Turquia diz que Trump faz “vista grossa” ao assassinato de Khashoggi

O chefe da diplomacia turca, Mevlüt Cavusoglu: "trata-se de um assassinato atroz e premeditado”. (Reuters)

O governo da Turquia afirmou nesta sexta-feira (23) que as declarações de Donald Trump sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi revelam que o presidente dos Estados Unidos tem a intenção de fazer “vista grossa” para o caso.

“Em certo sentido, Trump está dizendo ‘farei vista grossa’ para o assassinato do jornalista saudita”, afirmou o chefe da diplomacia turca, Mevlüt Cavusoglu, em uma entrevista ao canal CNN-Türk.

Jamal Khashoggi, um jornalista crítico ao regime de Riad, foi morto em 2 de outubro no consulado de seu país em Istambul.

O assassinato do jornalista teve requintes de crueldade como tortura, retalhamento e ocultação do corpo expôs o caráter bárbaro da ditadura saudita e gerou comoção mundial.

O príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é acusado por autoridades turcas e agora também pela CIA de ter mandado matar Khashoggi.

Segundo o Washington Post, a CIA não tem dúvidas sobre a responsabilidade de Mohamed bin Salman na morte do jornalista. Na terça-feira, Trump garantiu, porém, que a agência não havia “encontrado nada absolutamente certo”. Em seguida a CIA declarou ter gravação de uma chamada telefônica, na qual bin Salman ordena “silenciar Khashoggi”.

O presidente Donald Trump disse ainda que os Estados Unidos priorizam sua boa relação com a Arábia Saudita, embora bin Salman possa estar ligado ao brutal assassinato de Khashoggi.

“Não é apenas o dinheiro que conta”, afirmou o chefe da diplomacia turca Cavusoglu referindo-se aos argumentos de Trump sobre a compra de armas americanas pela Arábia, ou a estabilidade do preço do petróleo para justificar seu apoio a Riad.

“Não é uma boa abordagem”, insistiu o ministro turco em entrevista à rede CNN-Türk, lembrando que ainda há “perguntas sem resposta”.

“Para nós, a Arábia Saudita é um país importante, mas estamos agora falando de um atroz assassinato premeditado”, acrescentou o ministro turco.

Depois de inicialmente negar o desaparecimento de Khashoggi, Riad acabou reconhecendo, sob pressão internacional, que o jornalista havia sido assassinado durante uma operação “não autorizada”.

Sempre isentando o príncipe herdeiro, a Justiça saudita anunciou, na semana passada, que solicitaria a pena de morte contra cinco dos 21 suspeitos detidos no âmbito da investigação oficial.

A Turquia está aberta, porém, a uma possível reunião entre Erdogan e Mohamed bin Salman à margem da cúpula do G20 da próxima semana na Argentina, segundo Cavusoglu, que não vê “nenhum obstáculo” para isso.

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