“As guerras comerciais são boas e fáceis de vencer”, tuitou o presidente Donald Trump, sobre o anúncio, com uso de uma lei de 1962 e em nome da “segurança nacional”, de imposição de tarifa de 25% sobre as importações de aço e 10% nas de alumínio. A medida causou frenesi entre os entreguistas no mundo inteiro. Desalentados com ‘o faça o que eu digo, não faça o que eu faço’ de Washington, a União Europeia, o Canadá, Japão e China reagiram prometendo medidas de retaliação e questionamentos à Organização Mundial do Trabalho (OMC).
Ainda sobre a questão, Trump chegou a dizer que “se alguma vez tivermos um conflito, não queremos comprar aço [de] um país em que estamos lutando”. Em janeiro, os EUA já haviam taxado as importações de painéis solares e de máquinas de lavar da China e da Coreia do Sul em até 50%. Como se sabe, os países centrais foram protecionistas quando tinham indústrias débeis, e passaram a raivosos arautos do “livre comércio” quando chegou a hora de exportar capitais e achacar países.
A própria eleição de Trump é um sintoma de que a plutocracia ianque foi longe demais na exportação da sua base produtiva para além mar, em busca de salários de fome, com os crescentes déficits comerciais sendo a outra face da opção por imprimir dólares a rodo do ar tênue e reciclar na ciranda de Wall Street os dólares recebidos pelos países que para lá exportavam e ainda os petrodólares.
O déficit no comércio internacional de bens e serviços dos EUA aumentou para US$ 566,6 bilhões no ano passado, 12,1% a mais que em 2016 e o maior em nove anos, segundo o Departamento de Comércio norte-americano.
Agora, até os smartfones não são made in USA, mas made in China, e boa parte de tudo que o país consome é importado. De volta ao aço, como disse num raro momento de lucidez o bilionário presidente, “nossa indústria está em mau estado. Se você não tem aço, não tem país!”
Ainda assim, essa “redescoberta ianque do protecionismo” é no essencial um projeto de salva-monopólios decadentes, cuja produtividade e, crescentemente, sua tecnologia, não dão conta do embate com a China, União Europeia e Japão (além da Rússia …) – apesar de todas as arengas em “defesa dos empregos americanos”.
No magro quadro da “recuperação pós-crash”, crescimento pífio e metástase da especulação em vigor, já há quem tema que “a guerra comercial fácil” de Trump reedite a desastrosa política do “empobreça seu vizinho” dos anos 1930. A Comissária de Comércio da União Europeia, Cecília Mamström, alertou sobre “um efeito dominó perigoso”.
O presidente da Comissão Europeia, o Merkel-boy Jean-Claude Juncker, revelou que estão sendo traçados planos de resposta, com o aumento de tarifas sobre motos Harley-Davidson, bourbon de Kentucky e blue jeans – produzidos em estados de origem de políticos republicanos. “Nada disso é razoável”, admitiu Juncker, acrescentando que “a razão é um sentimento que é distribuído de forma muito desigual neste mundo”.
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, disse que as tarifas dos EUA teriam um grande impacto na economia europeia e em várias siderúrgicas francesas, apontando que os setores do aço e alumínio estavam em estado “particularmente frágil”. “Só haverá perdedores numa guerra comercial entre a Europa e os EUA”, assinalou.
O governo do Canadá se mostrou estupefato pelas exportações de aço canadenses para os EUA (é o maior exportador, com 17%) serem consideradas “ameaça à segurança nacional” norte-americana. Já o ministro japonês do Comércio, Hiroshige Seko, disse não ter visto “absolutamente qualquer impacto na segurança americana” das importações japonesas de aço e alumínio. Conforme a Bloomberg, a China está estudando responder com alta de tarifas sobre a importação de soja e de sorgo dos EUA. O Brasil, que direciona 34% das suas exportações de aço para os EUA, também foi atingido.
Internamente aos EUA, as reações ficaram divididas, com aplausos e também advertências de que os preços mais elevados do aço e alumínio nos EUA tornariam menos competitivos os principais setores da indústria, como automóveis, linha branca e aviões. Divisões também no próprio governo Trump, com o secretário do Comércio Wilbur Ross a favor da alta das tarifas e da eliminação das exportações via terceiros países, e o principal consultor econômico de Trump, Gary Cohn, segundo o site Político ameaçando demitir-se. A mesma fonte asseverou que a decisão foi precedida de várias semanas de debates acalorados, descrito por um participante como “caos absoluto”. Após a posse, Trump retirou os EUA das negociações do Tratado Transpacífico (TPP), esvaziando-o, e avisou Canadá e México que, se não fizerem o que ele quer, o Nafta também vai para o vinagre. Também exigiu que os países europeus paguem pelo menos 2% do PIB pela ocupação da Otan.
A.P.