A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começou nesta sexta-feira (31) testes em 852 voluntários de uma vacina que está sendo desenvolvida pelo laboratório farmacêutico chinês Sinovac e o Instituto Butantan, de São Paulo.
Em Minas Gerais, as pesquisas estão sendo coordenadas pelo Centro de Desenvolvimento de Fármacos do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB-UFMG), coordenado pelo professor Mauro Teixeira. O docente participou de um seminário online nesta semana em que explicou os testes realizados em Belo Horizonte. Segundo ele, os voluntários serão acompanhados durante um período de até um ano após receberem as doses.
“Há um conjunto de estudos prévios que sugerem que a vacina chinesa é segura e eficaz, mas o voluntário é apenas um ‘doador’ que se propõe a participar, sem a certeza de que a viabilidade do medicamento será comprovada”, disse.
De acordo com o professor, o ensaio clínico é caracterizado como “duplo cego”, o que significa que nem os voluntários, nem os profissionais que administram as doses sabem se eles receberão o medicamento desenvolvido pela Sinovac ou placebo.
Os testes também são “randomizados”, ou seja, a escolha de quem vai receber um ou outro é feita de forma aleatória. Os testes para essa vacina são exclusivos, neste momento, para profissionais da área da saúde.
Concomitantemente a UFMG, mais centros realizarão os testes com a vacina chinesa. “No dia 30 o hospital Emílio Ribas [em São Paulo] e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto deu início aos testes da vacina. A partir do dia 31, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e a UFMG iniciaram seus testes”, disse Jean Gorinchteyn, secretário estadual da Saúde de São Paulo.
Ao todo, os testes com a CoronaVac serão realizados em 9 mil voluntários recrutados em 12 centros de pesquisas de seis estados brasileiros: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A pesquisa clínica será coordenada pelo Instituto Butantan.
Apenas profissionais da saúde que ainda não tiveram a doença e que atuam com pacientes com Covid-19 [a doença provocada pelo novo coronavírus] poderão participar dos testes. Para atender aos critérios, esses profissionais da saúde não poderão ter outras doenças e nem estarem em fase de testes para outras vacinas. As voluntárias mulheres também não poderão estar grávidas.
Inicialmente, foram selecionados 12 centros de pesquisa para essa etapa de testes. Na cidade de São Paulo, os testes serão conduzidos pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas e pelo Hospital Israelita Albert Einstein. No estado de São Paulo serão feitos testes da vacina na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, no Hospital das Clínicas da Unicamp em Campinas, na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e no Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
As pesquisas serão realizadas, ainda, na Universidade de Brasília (UnB); no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro; no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos da Universidade Federal de Minas Gerais; no Hospital São Lucas da PUC do Rio Grande do Sul e no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
Segundo o secretário, a aplicação dos testes em voluntários dos demais sete centros que compõem a rede serão anunciados na próxima semana. A previsão do governo paulista é de que essa fase de testes da vacina seja concluída nestas 12 instituições até meados de setembro.
A vacina é aplicada em duas doses, com intervalo de 14 dias. Caso seja comprovado o sucesso da vacina, ela começará a ser produzida pelo Instituto Butantan. Na última terça-feira (28), o governador de São Paulo, João Doria, disse acreditar que as primeiras doses da vacina já possam estar disponíveis para a população brasileira a partir de janeiro.
A CoronaVac é uma das vacinas contra o novo coronavírus em fase mais adiantada de testes. Ela já está na terceira etapa, chamada clínica, de testagem em humanos. O laboratório chinês já realizou testes do produto em cerca de mil voluntários na China, nas fases 1 e 2. Antes, o modelo experimental aplicado em macacos apresentou resultados expressivos em termos de resposta imune contra as proteínas do vírus.
A vacina é inativada, ou seja, contém apenas fragmentos do vírus, inativos. Com a aplicação da dose, o sistema imunológico passaria a produzir anticorpos contra o agente causador da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. No teste, metade das pessoas receberão a vacina e metade receberá placebo, substância inócua. Os voluntários não saberão o que vão receber.
Butantan confirma procura russa para teste de vacina
Diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas disse na última quarta-feira (29) que a instituição brasileira foi procurada pela estatal russa responsável pelo desenvolvimento da vacina que deve receber aprovação regulatória até agosto.
Em entrevista à imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes, Covas afirmou que o Butantan pediu mais dados sobre a imunização, mas ainda não obteve respostas.
“Fomos procurados por emissários do governo russo. Essa vacina é feita em um instituto estatal. Queriam saber se poderíamos nos associar. Em um primeiro momento, dissemos: até podemos avaliar porque é uma tecnologia diferente, precisamos de mais dados técnicos para avaliar e dados sobre os estudos feitos. Enfim, conhecer melhor. Ainda não recebemos o retorno”, contou.
Covas afirmou que a vacina da Rússia não está em fase final de desenvolvimento. Mesmo assim, ele disse que é prematuro dizer se o Butantan descartaria uma parceria com a estatal russa.
“É prematuro dizer que descartaríamos. Com certeza essas informações chegarão, mas eu gostaria de pontuar que não é uma vacina em fase final de desenvolvimento. Se você procurar no site da Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina russa não está listada”, comentou.
A primeira vacina contra covid-19 em potencial da Rússia receberá aprovação regulatória local na primeira metade de agosto e será administrada a profissionais de saúde da linha de frente pouco depois, disse à Reuters uma fonte de desenvolvimento a par do assunto.
O Instituto Gamaleya, uma instituição estatal de pesquisa de Moscou, finalizou os primeiros testes de uma vacina baseada em adenovírus em humanos no início deste mês e acredita que iniciará testes de larga escala em agosto.