Entre as acusações formalizadas, a participação na invasão do Capitólio
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump virou réu por tentar fraudar o resultado das eleições de 2020 e conspirar para a invasão do Congresso dos EUA e terá que se apresentar a Justiça na quinta-feira (3).
A acusação a Trump foi formalizada pelo Departamento de Justiça na terça-feira (1), em documento de 45 páginas em que o procurador especial Jack Smith aponta seu “ataque sem precedentes” à democracia e ao processo eleitoral nos EUA.
“Uma conspiração de cinco partes” para se agarrar ao poder após perder a eleição de 2020, em que usou “conscientemente” falsas alegações de fraude eleitoral “para subverter os resultados eleitorais legítimos”, sublinhou o procurador especial.
De acordo com Smith, o ex-presidente sabia que eram mentiras as suas alegações a respeito das eleições, mas as repetia mesmo assim “para criar uma atmosfera intensa de falta de confiança e raiva e, assim, erodir a confiança pública na condução das eleições”.
“O ataque de 6 de janeiro de 2021 foi um ataque sem precedentes à democracia, foi motivado por mentiras do réu porque ele não queria a contagem e a certificação do resultado das eleições”, afirmou o procurador especial.
Ainda segundo a acusação, Trump “pressionou as autoridades em certos Estados a ignorar o voto popular; privar milhões de eleitores; demitir eleitores legítimos; e, finalmente, causar a verificação e votação de eleitores ilegítimos em favor do réu”.
O ex-presidente é denunciado, ainda, por organizar uma lista fraudulenta de eleitores em “sete estados-alvo”, que incluem Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Novo México, Pensilvânia e Wisconsin; “tentar usar o poder do Departamento de Justiça para conduzir investigações falsas de crimes eleitorais”; “tentar fazer com que o então vice-presidente Mike Pence alterasse de forma fraudulenta os resultados das eleições”.
E de, quando a pressão sobre Pence falhou, “dizer falsamente” aos manifestantes que o vice-presidente “tinha autoridade e poderia alterar os resultados das eleições” e explorar a violência de 6 de janeiro para atrasar a certificação do vencedor das eleições.
O indiciamento se deve aos fatos amplamente conhecidos da invasão do Congresso dos EUA por uma turba aliciada e insuflada por Trump, na tentativa de virar a mesa e fraudar o resultado da eleição – sua derrota para o democrata Joe Biden-, em paralelo à massiva divulgação de mentiras sobre o processo eleitoral.
A invasão estarreceu o mundo, que viu hordas de trumpistas, racistas e fascistas em geral assaltando o Capitólio aos gritos de “enforquem Pence”, enquanto senadores e deputados tinham que se esconder. Durante horas, o Pentágono ficou mudo sobre o envio da Guarda Nacional para proteger o Congresso. Trump, segundo testemunhos, teve de ser contido por assessores para não ir pessoalmente à arruaça, e acabou assistindo tudo desde a Casa Branca.
Segundo Trump, ele é “inocente” e está sendo vítima de “perseguição política” por ser novamente candidato, além de cerceado em sua “livre expressão” de fake news e mentiras. Já para seu advogado, John Lauro, “o discurso político foi agora criminalizado” em um dia “terrivelmente trágico” para os EUA.
Essa é a terceira acusação formal contra Trump. O promotor especial pediu um julgamento rápido. A juíza do caso, Tanya Chutkan, é tida como a que determinou as sentenças mais rígidas para os invasores do Capitólio.
Em março, Trump foi acusado por fraude comercial. Em julho, foi acusado na investigação sobre documentos confidenciais guardados em sua mansão em Mar-a-Lago. Uma quarta acusação por tentativa de reverter o resultado da eleição presidencial na Geórgia deve ocorrer em breve. A promotoria do Estado disse que já revisou todas as provas, e a decisão será anunciada no dia 1º de setembro. Há ainda o processo por pagamento a uma ex-atriz pornô por seu silêncio as vésperas da eleição de 2016.
Seis co-conspiradores também foram acusados na terça-feira, mas os nomes ainda não foram divulgados. O ex-prefeito da cidade de Nova York Rudy Giuliani foi identificado por vários meios de comunicação como sendo o “co-conspirador 1”, acusado de espalhar “alegações conscientemente falsas”. Um porta-voz de Guiliani alegou ao The Washington Post que a acusação criminaliza o ato de fazer “perguntas sobre os resultados das eleições de 2020”.
Segundo uma pesquisa recém divulgada, Trump e Biden estão empatados nas intenções de voto para 2024. Entre os republicanos, é quase certa a indicação de Trump, já que ele tem mais do triplo das intenções de voto do segundo melhor colocado, o governador da Flórida, Ron DeSantis.