“Não vou interferir no mercado”, disse Bolsonaro. “O Brasil tem que entender que quem define esse preço não é o presidente da República, é a Petrobrás com os seus diretores e seu conselho”, acrescentou o presidente, neste sábado (12).
É tão escandalosa a notícia divulgada na sexta-feira (11) de que a direção da Petrobrás vai disponibilizar um salário anual de R$ 14,17 milhões e um bônus milionário de R$ 13 milhões aos nove executivos empresa, que parece uma piada de mau gosto. Além desses R$ 27 milhões, há ainda outros R$ 10 milhões reservados para o que eles chamam de “remuneração global dos administradores” da companhia. O total chega a R$ 39,584 milhões.
O anúncio foi feito um dia depois da decisão do governo Bolsonaro e da direção da empresa de aumentarem em 24,9% o preço do diesel, em 18,8% o preço da gasolina e em 16,1% o preço do gás de cozinha. O tarifaço do governo gerou indignação em todo o país.
A população já deu mostras de que não vai aceitar calada esse cinismo do governo, que permite a disparada dos preços, o ganho exagerado dos executivos e acionistas e deixa a população à própria sorte. Os brasileiros não aceitarão mais inflação e carestia, decorrentes de mais essa disparada de preços dos combustíveis. Até a Justiça está exigindo explicações do governo. No Acre a gasolina já está sendo vendida ao preço de R$ 11 o litro.
GASOLINA AUMENTOU 47% EM 2021
O preço da gasolina já tinha sido aumentado em 47% em 2021, fruto da insistência de Bolsonaro em manter o criminoso atrelamento dos preços internos dos combustíveis e do gás de cozinha ao dólar e ao preço do barril de petróleo nas bolsas de especulação. O Brasil não tinha a menor necessidade de fazer isso porque é autossuficiente em produção de petróleo e tem capacidade de refino para atender à demanda interna. Essa política só atende aos interesses dos acionistas, na maioria estrangeiros, e aos importadores de combustíveis.
O Brasil está importando 500 mil barris de derivados por dia, fruto da sabotagem que o governo e a direção da estatal, nomeada por Bolsonaro, estão fazendo às refinarias brasileiras. Desde 2014, quando o país refinava todos os derivados que consumia, a Petrobrás parou de investir nas refinarias e, inexplicavelmente, reduziu a sua utilização de mais de 90% de sua capacidade para apenas 75%. Além disso, o governo começou a vender as refinarias. O resultado não podia ser outro: passamos a depender de importações.
A Petrobrás tem um custo de produção de derivados muito baixo e poderia vender os produtos no mercado interno a um preço muito menor do que faz atualmente. O engenheiro Paulo César Lima, que foi funcionário da Petrobrás, fez um estudo na época da greve dos caminhoneiros mostrando que o litro de diesel custa para a Petrobrás entre R$ 0,92 e R$ 0,93, e estava sendo vendido por R$ 2,30. Então, o lucro, segundo o estudo, era superior a 150%. Os importadores e os acionistas não deixam a Petrobrás baixar os preços porque, enquanto a população está sofrendo com os preços altos, eles estão ganhando muito dinheiro.
PETROLEIRAS ESTÃO NADANDO EM DINHEIRO
Como diz o especialista citado acima, as petroleiras estão nadando em dinheiro e seus acionistas não param de comemorar. Além da gorda remuneração ofertada aos membros da administração, os acionistas também vão deliberar sobre a destinação do lucro recorde de R$ 106,6 bilhões registrado em 2021. Isso inclui o pagamento de R$ 101,39 bilhões em dividendos, correspondentes a 95% do lucro líquido da companhia — ou a R$ 7,7 por ação em circulação. Desse total, R$ 64 bilhões já foram pagos de forma antecipada em 2021 e mais R$ 37,3 bilhões serão pagos em maio.
A intenção de lucrar o máximo, e o mais rapidamente possível, é tanta que a direção da empresa alterou até a norma de distribuição dos dividendos. As novas regras da política de remuneração aos acionistas, aprovada no ano passado, não depende mais nem do lucro da empresa. A política prevê que sempre que a dívida bruta cair para menos de US$ 65 bilhões, a companhia deverá distribuir aos seus acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e as aquisições de imobilizados e intangíveis. Ou seja, tudo pelos acionistas e que se dane a população.
Com o embargo dos EUA ao petróleo da Rússia, os preços do barril saíram dos US$ 80 e foram para mais de US$ 120 nos últimos dias. Logicamente o país não vai suportar a continuidade dessa política absurda de preços da Petrobrás que Bolsonaro vem mantendo. Se nada for feito, haverá uma explosão dos preços internos. Aliás, haverá não, ela já começou com o anúncio de quinta-feira (10).
CAMINHONEIROS JÁ COMEÇARAM A PARAR
Num quadro dramático como este, em que caminhoneiros já iniciam paralisações, motoristas de aplicativos entram em desespero, a construção civil anuncia que, se nada for feito, vai parar, Bolsonaro repete que não tem nada com isso e que não pode interferir na política de preços da Petrobrás. “Não estou satisfeito com o reajuste, mas não vou interferir no mercado”, disse ele neste sábado (12).
Confessando que não vai fazer nada diante da disparada de preços, Bolsonaro prosseguiu: “o Brasil tem que entender que quem define esse preço não é o presidente da República, é a Petrobrás com os seus diretores e seu conselho”.
A única coisa que ele faz é pressionar para reduzir a arrecadação de impostos federais e estaduais, que a realidade já mostrou que não são culpados pelos aumentos, para fingir que está fazendo alguma coisa. Ou seja, o que ele faz é reduzir o ICMS, que vai para a Saúde e Educação nos estados, para permitir que a Petrobrás continue amentando os seus preços. Os governadores provaram isso congelando o ICMS e mostrado que a Petrobrás continuou aumentando os preços mesmo com o ICMS congelado.