“Me arranja 11.870 votos aí”. Acusações criminais contra o ex-presidente já são 91.
O ex-presidente Donald Trump foi indiciado na noite de segunda-feira (14) por um tribunal da Georgia por tentar corromper a eleição de 2020 ao subverter a vitória de Joe Biden no Estado. O que é visto como o mais amplo conjunto de acusações criminais apresentado contra ele até agora, e referente ao episódio que se notabilizou pelo telefonema de Trump à autoridade eleitoral do Estado, pressionando por desfazer o resultado que favorecia Biden, “arrumando” 11.870 votos para a virada de mesa.
Favorito para a indicação a candidato presidencial republicano na eleição do próximo ano, com essas novas acusações vão a 91 o total de acusações criminais que Trump enfrenta. 18 cúmplices, entre eles o ex-prefeito de Nova York e advogado, Rudy Giuliani, e o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, foram igualmente indiciados.
“Trump e os outros réus arrolados nesta acusação se recusaram a aceitar que ele perdeu e, consciente e voluntariamente, se juntaram a uma conspiração para mudar ilegalmente o resultado da eleição em favor de Trump”, disse a acusação, apresentada pela promotora distrital do condado de Fulton [que inclui a maior parte de Atlanta], Fani Willis.
Como elementos que consubstanciam a alegação, há a tentativa de Trump de reunir listas falsas de eleitores presidenciais [para o Colégio Eleitoral] para inviabilizar a transferência de poder; a pressão de Trump e Giulani sobre as autoridades eleitorais da Geórgia; a violação de equipamento eleitoral sensível por adeptos de Trump em Coffee County; e a campanha de assédio e falsas alegações contra Ruby Freedman, uma trabalhadora eleitoral de Atlanta.
Também a carta pressionando os legisladores da Geórgia a reconsiderar a certificação de uma lista de eleitores pró-Trump; as falsas alegações de fraude eleitoral em documentos judiciais associados a um processo de última hora de Trump para reverter os resultados na Geórgia; e a campanha de pressão sobre o então vice-presidente Mike Pence para derrubar sozinho a eleição em 6 de janeiro de 2021, quando o Congresso se reuniu para contar as cédulas do Colégio Eleitoral. E, claro, o infame telefonema em 2 de janeiro de 2021, no qual Trump pressionou o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a “encontrar” votos suficientes para que revertesse sua derrota.
Muitas dessas questões já estavam estabelecidas nas investigações do Comitê seleto da Câmara sobre o 6 de janeiro e, também, na recente acusação federal feita pelo procurador especial Jack Smith. Segundo o portal Politico, a acusação de Willis “foi de tirar o fôlego em seu escopo e é a primeira a acusar o círculo de facilitadores de Trump de crimes por seus esforços para ajudar a facilitar sua tentativa de permanecer no poder, apesar de perder a eleição”.
A nova acusação exige que Trump e os outros réus, incluindo seu ex-advogado Rudy Giuliani, se entreguem às autoridades da Geórgia até 12h de 25 de agosto.
É o quarto indiciamento, com a mídia dos EUA aventando que Trump poderá ter de passar boa parte do ano eleitoral de 2024 nas barras dos tribunais. Ele enfrenta acusações do Estado de Nova York por falsificar registros comerciais para encobrir pagamento pelo silêncio em um caso com uma atriz pornô; acusações federais na Flórida da equipe de Smith por guardar ilegalmente segredos militares classificados em sua mansão em Mar-a-Lago; e as acusações federais em Washington, DC, também da equipe de Smith, por seu esquema eleitoral.
Em comunicado, a campanha de Trump, que considera a invasão do Capitólio como muito normal e muito democrática, disse que os indiciamentos do chefe, que atribuiu aos “líderes democratas”, são “uma grave ameaça à democracia americana” e tentativa direta “de privar o povo americano de sua escolha legítima de votar para presidente”.
O comparsa Giuliani não deixou por menos: “é apenas o próximo capítulo de um livro de mentiras com o objetivo de incriminar o presidente Donald Trump e qualquer pessoa disposta a enfrentar o regime dominante”.
Trump, que se declarou inocente nos três casos anteriores, certamente fará o mesmo na Geórgia. Alegará que seu ataque à integridade da eleição do estado sulista foi apenas um exercício do seu “direito à liberdade de expressão”, além de insistir em que é uma investigação “politicamente motivada”.
Na segunda-feira, ele voltou a jurar que “não fraudou a eleição” – mas aproveitou para instar o ex-vice-governador da Geórgia, Geoff Duncan, a não comparecer perante o grande júri poucas horas antes de o indiciamento ser entregue. Quem sabe, uma testemunha a menos.