
Com a recente aparição controversa nos debates, o baiano Kelmon Luis da Silva Souza, de 45 anos, autointitulado como Padre Kelmon (PTB) tem chamado a atenção e o questionamento do Ministério Público Eleitoral (MPE) da sua formação sacerdotal. Nos debates da TV Globo e do SBT, Kelmon atuou como linha auxiliar de Jair Bolsonaro (PL).
Durante o debate da Rede Globo, o candidato foi alvo dos principais memes e teve seu título de padre constantemente questionado, pois o título é realmente contestado pela Igreja Ortodoxa.
Tendo registrado menos de 1% de intenções de voto nas pesquisas mais recentes, foi convidado para os debates por uma exigência da lei eleitoral. Segundo as regras, as emissoras devem chamar todos os candidatos cujos partidos têm pelo menos 5 parlamentares no Congresso. Essa é exatamente a quantidade de deputados do PTB na Câmara.
A contestação de sua formação começou através do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que não aceitou os diplomas de bacharel em teologia e de licenciatura em filosofia que ele apresentou como prova de alfabetização.
Emitidos por um local denominado Mosteiro São Basílio e São Tomé, com brasão da República do Brasil e selo de uma tal Iglesia Católica Apostólica Ortodoxa del Perú, os diplomas “não contêm indicativo de registro no âmbito do sistema federal de ensino”, conforme anotou o MPE.
Esse registro de formação universitária de Kelmon chama a atenção pela inconsistência dos dados e das versões tornadas públicas, por via oblíquas.
O diploma de licenciatura em filosofia é de 20 de fevereiro de 2003 e o de bacharel em teologia, de 7 de dezembro de 2006. Apesar de supostamente terem sido emitidos com três anos de diferença, ambos apresentam as mesmas falhas.
Não têm o número do RG e ambos afirmam que é natural de Salvador, Bahia, embora, como se disse acima, sua certidão de nascimento seja de Acajutiba.
Quem assina os diplomas como diretor acadêmico do Mosteiro São Basílio e São Tomé, que funcionaria no Brasil, é Angel Ernesto Morán Vidal, cidadão peruano que já foi alvo, em seu país, de acusação feita pela imprensa de ser falso padre.
Angel Ernesto Morán Vidal, que se apresenta como arcebispo da Igreja Apostólica Ortodoxa do Peru, deu declarações esta semana para assegurar que Kelmon é, sim, padre reconhecido por sua organização.
A questão é que a organização de Angel Ernesto Morán Vidal não é reconhecida pelas igrejas ortodoxas.
NUNCA FOI SEMINARISTA
Em seu site oficial, a Igreja Ortodoxa tradicional negou que Kelmon seja sacerdote no Brasil e nunca foi seminarista ou membro do clero em nenhum dos três graus da ordem , seja bispo, presbítero e diácono.
“Kelmon se apresenta como sacerdote da Igreja Ortodoxa no Brasil, aparecendo em peças de campanha com vestimentas tradicionais da Igreja. Ainda segundo o documento, o ‘padre’ nunca foi seminarista ou membro do clero da Igreja em nenhum dos três graus da ordem, quer no Brasil ou em outro país.”, diz o texto.
Também em seu site a Igreja Síria Ortodoxa, a mais tradicional do país, informou que em 2019 encerrou relação oficial com a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, cortando assim qualquer vínculo entre as entidades.
“Qualquer tentativa de utilizar de fotos do período de acompanhamento por nossa Igreja de antes da renúncia caracteriza-se como desonestidade, mentira e difamação”, finaliza o comunicado.
CNBB NEGA QUALQUER VÍNCULO COM KELMON
Da mesma forma, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na última sexta-feira (30), uma nota em que nega qualquer tipo de vínculo do candidato do PTB com a Igreja Católica.
“O senhor Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como ‘padre Kelmon’, não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, sendo, portanto, de outra confissão religiosa, sem qualquer ligação com a Igreja sob o magistério do Papa Francisco”, diz a CNBB.
A entidade também afirma que padres da Igreja Católica não podem disputar cargos políticos e nem se filiar a partidos.
“Ele não tem comunhão. Nem em Roma, nem mesmo com qualquer igreja de rito ortodoxo. De maneira nenhuma alguém assim pode atribuir-se esse ‘título’. Em se tratando de ‘religioso’, parece mais um ‘outsider’, que quer posar”, declarou o padre Fabiano de Oliveira, da Igreja Católica Apostólica Romana.
O padre Edir Carvalho do Carmo, administrador da Paróquia Nosso Senhor dos Passos e São Cristóvão, em Sarzedo, na região Metropolitana de Belo Horizonte, ressaltou que a Igreja Ortodoxa é considerada pela Igreja Católica como um segundo pulmão, principalmente no Leste Europeu, e falou sobre as normas para os religiosos que querem entrar na vida política.
“O que eu posso dizer, como membro da Igreja Católica Apostólica Romana, é que quando um padre vai se candidatar a vereador, prefeito, presidente, ele tem que deixar o Ministério. A igreja não tem partido, apesar de ressaltar a importância do voto, que é uma conquista da sociedade”, explicou.
“Dizer-se de si mesmo, que se é padre, é muito fácil. Quase como Napoleão, que coroou-se a si próprio, negando o sinal divino encerrado neste gesto, este senhor manifestamente não tem comunhão com as referidas igrejas”, ponderou Fabiano.
AUXILIAR DE BOLSONARO
Kelmon virou candidato ao Palácio do Planalto após o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) ter sido impedido de concorrer pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Jefferson foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficou inelegível nessa disputa após ser condenado no caso do mensalão.
O vice na chapa de Kelmon é o Pastor Gamonal (PTB), de 50 anos. Nascido no Rio de Janeiro, ele ocupa temporariamente a presidência do Movimento Cristão Conservador (MCC) da sigla partidária.
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais na última sexta, Bolsonaro elogiou a atuação de Padre Kelmon no debate da TV Globo.
O senhor padre laranja kelmon já deveria estar preso para servir de exemplo para outros candidatos mentiroso como esse fariseus