Em um comício realizado na quarta-feira à noite em Greenville, na Carolina do Norte, o presidente Donald Trump deleitou-se com o coro da turba que o assistia, “envie-as de volta”, após durante 20 minutos repetir os insultos (v. https://horadopovo.org.br/trump-insulta-deputadas-da-oposicao-voltem-aos-seus-paises-rotos/ ) que já tuitara no domingo, contra as deputadas que repudiam sua xenofobia e racismo e exigem o fechamento dos campos de concentração superlotados de imigrantes.
Uma cena tão abertamente cheirando a fascismo que um deputado republicano presente no comício, Mark Walker, achou conveniente se distanciar, postando no Twitter que “isso não pode ser nosso canto de campanha, como fizermos com o ‘cadeia nela’ (…) Não podemos nos definir por isso”.
A tuitada de domingo de Trump mandando quatro deputadas, três delas nascidas nos EUA e uma naturalizada, “de volta para seus países quebrados e infestados de criminosos”, já fora repudiada em inédita votação da Câmara dos Deputados federal em Washington.
As agredidas são: Ayanna Pressley, negra de Ohio; a nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha; Rashid Tlaib, de Detroit, de ascendência palestina; e Ilhan Omar, eleita pelo Minnesota, que veio criança da Somália e é de fé muçulmana.
No comício, Trump voltou a dizer que quem condena a xenofobia e o racismo “é anti-americano, odeia o país”, estimulando a sanha da turba com mentiras como a de que Omar “se orgulhava da Al Qaeda” e “tinha compaixão pelo Estado Islâmico”. Também proferiu insultos contra Alexandria Ocasio-Cortez, de quem disse, apontando para alguém no comício, que “ela acha que você e eu somos lixo”.
“EU NÃO, ELES QUE FIZERAM”
Diante da repercussão, nas redes sociais, da fantochada com o “envie-as de volta”, Trump alegou que “eu não disse isso, eles fizeram isso”.
A deputada Omar respondeu ao presidente lúmpen-bilionário postando um vídeo em que está falando no Congresso. “Eu estou no lugar onde eu pertenço, a casa do povo, e você vai ter que lidar com isso!”
Ela compartilhou ainda o célebre poema de Maya Angelou “Still I Rise” (Eu Ainda Me Levanto), que fala sobre ser oprimida e se erguer. Angelou participou do movimento pelos direitos civis e foi amiga de Martin Luther King e Malcom X.
Para não pairar dúvida sobre o que pretende, Trump disse no comício a seus seguidores que “se você não gosta deles, deixe-os ir” – isso, após passar o fim de semana aterrorizando famílias de imigrantes com caçada porta a porta em nove das principais cidades do país.
A reação da turba explicita a lavagem cerebral em curso sobre os deserdados da desindustrialização dos EUA e da pauperização de milhares de comunidades país afora, para que descarreguem sua raiva não contra os megaespeculadores e os magnatas, ou contra demagogos cretinos como Trump, mas contra imigrantes pobres, mais pobres do que eles, e que estão sendo agora tornados em convenientes bodes expiatórios.
TRUMP E ‘OS CINCO DO CENTRAL PARK’
Vem de longe o racismo que Trump confirma a cada dia e a cada tuitada que faz. No caso dos “Cinco do Central Park” de 1989 – que virou série da Netflix -, quatro adolescentes negros e um latino-americano condenados por um crime hediondo que não cometeram – o estupro e espancamento até à morte de uma jovem branca que corria no parque -, Trump publicou anúncios de página inteira na época pedindo a pena de morte para os garotos.
Eles tinham entre 14 e 16 anos e haviam sido forçados pela polícia a confessar. Mais de uma década depois, em 2002, o verdadeiro culpado apareceu e só então os inocentes foram libertados.
Na campanha eleitoral de 2016, ao ser perguntado pela CNN sobre isso, Trump não se desculpou, limitando-se a dizer que “eles disseram que eram culpados”, “a polícia que primeiro realizou a investigação disse que eles eram culpados” e acrescentando ser “um escândalo” que o caso fosse fechado com tantas provas contra.
A.P.