra Dole e o ‘primeiro alto membro da Al Qaeda capturado’, jamais se saberá, já que sob tamanhas barbaridades, presos acabam por “confessar” qualquer coisa para interromper o suplício.
Um psicólogo que teve acesso a al Nashiri o descreveu como “uma das vítimas de tortura mais danificadas que já examinara”. Há nove anos atrás, um dos advogados de Zubaydah afirmou que ele “tem dano cerebral permanente e sofre de dores de cabeça devastadoras”. “O menor ruído o deixa quase insano”, acrescentou, denunciando ainda que ele sofreu nos últimos dois anos cerca de “200 convulsões”, sua memória está se desvanecendo e já não lembra o rosto da mãe ou o nome do pai.
“NAS SOMBRAS”
Em 2013, Haspel chegou a chefiar por algumas semanas o Serviço Clandestino da CIA, mas acabou por ser afastada por alguém que percebeu que, dado o escândalo da tortura, era melhor deixá-la menos visível. Agora, a democrata Dianne Feinstein, ex-presidente do Comitê de Inteligência do Senado e da investigação sobre o programa tortura da CIA, diz que Haspel “foi uma boa vice-diretora e parece ter a confiança da Agência”.
Apesar de a investigação de 6 mil páginas do Congresso de 2014, das quais apenas um resumo veio a público, ter revelado toda a sordidez e insanidade do programa de ‘Rendição, Detenção e Interrogatório” em que Haspel teve um papel chave, e cuja premissa era que as Convenções anti-Tortura de Genebra não se aplicavam aos sequestrados pela CIA. Glamourizada por séries e filmes como “24 Horas, Homeland e A Hora Mais Escura”, a tortura passou a fazer parte do imaginário americano. Sob Obama, foi empurrada oficialmente para debaixo do tapete e ninguém foi punido – exceto quem a denunciou, como o ex-agente John Kiriakou.
ANTONIO PIMENTA