
O assessor especial de Lula, Celso Amorim, afirmou que a ameaça feita pelos Estados Unidos de utilizar “meios militares” contra o Brasil é uma tentativa “inútil” de interferir no Supremo Tribunal Federal (STF) e salvar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Qualquer tentativa é inútil, porque eu acho que o Supremo agirá com independência”, disse o ex-chanceler em entrevista à GloboNews.
A ameaça foi feita por meio da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, que, em uma entrevista coletiva, falou que o presidente dos EUA, Donald Trump, “não tem medo de usar meios econômicos nem militares para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo”.
Celso Amorim destacou que a fala “foi em resposta a uma pergunta sobre o julgamento. A pergunta era sobre o julgamento e ela respondeu com essas hipóteses absolutamente fora da diplomacia”.
Segundo ele, a ameaça “é realmente algo muito preocupante, mesmo que seja bravata”. “Não ajuda a encontrar solução para as questões. É uma coisa que fica na mente do povo, não cria um clima favorável para qualquer tipo de negociação”, continuou.
O governo brasileiro espera “que haja respeito à decisão do Judiciário brasileiro, que é independente, cujos membros foram nomeados por governos variados. É um julgamento sério, importante, não é um problema menor, é uma ameaça de tentativa de golpe de Estado”.
“Espero que a decisão, qualquer que seja, seja respeitada e que não haja tentativa de interferência na Justiça brasileira. Acho que seria improdutivo, até do ponto de vista dos interesses econômicos, mas coisas mais improdutivas e mais improváveis, por vezes, têm ocorrido”, reforçou.
A ameaça ocorreu em meio ao julgamento, no STF, do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado. Donald Trump considera o processo uma “caça às bruxas” e ataque à liberdade de expressão, o que, segundo ele, justifica a taxação contra o Brasil.
Amorim falou que o que Trump e os bolsonaristas “consideram liberdade de expressão é a desregulamentação total para as big techs fazerem o que quiserem, desde campanhas políticas até pornografia”.
“Nós também somos a favor da liberdade de expressão, mas em um parâmetro ético razoável”, disse.
Ainda na entrevista, o ex-ministro das Relações Exteriores apontou que as tentativas de interferência dos EUA aproximam o Brasil de “qualquer parceiro que estiver disposto a desenvolver projetos conjuntos”.
Celso Amorim sublinhou a importância do intercâmbio militar com a China. “O Brasil está mandando pela primeira vez [para China] um adido do Exército de nível de general. Só tínhamos nos Estados Unidos”.
“Não sou ministro da Defesa, mas acho que é um sinal de cooperação. Da mesma maneira que há um interesse muito grande na Índia. Não há uma escolha, mas quem viu aquela parada [militar na China] sabe que eles teriam o que oferecer. Mas tem que ser em condições adequadas, de uma maneira que não crie dependência nossa a eles”