Embaixadores de 54 países africanos na ONU condenaram os comentários “escandalosos, racistas e xenófobos” do presidente dos EUA Donald Trump – que classificou o Haiti e nações africanas como “países de merda” durante uma reunião na Casa Branca – e exigiram uma retratação e pedido de desculpas. Também a União Africana, a organização que representa o continente africano, rechaçou os insultos de Trump.
“Por que precisamos de mais haitianos, por que temos todas essas pessoas de países que são um buraco de merda vindo aqui? Por que queremos toda essa gente da África aqui?”, declarou Trump na reunião na Casa Branca com congressistas na semana passada para discutir o endurecimento das leis de imigração em curso no país, conforme os jornais Washington Post, Los Angeles Times e agência France Presse. Antes, ele havia dito preferir imigrantes noruegueses.
No comunicado divulgado no sábado (13), após reunião de emergência na noite da véspera, os 54 embaixadores africanos na ONU se declaram “extremamente consternados” com os comentários de Trump. Eles denunciaram ainda a “contínua e crescente tendência dentro do governo dos EUA em relação à África e aos afrodescendentes, denegrindo o continente e as pessoas de cor”. Também manifestaram sua “solidariedade” ao Haiti e outros países atacados.
Em nome da União Africana, o porta-voz Ebba Kalondo classificou os impropérios de “francamente racistas” . “Não são apenas alarmantes para a União Africana por sua natureza racista, mas porque diante da verdade histórica do grande número de africanos que chegaram aos EUA como escravos, vai contra todos os comportamentos e práticas hoje aceitos”, afirmou.
A repulsa dos países africanos vem se somar à onda de repúdio mundial desencadeada pelas ofensas de Trump, que ampliam o isolamento internacional de seu governo. “Não há outra palavra a não ser racista para classificar isso. Não se pode chamar países ou continentes inteiros de ‘buracos de merda’, vetando às suas populações, que não são brancas, o ingresso nos EUA”, afirmou o porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville.
Dois senadores presentes na reunião confirmaram as palavras de baixo calão de Trump, e mesmo congressistas republicanos admitiram que a cobertura do que foi dito na reunião é “basicamente acurada”. Como não podia simplesmente dizer que nada falou, Trump veio a público asseverar que tinha sido “duro”, mas a expressão que usara não era “país buraco de merda”. Conforme a mídia, nas conversas privadas ele defende o que disse, alegando que é “o que muitos pensam, mas não falam”.
Cinicamente, em outra mensagem nas redes sociais, Trump asseverou jamais ter dito qualquer coisa “depreciativa” sobre os haitianos além do fato de que o Haiti é, “obviamente”, um país muito pobre e turbulento. Ele também jurou ter uma “relação maravilhosa com os haitianos”. Difícil é alguém acreditar, depois de ter passado a campanha presidencial chamando de “estupradores” e “bandidos” aos imigrantes empurrados para os EUA pelas guerras e golpes a partir de Washington e pela pilhagem sob ordens do FMI.
Mas como sua cara de pau não tem limite, em declaração à MSNBC no domingo à noite no seu clube de golfe na Flórida, Trump asseverou ao repórter ser “a pessoa menos racista que este já entrevistara”. Na sexta-feira, dezenas de haitianos marcharam em Miami para repelir as declarações ofensivas de Trump. Na capital Washington, ativistas projetaram a frase “buraco de merda” na fachada do Trump International Hotel, no centro. A entrada do hotel também foi brindada com projeção de emoticons de fezes.
Na verdade, o motivo da reunião na Casa Branca pelo lado de Trump era arrancar financiamento para seu muro na fronteira com o México – uma das principais promessas de campanha -, através de chantagens como o encerramento do programa DACA que legaliza parcialmente a situação de 800 mil imigrantes que chegaram aos EUA na infância e o anúncio da expulsão de 200 mil salvadorenhos (que têm 195 mil filhos nascidos nos EUA) até 2019, no país sob o programa Status de Proteção Temporária (SPT) desde 2001, após dois terremotos no país. 46 mil Haitianos e milhares de nicaraguenses também já estão na fila para expulsão ou improvável legalização.
Pelas redes sociais, uma cidadã da Noruega agradeceu a deferência de Trump: “Eu moro na Noruega e nunca me mudaria para os Estados Unidos. Nós temos sistema de saúde e educação superior gratuitos, cinco semanas de férias e oito horas de trabalho diárias. Não, Trump, obrigado”, afirmou a usuária do Twitter, mensagem que foi compartilhada centenas de vezes.
ANTONIO PIMENTA