Em coletiva de imprensa na Casa Branca, na terça-feira (19), o presidente Donald Trump ameaçou com um possível cancelamento de voos que vão do Brasil para os Estados Unidos. Sem nenhuma referência à situação de seu país que, segundo dados fornecidos pela Universidade Johns Hopkins, é o epicentro global do coronavírus com 1.537.584 casos confirmados e 92.387 falecidos, Trump disse que “não quero que as pessoas venham aqui e infectem o nosso povo (…) O Brasil está com alguns problemas, sem dúvida”.
E garantiu que está contribuindo com seu amigo Bolsonaro: “Também não quero pessoas doentes lá. Estamos ajudando o Brasil com ventiladores”. Trump não deu detalhes de como funcionaria esse envio de respiradores ao Brasil e, até a quarta-feira, 20, não havia nenhum plano anunciado pelo governo norte-americano nesse sentido.
Pelo contrário. Há pouco mais de um mês, em 14 de abril, o secretário de Estado Mike Pompeo disse que os EUA ajudariam o Brasil com insumos somente quando a situação melhorasse entre os americanos – o que não aconteceu.
“Cada país, como é natural, dará prioridade à sua própria população, mas os EUA asseguraram ao Brasil uma isenção da Lei de Produção de Defesa. Essa isenção garante ao Brasil a possibilidade de aquisição de respiradores artificiais, até um certo limite, caso o Ministério da Saúde tenha interesse em adquirir equipamentos fabricados nos EUA”, justificou o indicado à embaixada do Brasil em Washington, Nestor Forster.
Em relação aos voos, Forster repetiu que não há até agora nenhuma decisão sobre o cancelamento das rotas ou imposição de restrições aos brasileiros que quiserem viajar aos EUA.
Jair Bolsonaro, com receio de que uma atitude desse tipo por parte de Trump mostrasse que os EUA não ligam para seu governo, nem para sua subserviência, já tinha agido para tentar convencer a administração norte-americana de que os voos entre os países já foram reduzidos pelas companhias aéreas e têm servido apenas para repatriar brasileiros, ou seja, uma medida de suspensão oficial não seria necessária.
Na segunda (18), o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou o terceiro país no mundo com mais casos de coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos e da Rússia.
Durante a conversa com os jornalistas, Trump disse que seu país está na liderança desse ranking apenas porque tem uma grande população e tem feito mais testes de Covid-19
“Quando nós temos muitos casos eu não vejo isso como uma coisa ruim, eu vejo, em certo aspecto, como uma coisa boa, porque significa que estamos testando melhor”, afirmou ele. “Eu vejo como uma medalha de honra. É uma grande mostra da nossa capacidade de testagem e de todo o trabalho que muitos profissionais estão fazendo”.
O presidente americano também voltou a afirmar que sua principal preocupação com o aumento de casos no Brasil é com a Flórida, que costuma receber muitos brasileiros.