Percentual é ainda maior entre os mais pobres: 44,5%
Pelo menos um terço das famílias brasileiras tem dívidas em atraso, apontou a Sondagem do Consumidor de junho do Ibre/FGV. Nas famílias mais pobres (com renda total de até um salário mínimo e meio) o percentual do índice de endividamento e inadimplência é ainda maior: 44,5%.
A pesquisa da FGV deste mês é direcionada para a apuração do nível de endividamento e inadimplência sob os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus, além de um diagnóstico da efetividade das medidas de socorro do governo.
Na média de todas as faixas de renda, 72,1% dos consultados disseram que estão ou têm algum familiar residente no mesmo domicílio que ficou inadimplente depois da pandemia.
O auxílio emergencial é citado pela FGV como importante medida de manutenção de alguma renda para aqueles que perderam os seus empregos ou para os informais que ficaram sem atividade por conta das medidas de isolamento. Mas os R$ 600 pagos em três parcelas são direcionados para a compra de alimentos e contas básicas. As dívidas ficam em segundo plano.
De acordo com Viviane Seda, coordenadora da pesquisa pelo Ibre, o auxílio amenizou a perda de renda, mas haverá necessariamente um crescimento na inadimplência daqui para frente, ainda que as medidas restritivas estejam sendo afrouxadas em alguns estados. Isso também tem impacto direto sobre o consumo.
“Vai haver um aumento de inadimplência no curto prazo, o que dificulta o retorno das famílias ao consumo. Essa recuperação vai ser muito mais lenta”, disse.
A perda de emprego de um membro da família é o principal motivo que provocou o atraso no pagamento de dívidas, apontado por 33,1% dos inadimplentes. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) Covid-19 do IBGE, menos da metade (49,7%) dos brasileiros estavam empregados em maio – um recorde negativo no nível de ocupação.
Por outro lado, 11,6 milhões de brasileiros empregados tiveram perda de renda devido à Medida Provisória 936, que permitiu a redução de jornada em até 70% com a redução proporcional dos salários durante a pandemia. Esse motivo é apontado por 17,3% dos inadimplentes.
Ainda que as previsões econômicas afirmem que a recessão em 2020 representará um PIB negativo da ordem de 9%, no Brasil, o governo federal insiste em reduzir o auxílio emergencial – que além de garantir renda para quem não terá nenhuma, tem potencial de ajudar a economia via consumo.
Em live na quinta-feira (24), Bolsonaro e Guedes afirmaram que a ideia é realizar uma redução progressiva nas próximas três parcelas – reduzindo, ao final, o valor pela metade. Mas disseram também que nada está garantido.