O Brasil e demais países do Mercosul não aceitam que o acordo com a União Europeia seja feito com base em ameaças e sanções, afirmou a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Tatiana Prazeres.
Em entrevista ao jornal O Globo, Tatiana informou que a discussão sobre meio ambiente, muito presente nas conversas entre os blocos econômicos, também deve levar em conta as questões sociais.
“O Mercosul, e o Brasil em particular, tem um compromisso com a agenda da sustentabilidade. Esse é o ponto de partida. Mas a sustentabilidade também deve ser econômica e social, e a UE [União Europeia] coloca a ênfase apenas no desmatamento. Nós reconhecemos o desafio do desmatamento, estamos lidando com o desmatamento e temos resultados positivos de queda”, apontou a secretária.
“Mas o desafio das mudanças climáticas não se resume a desmatamento, é preciso incluir outras questões, como os combustíveis fósseis”, continuou.
“Outro aspecto da proposta europeia que nos preocupou tem a ver com a possibilidade de sanções comerciais por questões ambientais. Defendemos uma abordagem mais colaborativa, mais construtiva, e menos construída a partir da ameaça de sanções”, afirmou Tatiana Prazeres.
O presidente Lula também já falou abertamente sobre o tema e disse que o acordo entre Mercosul e União Europeia não pode ter esse tipo de sanção, que foi caracterizada como “ameaça”.
Segundo a secretária de Comércio Exterior, o governo está empenhado “em concluir a negociação, porque um acordo com a UE terá impacto econômico, e mostrará nossa capacidade de negociar com parceiros de peso, estreitar vínculos de comércio, inserir nossas economias no mundo. É um acordo apoiado pela indústria, algo que justifica nosso empenho”.
As reuniões de negociação estão acontecendo de forma virtual semanalmente.
A negociação, avalia Tatiana, “não será fácil, estamos pleiteando compromissos importantes. Acho que há chance, uma oportunidade de que a negociação seja concluída com sucesso. Só saberemos quão longe chegaremos a partir da reação dos europeus”.
“Os dois lados devem colaborar com o desafio do combate às mudanças climáticas, e não será com base em sanções comerciais que vamos construir relações. Isso gerou um desconforto para os países do Mercosul e propusemos um olhar diferente”, acrescentou.
Tatiana Prazeres disse que o governo acompanha “com grande preocupação a medida unilateral europeia” que sanciona produtos vindos, segundo eles próprios, de países com desmatamento.
O governo federal, contou Tatiana, está conversando com o setor privado para ver as principais dificuldades que surgem com essa legislação e está em contato com as autoridades europeias.
“Nós já manifestamos na OMC [Organização Mundial do Comércio]. Foi apresentada uma carta em Bruxelas, assinada por vários países, e vamos falar sobre isso na negociação entre Mercosul e UE. Não podemos tratar este tema como desconectado de uma negociação comercial, estamos falando de acesso a mercados europeus”, completou.
A carta foi assinada por 17 países da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia.
“A abordagem inflexível adotada pela UE, implementada por meio deste modelo de diligência devida e rastreabilidade, ignora as diferentes condições locais e inevitavelmente imporá custos imensos tanto aos países exportadores quanto aos importadores, bem como aos produtores e consumidores. Embora esses custos sejam certos, consideramos que a legislação, por si só, não terá impacto positivo nas taxas de desmatamento e pode até mesmo produzir outros efeitos adversos, como aumento da pobreza, desvio de recursos e atraso na realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, afirmaram os países contrários à nova legislação europeia.