Mundo está se tornando multipolar mas alguns tentam manter sua hegemonia a qualquer preço
“A Ucrânia praticamente perdeu sua soberania e está sendo governada diretamente a partir dos EUA”, que a usa como “aríete” contra a Rússia e as organizações de que Moscou faz parte, afirmou o presidente Vladimir Putin em um encontro com os chefes dos serviços de inteligência dos países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) na quarta-feira (26).
O presidente russo ressaltou que o mundo está se tornando multipolar, mas alguns atores estão tentando manter a sua hegemonia a qualquer preço, o que faz com que o risco de conflitos no mundo permaneça muito elevado. “A tática de chantagem, pressão, intimidação há muito que tem sido utilizada por alguns países praticamente em toda a área da Comunidade”, acrescentou.
Quanto ao papel do regime de Kiev de aríete a serviço de Washington e o que isso representa para os países da CEI, o presidente russo advertiu que “não param as tentativas de realizar revoluções coloridas, estão sendo atiçados conflitos armados que ameaçam diretamente a segurança de todos os países membros e a carta do chauvinismo e do extremismo está sendo usada ativamente”.
De acordo com suas palavras, os países da Comunidade nunca enfrentaram até agora “ameaças terroristas como hoje”, sendo o objetivo comum dos países defender as suas populações. “O território ucraniano foi transformado em um polígono para experimentos biológico-militares, e agora está sendo inundado com armas, inclusive pesadas. Não passa também despercebido o desejo do regime de Kiev de obter armas nucleares”, assinalou Putin.
SHOIGU TELEFONA AO PENTÁGONO SOBRE ‘BOMBA SUJA’
Conforme o presidente Putin, a Rússia também está ciente dos planos da Ucrânia de usar a chamada “bomba suja” para provocações. A ‘bomba nuclear suja’ é um dispositivo que junta lixo radioativo e explosivos e causa contaminação radioativa em uma área extensa ao explodir.
A questão da ‘bomba suja’ já foi levada pela Rússia ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, às principais instâncias da ONU e à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O próprio ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e seu chefe de Estado Maior, Valery Gerasimov, telefonaram nos dias 24 e 25 aos congêneres da França, Turquia, Estados Unidos e Inglaterra para informar oficialmente de que têm provas de que essa provocação ucraniana está sendo preparada, e advertir sobre as consequências desse terrorismo nuclear. Também a Otan foi informada.
Peritos da AIEA irão para Kiev e Zholtie Vodi nos próximos dias, após alertas russos sobre a preparação de uma bomba suja na Ucrânia, declarou o representante permanente russo em organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov. “Em pouco mais de uma semana saberemos os resultados preliminares dessas visitas”, sublinhou Ulyanov.
Por sua vez, embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasili Nebenzia, assegurou que seu país tratará o uso de uma bomba suja pelo regime de Volodymyr Zelensky como um ato terrorista.
O secretário de Estado Antony Blinken e suas contrapartes britânica, James Cleverly, e francesa, Catherine Colonna, rejeitaram as denúncias russas, atribuindo-as à vontade russa de “escalada” do conflito.
“A Rússia emitiu um aviso que visa impedir a Ucrânia de usar uma bomba suja. Este aviso visa sinceramente manter a paz e a estabilidade, não aumentar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. É totalmente inaceitável. Isso seria uma catástrofe ambiental e humanitária, uma escalada da guerra e uma mudança em sua natureza”, disse à Sputnik o especialista da Universidade Popular da China, Zhou Rong.
BANDEIRA TROCADA?
“O objetivo é óbvio: acusar a Rússia de usar armas de destruição em massa. As autoridades ucranianas e seus guardiões ocidentais esperam que isso resulte em uma poderosa campanha anti-russa, mine a confiança em Moscou e seus parceiros e leve ao isolamento de nosso país na arena internacional”, enfatizou Konstantin Vorontsov, vice-chefe da delegação russa em uma reunião do Primeiro Comitê da Assembleia Geral da ONU.
“De acordo com nossas informações, o lado ucraniano já começou a implementar o plano. Em particular, a Fábrica Oriental de Mineração e Processamento na cidade de Zheltie Vody e o Instituto de Pesquisa Nuclear em Kiev já foram contratados para fabricar uma bomba desse tipo”, acrescentou.
Igor Kirillov, chefe das tropas russas de defesa contra radiação, química e biológica afirmou à agência RIA Novosti que os militares russos têm informações “sobre contatos entre o gabinete do presidente ucraniano e representantes da Grã-Bretanha sobre a possível aquisição de tecnologia de armas nucleares”.
O oficial sênior ecoou as preocupações expressas por Shoigu no domingo – a saber, que Kiev estava “planejando uma provocação envolvendo a detonação da chamada ‘bomba suja’, ou uma arma nuclear de baixo rendimento”, para depois alegar que a explosão foi causado por uma arma nuclear tática russa.
“O objetivo de tal provocação é acusar a Rússia de usar armas de destruição em massa no teatro de operações ucraniano e, assim, lançar uma poderosa campanha anti-russa em todo o mundo destinada a minar a confiança global em Moscou”, disse Kirillov.
“Como resultado de uma provocação de bomba tão suja, Kiev espera intimidar a população local, aumentar o fluxo de refugiados pela Europa e ‘expor’ a Federação Russa como terrorista nuclear”, disse Kirillov.
A doutrina nuclear da Rússia proíbe o uso de armas nucleares de qualquer tipo – táticas ou estratégicas, a menos que armas nucleares ou outras armas de destruição em massa sejam usadas primeiro contra o país, ou no caso de um ataque convencional tão severo que ameace a existência do país.
LIXO RADIOATIVO
Segundo informações dos militares russos, Kiev tem o potencial tecnológico e a base industrial necessária para criar uma bomba suja. Isso inclui mais de 1.500 toneladas de combustível nuclear usado das três usinas nucleares operacionais do país, além de 22.000 conjuntos de combustível usado da extinta Usina Nuclear de Chernobyl contendo urânio-238, bem como outros materiais nucleares contendo urânio-235 e plutônio-239. Rejeitos radioativos das usinas nucleares do sul da Ucrânia, Khmelnitsky e Rivne, contêm óxido de urânio enriquecido a 1,5%.
Infraestrutura adicional que poderia ajudar na produção de uma bomba suja inclui a nova planta de processamento de resíduos radioativos Vector na Fábrica Química Prydneprovsky em Kamenskoe, no centro da Ucrânia, que tem capacidade para acomodar mais de 50.000 metros cúbicos de materiais radioativos.
O oficial alertou que a explosão de uma bomba suja radioativa em território ucraniano espalharia isótopos radioativos na atmosfera a uma distância de até 1.500 km, espalhando-se pelos países vizinhos, incluindo a Polônia.
Kirillov lembrou que os supostos preparativos de Kiev para usar uma bomba suja não são novidade e que “tecnologias semelhantes de guerra de informação já foram usadas pelo Ocidente na Síria”, onde os Capacetes Brancos filmaram vídeos encenados sobre o suposto uso de armas químicas pelas forças sírias, o que serviu de pretexto para ataques aéreos e de mísseis de cruzeiro dos EUA contra o país árabe em 2017.