Depois de uma saraivada de 460 foguetes sobre a região civil ao sul de Israel e depois da reação israelense destruindo lares de 100 famílias, matando 10 palestinos em Gaza (e mais o 11º palestino morto, um operário palestino que trabalhava em uma obra na região, do lado israelense, e que foi atingido por um míssil vindo de Gaza), instalou-se um cessar-fogo mediado pelo governo egípcio.
Avigdor Lieberman, o tresloucado nazista que Bibi Netanyahu colocara para ministro da “Defesa” de Israel, renuncia dizendo que Netanyahu estava “cedendo ao terror”, ou seja, que o bombardeio a Gaza por parte de Israel – que além do estrago relatado acima, destruiu um prédio de vários andares que abrigava a TV Al Aqsa – teria sido muito pouco.
Diante da renúncia, os filiados ao Hamas saiam às ruas de Gaza gritando: “Vitória! Vitória!”, enquanto familiares dos palestinos mortos em mais uma retaliação de cunho nazista de punição coletiva, por parte das tropas da ocupação e do bloqueio israelenses, preparavam os funerais de seus entes queridos.
QUEM VENCEU?
É de se perguntar, em meio à saraivada de foguetes de efeito similar a fogos de artifício, a ser interrompida até a próxima ruptura de uma breve calmaria: “Quem venceu? ”
Vejamos mais alguns fatos que contestam a euforia (melhor dizendo, histeria cega) dos elementos do Hamas:
Lieberman, cuja mentalidade criminosa poderemos verificar mais adiante nesta matéria, ao renunciar junto com seu partido, deixa o governo de Netanyahu, no sistema parlamentar israelense, com a exígua maioria de 61X59 no Knesset (parlamento unicameral de Israel).
Tem mais: Naftali Benett, outro tresloucado, produzido na mesma forma de Liberman (que hoje é ministro da Educação e que, quando os atiradores israelenses começaram a matar e ferir a tiros de fuzil manifestantes palestinos na Faixa de Gaza, disse que não era para ferir palestinos e sim “atirar para matar” e que Lieberman estava sendo “limitado e fraco ao lidar com os palestinos”. E ainda; quando o apresentador da TV israelense ousou perguntar: “Mesmo as crianças? ”, respondeu: “São todos terroristas”), ameaça – junto com seu partido – tirar o apoio ao governo de Netanyahu se não for chamado para ministro da “Defesa” no lugar de Lieberman.
DESUMANIDADE SEM LIMITES
A loucura ali é, de fato, total. A ausência de limites humanos, característica dos regimes nazistas, se apresenta de forma cada vez mais absurda e escancarada.
A retirada do apoio ao governo pelo partido de Benett, significará que Netanyahu deve convocar novas eleições, nas quais as chances de vitória da dupla Benett-Lieberman são reais, principalmente agora que aumentaram de número os foguetinhos disparados pelo Hamas, que podem não impor nenhuma perda significativa a Israel, mas fazem o barulho suficiente para aumentar o apoio à crescente irracionalidade favorável à nazificação do país.
Para o articulista Whitney Web, em coluna publicada para o portal MintPress, a questão está colocada de forma clara e dá título à matéria: “Porque a renúncia de Avigdor Lieberman não é uma vitória”.
Segundo Web, além dos fatores de instabilidade já citados, há manifestações que apontam para as possibilidades de avanço do fascismo dentro do apartheid israelense: no sul de Israel, manifestantes bloquearam estradas e queimaram pneus exigindo que Israel continue bombardeando Gaza. Os prefeitos das cidades vizinhas à Faixa de Gaza declararam em conjunto que “só um bombardeio em larga escala contra Gaza pode trazer a paz de volta à região”.
SARA NO BANCO DOS RÉUS
Enquanto isso, Netanyahu e sua mulher Sara, seguem respondendo a processos por corrupção e ele se vê isolado a tal ponto, que em um primeiro momento anunciou que vai – interinamente – assumir a pasta da “Defesa”, acumulando-a com a de premiê. Acontece que, com as defecções já em curso há algum tempo, Netanyahu já é também ministro da Saúde e do Exterior.
Todo esse clima foi exacerbado na trama montada por Lieberman que, enquanto ministro da “Defesa”, armou uma provocação para cima do Hamas. Mandou um comando a Gaza para sequestrar um líder do grupo, os militantes reagiram e houve confronto. Resultado: sete palestinos e um militar israelense mortos na refrega. Daí seguem os foguetes sobre o sul de Israel. Quer dizer, como nos parecem mostrar os fatos, Lieberman não precisou nem forjar uma operação de bandeira trocada, pois provavelmente o serviço secreto israelense já sabia qual a reação que haveria à provocação articulada por Lieberman e, dada a forma como o Hamas tem se relacionado com o conflito, até mesmo quantos foguetinhos estavam engatilhados em direção às cidades israelenses de Ashkelon e Sderot.
Em declarações durante visita ao kibutz Sde Boker, que já foi residência do fundador de Israel e seu primeiro premiê, David Ben Gurion, Netanyahu afirmou que o cessar-fogo fora “a coisa certa, apesar de uma decisão difícil”.
O GARROTE
Pois é. A estratégia-garrote dele de asfixiar os palestinos, de manter a ocupação, as prisões em massa, as demolições de casas palestinas, a perseguição a aldeias beduínas, o apoio e a sanção da Lei Estado-Nação, que coloca os árabes de Israel como cidadãos de segunda categoria, ou seja, o apartheid adquirindo foros de ‘legalidade’, o subsídio aos assentamentos judaicos em terras assaltadas aos palestinos, enquanto seguia próximo aos Estados Unidos de Trump, festejando junto com ele a transferência da embaixada para Jerusalém, ao tempo em que alimenta aproximações com os regimes mais retrógrados do Oriente Médio: Arábia Saudita e Qatar, um metódico atentado aos direitos do povo palestino, mas sem uma guerra declarada, ao invés de aplacar e colocar sob seu comando a direita nazista (inclusive a presenteando-a com postos chave em seu governo) está alimentando sua sanha e, portanto, não parece dar frutos para a continuidade de Netanyahu à frente do expansionismo anexacionista israelense de médio prazo.
Aliás, a direção da Organização de Libertação da Palestina denuncia que o plano Netanyahu/Trump é fazer mais uma divisão da Palestina (dando ao Hamas o governo da Faixa de Gaza e, ao invés de um governo palestino na Cisjordânia, a entrega da região palestina (com a Jerusalém Árabe anexada a Israel) ao comando da monarquia da Jordânia.
APOLOGIA BOLSONARISTA
Dados estes elementos, vamos observar os próximos episódios nesse famigerado apartheid de Israel (regime ao qual Bolsonaro e seus filhos – que andaram desfilando com camisetas do funesto serviço secreto israelense, o Mossad – rendem apologia, isolando desastrosamente o país no cenário internacional ainda antes de assumir o governo).
Existe, é claro, a possibilidade de que o eleitorado israelense desperte para o perigo que é o ganho, em eleições que podem estar muito próximas, de figuras como Benett (que, como vimos, acha bom matar crianças palestinas) e Lieberman que já declarou que “a solução para Gaza é fazer como os americanos fizeram em Hiroshima” e que “o caminho para os árabes que permanecem em Israel mas não são fiéis ao país deve ser a degola” e ainda que “a solução para os prisioneiros palestinos é afogá-los no Mar Morto”.
No entanto, com a atitude divisionista (para ser brando) do Hamas, que não aceita as propostas da OLP de unidade nacional, e não cessa de fustigar áreas residenciais israelenses e de vender ao seu público o avanço do nazismo em Israel como grandes vitórias palestinas, o espaço para os pacifistas israelenses que lutam no interior do país, uma luta difícil contra a ocupação da Palestina e por uma solução dos dois Estados, vai se estreitando. Nas últimas eleições o partido que defende sem fingimento a solução dos dois Estados, o Meretz, ficou com apenas cinco cadeiras, das 120 em disputa.
OLP
A direção da OLP já percebeu todo esse quadro e, sem deixar de condenar Israel pelo morticínio recente contra a população da Faixa de Gaza, deixou claro, através do presidente, Mahmud Abbas, que o comportamento do Hamas mina o esforço nacional palestino.
Ele enfatizou que “existe uma conspiração Americana, que estão chamando de ‘Negociação do Século’ e há uma conspiração israelense para forçar esta falsa negociação”.
Abbas acrescentou: “Para meu desânimo, existe outra conspiração vinda do Hamas para minar o Estado independente. Mas nem o ‘Negócio do Século’ nem o plano do Hamas para barrar o estabelecimento de um Estado da Palestina vão nos submeter”.
Ele informou, em solenidade em homenagem ao líder palestino histórico, Yasser Arafat, morto há 14 anos sob cerco imposto pelo governo de Sharon, que o Conselho Central Palestino resolveu tomar “medidas duras contra o Hamas nos próximos dias”.
NATHANIEL BRAIA