Professor de Direito da UNB denuncia objetivo retrógrado de Bolsonaro de tentar apagar a história do Brasil e implantar terra arrasada na Educação
MAMEDE SAID (*)
Quando Bolsonaro disse que o Enem “começa agora a ter a cara do governo”, ele não estava de todo enganado. E isso porque o Enem 2021, cujas provas se iniciam hoje, é o Enem mais excludente de todas as suas edições: o que tem o menor número de inscritos, o que teve uma queda acentuada no número de estudantes oriundos de escolas públicas e no número de estudantes negros inscritos.
O mais condenável, porém, na organização do Enem 2021, são as denúncias de que o governo intercedeu para retirar das provas questões que, em sua visão estreita e preconceituosa, abordam temas que ele classifica como sendo supostamente “ideológicos”, quando na verdade envolvem contextos sociopolíticos ou socioeconômicos, como os que tratam do período da ditadura.
Importante considerar que as questões provêm de um Banco Nacional de Itens e foram elaboradas por professores selecionados por meio de editais públicos, que passam por longo processo de produção e calibragem do grau de dificuldades (fácil/médio/difícil).
As denúncias de assédio contra servidores técnicos do Inep e a censura a questões do Exame contaminaram o Enem 2021. O positivo nisso tudo, porém, é que vieram a público e foram capazes de levar o TCU a abrir investigação para apurar possíveis irregularidades em sua organização.
Afinal, o Exame que foi instrumento para ampliar o acesso à universidade de amplas camadas da juventude não pode se transformar em ferramenta de manipulação bolsonarista. Chega de terra arrasada!
(*) Professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da UNB