EDUARDO A. COSTA
Há cerca de um mês, foi-me chamada a atenção sobre um documentário no Netflix, porque gosto de filmes de ficção científica. A tradução do título é: Retorno ao Espaço.
Trata-se de um filme-discurso das vantagens da parceria da NASA com uma empresa privada, porque esta não é limitada pelas questões políticas e democráticas do congresso americano.
Neste documentário, o personagem principal é o oligarca mídi-espacial. Inicia-se no momento em que a NASA terceiriza para a Space-X, criada em 2002, a gestão e desenvolvimento de foguetes para as espaçonaves americanas.
O objetivo é levar de volta os astronautas americanos a viagens espaciais para a Lua e Marte. O mundo não pode ficar limitado à Terra! Talvez para que possamos destruí-la ou controlá-la de fora, porque o homem é mau. (Já vi disto nestas minhas distrações televisivas).
Qual a razão para isto? Simples e acessível no próprio documentário, na fala de colaboradores da Space-X: – Os astronautas americanos não devem ter que aprender russo ou chinês para voar ao espaço!
Na película, num dos eventos recentes, finalmente, a partir do solo americano, astronautas americanos são levados para a estação espacial internacional (ISS) pelo tal foguete da Space-X. Os astronautas russos que estão na nave sequer foram filmados com clareza e choca que não os tenham apresentados para o público por quem filmou.
A mesquinharia e deselegância não deve surpreender sul-africanos que conviveram com o apartheid. O personagem, testa de ferro de uma oligarquia – uns poucos a quem ouve, segundo ele – firmemente ligada a Washington, nasceu no meio do comércio de pedras preciosas, negócio de sua família na África (daí seu sotaque).
O que está escancarado é que os EUA quer destruir uma engenharia social de suma importância no pós-guerra, que foi a colaboração mundial para um programa espacial voltado para a paz e o avanço do conhecimento. Como sabemos, os foguetes russos sempre foram melhores do que os foguetes americanos, outras tecnologias de voo são americanas, se supõe. Mas eles querem se ver livres destes compromissos de convivência. A volta da guerra espacial virá logo e deve render muito.
E tudo isto já desembocou (ao lado das viagens de alguns milionários) no fim do programa da estação orbital que há anos fazia pesquisas importantes.
Não esqueçamos que o exército russo encontrou na Ucrânia dezenas de laboratórios de pesquisa biológica voltada para o interesse militar. E, não nos surpreendeu, que o documentário nos conecte à guerra das milícias nazifascistas ucranianas com os que falam russo em Donbass. Russofobia explícita.
E o que tem isto a ver com as milícias brasileiras e o estímulo a que as pessoas “de bem” se armem? – Tudo!
Mas, Mosca Elétrica veio ao Brasil a negócios… A internet por satélite é apenas um deles. Óbvio que se não tivéssemos destruído o programa espacial com a Ucrânia (pré-golpe implementado por BIDEN em 2014) poderia ser feito com nossas bases de lançamento.
Para um país de tamanho continental é mais econômico, mas o PSDB de FHC nos legou em 1997 uma internet por cabo terrestre. (No interior da África, em 2006, podíamos trabalhar no computador dentro de um utilitário numa viagem por terra, cercado de mata a umas 20 horas de Luanda, graças a um satélite estacionário russo.)
Aos propósitos do oligarquista aterrissado no Brasil e que recebeu a visita do presidente, para gáudio da big mídia, as redes sociais, em poucas horas, nos legaram um rotundo: – FORA FASCISTAS!
Para os negócios do Mosca, a energia elétrica é importante. Para os carros elétricos, o maior problema é que baterias são ainda grandes e pesadas. Diversionismo, mas na Amazônia está o que interessa: a Space-X vê lá de cima!
O vale do lítio e do nióbio, que propõe, vai despertar boas razões, entre muitos, para um desenvolvimento e futuro ainda mais dependentes, como se esta moeda de troca nos colocasse em vantagem em qualquer aspecto crucial para o Brasil, que nem mesmo indústria automobilística própria tem. Os discursos de elites econômicas apátridas serão transferidos para a boca de elites nacionais “independentes” do campo midiático, científico, tecnológico e até educacional.
Por trás dele há interesses já fincados no Brasil que vão subsistir ainda fortes, controlando muitas de nossas instituições, como já víamos há muitos anos. A subserviência às grandes corporações mundiais está escancarada em nosso país. E reforçada pela pandemia. Surpreende que tamanho fracasso ocidental em lidar com a Covid-19 só as tenha reforçado.
O caráter do personagem oligárquico pode ser entusiasmante para os que não se encontram com os contrastes sociais e não precisam de esperança. Mas ele se auto expõe na sua volúpia midiática. E expõe mais ainda: – Expõe o caráter do império.
A vinda do representante do império propõe, mais do que apoiar o presidente de direita, aproveitar-se dele para trazer a mosca azul para a malta voraz dos negócios “da China”. O império não precisa que o atual presidente seja derrotado nas urnas, ainda que isto possa ser indesejável. Ele, ainda que útil, é descartável. Não há ameaça russa por aqui.
Esta viagem espacial lunática no foguete privado americano pode ser desastrosa ou pode nos levar a… – Nada! Ainda mais que seu objetivo final é a colonização de Marte. Até lá o deslumbramento e miçangas tecnológicas não vão nos preparar para construir um mundo melhor.
Continuaremos carentes de trabalho decente, educação, saúde e principalmente justiça para todos, nossos verdadeiros objetivos para o desenvolvimento nacional.
Precisamos resistir e avançar com os pés no chão que se faz rico com o trabalho de nosso povo!
21 de maio de 2022.
Que império caramba!? tá cheio de apelido nesse artigo ou sei lá o que que é
Divulga mais essa pagina, porque eu só achei ela pelo site, tem q procurar pra achar