Em meio a declarações racistas sobre “Kung Flu”, guerra comercial, ataques à Huawei, sanções contra Hong Kong e com sua popularidade caindo nas pesquisas, o governo Trump resolveu enviar dois porta-aviões nucleares norte-americanos para o Mar do Sul da China, na mesma área em que forças navais chinesas faziam exercícios, numa aberta provocação. Manobras navais, como diria alguém, de boca de urna.
Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, denunciou as “segundas intenções” das manobras das forças navais norte-americanas tão longe de casa, e com a visível intenção de “criar divisões entre as nações da região e militarizar o Mar do Sul da China”.
“Os EUA enviaram intencionalmente uma mobilização militar para exercícios em larga escala no Mar do Sul da China e para exibir seus músculos”.
Zhao reiterou que as Ilhas Xisha são territórios indisputados da China, e realizar exercícios militares nas águas das Ilhas Xisha fere a soberania do país.
Apesar disso, ele considerou que a situação na região é “estável” – inclusive, embora não tenha dito, porque naquela área os porta-aviões norte-americanos estão inteiramente ao alcance dos mísseis afunda-porta-aviões chineses, de até 4.000 km de alcance e armados nuclearmente.
Noutra provocação anterior dos navios de guerra dos EUA, um porta-voz militar chinês comentou que, como o nome dizia, ali era o Mar do Sul da China, não o Caribe. Em 2018, navios de guerra chineses foram para cima dos navios norte-americanos, dispostos a uma colisão, quando estes se intrometeram em águas chinesas, até que recuassem, em imagens marcantes.
No fim de semana, os contatos com navios chineses foram “sem incidentes”, relatou o contra-almirante James Kirk, do USS Nimitz. “Eles nos viram e nós os vimos”, acrescentou. “Temos a expectativa de que sempre teremos interações profissionais e seguras”, disse. “Estamos operando em algumas águas muito congestionadas, muito tráfego marítimo de todos os tipos”.
O Pentágono chama sua intromissão de “defesa da liberdade de navegação”, quando é evidente que o que fazem é ensaiar eventual bloqueio naval à China. Para tornar ainda mais notório o caráter de provocação, o governo Trump também enviou um terceiro porta-aviões, que está operando próximo às Filipinas.
O comandante do USS Ronald Reagan, almirante George Wikoff, gabou-se de que a esquadra norte-americana havia passado o 4 de Julho, dia da independência dos EUA, “voando contra o relógio, centenas de investidas em um período de 24 horas”.
Os chineses não se mostram muito impressionados. A China tem uma ampla seleção de armas antinavio como os mísseis DF-21D e DF-26 ‘assassino de porta-aviões'”, assinalou o jornal Global Times, citando analistas.
“O Mar do Sul da China está totalmente ao alcance do Exército de Libertação Popular (PLA); qualquer movimento de porta-aviões dos EUA na região está na mira do PLA”. São mísseis de até 4.000 km de alcance, dotados de ogiva nuclear, capaz de fritar e afundar qualquer porta-aviões. E o jornal nem falou dos mísseis hipersônicos chineses.
Wang Yunfei, um oficial naval aposentado do Exército de Libertação Popular (PLA), disse que a China estava preparada para combater as “ameaças” representadas pelos EUA. “A China já experimentou várias vezes as ameaças representadas pelos EUA no mar com a implantação de vários porta-aviões”, disse Wang em um artigo no site da Phoenix Television, uma rede de televisão parcialmente estatal.
“A determinação da China em salvaguardar sua integridade territorial, soberania e interesses marítimos não vai vacilar [depois] da última ameaça representada pelos EUA. Os militares chineses estão preparados e lidarão com a [ameaça] com facilidade”, acrescentou Wang, conforme registrou o jornal de Hong Kong South China Monitor Post.
Wang disse que a China realizou exercícios com mísseis balísticos, mísseis ar-navio e mísseis antinavio no ano passado na região central do Mar do Sul da China para se preparar para confrontos contra porta-aviões de países estrangeiros.
A esquadra formada pelos USS Ronald Reagan e USS Nimitz inclui cruzadores e destróieres armados com mísseis guiados. 10 mil homens participaram da provocação. A operação envolveu também bombardeios estratégicos B-52.
Washington, que nunca ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) e não é parte das disputas que envolvem países da região do sudeste asiático, não tem porque se intrometer na questão das reivindicações históricas da China no Mar do Sul da China.
Com a incúria e obscurantismo do governo Trump diante da pandemia de coronavírus tendo levado o país a se tornar recordista mundial de casos e de mortos, a estratégia de acusar a China de ter “infectado os EUA” serve tanto para arrumar um conveniente bode expiatório, quanto de insuflar o racismo e xenofobia da base eleitoral do presidente bilionário.
O que fica patente no comportamento do conselheiro de Comércio da Casa Branca, Peter Navarro, que na véspera da entrada da esquadra norte-americana no Mar do Sul da China, despejou seu vomitório antichinês em público. “[Os chineses] esconderam o vírus. Eles enviaram centenas de milhares de cidadãos chineses para cá para semear e espalhar o vírus antes que soubéssemos”, delirou.