Trump “passou horas” com vítima menor “na minha casa”, registra e-mail de Epstein

Trump recepciona Epstein em sua mansão de Mar-a-Lago (NDTV)

Novos e-mails do pedófilo milionário Jeffrey Epstein, divulgados nesta quinta-feira (13) por deputados democratas, caíram como uma granada no Salão Oval, trazendo à luz as tortuosas ligações entre o criminoso sexual e o presidente Donald Trump, a ponto de um deles registrar que Trump “sabia sobre as garotas” [traficadas]; outro, que “Trump é o cachorro que não latiu” porque “[a vítima] passou horas em minha casa com ele e ele nunca foi mencionado”; e que sabia “quão sujo Trump é”.

O e-mail do “cachorro que não latiu” é de 2011, quando Trump ainda era estrela de reality show.

Epstein, caído em desgraça e preso por pedofilia e tráfico de menores, depois de uma longa convivência com figurões como Trump, Bill Clinton, Elon Musk, Bill Gates, o príncipe britânico Edward e as altas rodas de Wall Street, foi encontrado morto em sua cela em 2019, no que a polícia chamou de “suicídio” e muitos consideram uma queima de arquivo.

Em 2008, ele fora preso na primeira vez, mas se safou graças a um acordo em que virtualmente teve uma ala à sua disposição em Palm Beach e podia sair todos os dias, alegando que não sabia que a prostituta que solicitara era menor.

Um acordo com cláusulas confidenciais e anulado em 2016 por um juiz distrital da Flórida, e desencadeando o início do fim para Epstein, depois das revelações feitas pelo Miami Herald.

São mais de 20 mil páginas de documentos do espólio de Epstein, como parte de uma investigação do Comitê de Supervisão da Câmara dos Estados Unidos e reabrem a discussão sobre a intimidade e cumplicidade entre o agora presidente e o pedófilo. De acordo com o relatório do comitê, a equipe técnica removeu nomes e informações que pudessem identificar as vítimas.

Assim, a Casa Branca sequer teve tempo para comemorar o fim do shutdown, e volta à ordem do dia em Washington o escândalo do acobertamento de Epstein, com o agravante de que um setor expressivo da base MAGA exige a verdade.

PÂNICO NO SALÃO OVAL

Em pânico, a entourage do presidente acusa a oposição de “politização”, asseverando tratar-se de uma tentativa de “difamar Trump”.

A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que a vítima citada nos e-mails seria Virginia Giuffre, que morreu em abril deste ano, aos 41 anos, e mais conhecida pela foto, quando menor, ao lado do príncipe Andrews. A informação não havia sido fornecida pelo comitê.

“Essas histórias são tentativas de má-fé para distrair o público das conquistas históricas do presidente Trump. Qualquer americano com bom senso vê que isso é uma farsa”, insistiu Leavitt.

Giuffre foi uma das principais denunciantes do esquema de exploração sexual de Epstein, tendo sido aliciada por Ghislaine Maxwell quando era adolescente e trabalhava no clube Mar-a-Lago, propriedade de Trump em Palm Beach. Maxwell está na prisão, condenada a 20 anos de prisão por tráfico sexual e aliciamento de menores.

Postumamente, Giuffre acaba de publicar um livro de memórias, “Garota de Ninguém”, numa tradução livre, sobre a devastação a que foi levada sob o ring de pedófilos das altas rodas dos EUA.

Ao ter que reabrir a Câmara federal para votar o fim do shutdown, o presidente republicano da casa também se viu forçado, como dano colateral, a dar posse à deputada democrata Adelita Grijalva (Arizona).  E, com isso, a bancada democrata alcançou o total de votos para exigir a votação da proposta de abrir os arquivos de Epstein.

Arquivos cuja divulgação o governo Trump vem há meses tentando barrar, depois de a questão ter se tornado uma das principais promessas de sua campanha à reeleição, com ele chegando a considerar “muito estranho” que uma lista de clientes de Epstein nunca tivesse sido divulgada.

REVIRAVOLTA

Depois, o discurso foi mudando. Depois de a procuradora-geral de Trump, Pam Bondi, dizer que uma lista de clientes de Epstein estava em sua “mesa para ser revisada”, o Departamento de Justiça afirmou não ter encontrado provas da sua existência.

Em julho, Trump chegou a chamar uma suposta lista de clientes de Epstein de “farsa“ e “bobagem“, atribuindo-a à “esquerda radical” e frustrando seus próprios apoiadores.

Segundo o Wall Street Journal, o presidente foi avisado em maio pelo Departamento de Justiça que seu nome aparecia nos documentos de Epstein. Reportagem classificada pela Casa Branca como “fake news”.

De acordo com a mídia dos EUA, caso a moção seja aprovada na Câmara, ela deverá ser barrada no Senado. Na hipótese de aprovação nas duas casas, Trump poderia vetar a proposta — só que teria que arcar com enorme desgaste político e moral.

TRUMP, EPSTEIN E O “SEGREDO MARAVILHOSO”

É notório que por duas décadas Trump e Epstein freqüentavam as mesmas altas em Nova Iorque e Palm Beach, havendo controvérsias sobre quando e porque se afastaram. Epstein foi acusado de abusar de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual.

Segundo a acusação, o bilionário pagava para que meninas fossem até imóveis dele e realizassem atos sexuais. As menores também eram contratadas para recrutar outras garotas para a mesma finalidade.

Dezenas de mulheres acusaram Epstein de forçá-las a prestar serviços sexuais a ele e a seus convidados em uma ilha particular no Caribe, a Ilha Pedô, e nas casas que ele tinha em Nova York, na Flórida e no Novo México.

Em julho, The Wall Street Journal divulgou uma mensagem de Trump a Epstein, pelo aniversário de 50 anos do pedófilo, que era parte de um álbum comemorativo organizado por Maxwell, em 2003, datilografada dentro da silhueta de uma mulher nua desenhada a mão.

O texto termina com a frase: “Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.” E a assinatura famosa “Donald” abaixo da cintura da figura. Trump processou o WSJ, chamando a carta de “uma coisa falsa”.

Posteriormente, The New York Times relatou que, uma década antes, Trump organizou uma festa cheia de mulheres jovens, em sua casa, onde Epstein era o outro único convidado.

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