O presidente norte-americano Donald Trump anunciou nesta terça-feira (8) que rompeu com o Acordo Nuclear com o Irã e que irá impor “o mais alto nível de sanções econômicas” sobre o país persa, violando o acordo nuclear internacional – assinado por mais cinco partes – em vigor e uma resolução da ONU, rompendo com os aliados europeus signatários e catapultando a crise no Oriente Médio para novo patamar de gravidade. Ele assinou uma ordem executiva (decreto presidencial) reimpondo sanções sobre qualquer companhia estrangeira que continuar a fazer negócios com o Irã. Com isso, Trump deixa os EUA amplamente isolados.
Os líderes da Grã-Bretanha, França e Alemanha reagiram ao anúncio, declarando seu “continuado compromisso” com o acordo nuclear com o Irã e expressando sua “consternação e preocupação”. Eles instaram os EUA a “assegurar que as estruturas do JCPOA [acordo nuclear, na sigla em inglês] possam permanecer intactas e a evitar tomar ação que obstrua sua completa implementação por todas as outras partes do acordo”. Pelo acordo nuclear, em troca da suspensão de sanções, o Irã reduziu drasticamente seu programa nuclear e foi submetido ao mais rígido regime de controle já executado pela Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) a qualquer país.
O documento europeu foi divulgado pelo escritório da primeira-ministra Theresa May, após telefonema ao presidente francês Emmanuel Macron e à primeira-ministra alemã, Ângela Merkel. “Nossos governos permanecem comprometidos a assegurar que o acordo seja mantido e trabalharão com todas as partes que permanecem no acordo para assegurar sua manutenção, incluindo por assegurar a continuação dos benefícios econômicos ao povo iraniano que estão ligados ao acordo”.
Por sua vez, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, afirmou que “juntos com o resto da comunidade internacional, vamos preservar este acordo nuclear”. “Estou particularmente preocupada pelo anúncio esta noite de novas sanções”, acrescentou. “Deixem-me concluir com uma mensagem aos líderes e cidadãos iranianos, para cada um e para todos: não vamos permitir que ninguém desmantele este acordo, que é uma das maiores conquistas da diplomacia já alcançadas e que nós construímos conjuntamente”.
A chancelaria russa afirmou que “não há – nem pode haver – fundamento para romper com o JCPOA (o acordo nuclear com o Irã). O plano mostrou sua completa eficiência”. “Os EUA estão minando a confiança internacional na AIEA”. Questão sobre a qual também se manifestou Macron, que advertiu que “o regime de não-proliferação está em jogo”.
Rússia e China já haviam alertado na semana passada contra o rompimento do acordo e declarado sua determinação de assegurá-lo. Também o secretário-geral da ONU, o português Antonio Guterres, havia se manifestado em defesa da preservação do acordo, que considerou uma “enorme vitória diplomática”. Ele havia afirmado ainda que o desrespeito ao acordo traria risco de guerra numa região já sob enormes perigos.
O presidente iraniano Hassan Rouhani afirmou que “de agora em diante isto é um acordo entre o Irã e cinco países. De agora em diante, o P5+1 perdeu seu 1. Vamos esperar e ver como os outros reagem”. Ele lembrou que “por 40 anos temos dito e repetido que o Irã sempre cumpre seus compromissos e que os EUA nunca cumprem”. “Nossa história de 40 anos nos mostra que os americanos têm sido agressivos em relação ao grande povo do Irã e à nossa região”, e citou o golpe da CIA de 1953 que derrubou o governo Mosaddegh. “Isto é uma guerra psicológica, e não vamos permitir que Trump vença”.
Nos EUA, a retirada do acordo por Trump foi condenada pelo ex-presidente Barack Obama, que participou das negociações para sua assinatura. Pesquisa de opinião divulgada hoje nos EUA pela CNN aponta que 67% dos americanos acreditam que os EUA não deveriam se retirar do acordo com o Irã.
Os signatários do chamado acordo 5+1 são, de um lado, o Irã, e, do outro, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha (e com a União Europeia também aderindo), depois respaldado pela resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU. Pelo acordo, o Irã reduziu seu estoque de urânio de baixo enriquecimento por 98%, concordou em desligar 13.000 das suas centrífugas, deixando apenas as 5.000 mais antigas máquinas em operação, cessou todo o enriquecimento de urânio em Fordow, e foi posto sob o regime de monitoramento mais rígido já aplicado pela AIEA, que desde 2016 já atestou por 11 vezes que Teerã cumpre o acordo.
Em sua declaração contra o gesto de Trump, os líderes europeus pediram ao Irã que continue cooperando integralmente com os inspetores da AIEA e que o programa nuclear iraniano permaneça “pacífico e civil”. Sob as sanções incapacitantes impostas por Washington e aceitas na época pelos europeus, o Irã foi impedido até de vender petróleo ao Ocidente, teve reservas no exterior confiscadas ilegalmente e bancos e empresas que faziam negócios com o país eram pesadamente multados ou sancionados. Recentemente, o Irã passou a adotar o euro na comercialização do seu petróleo.
A.P.