Aldomar Guimarães, atual diretor secretário do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), foi eleito presidente do Sindicato da regional de São Paulo e toma posse na próxima quinta-feira (18).
O presidente eleito, em entrevista exclusiva ao HP, declarou que “vê problemas no juro alto para combater a inflação”. Lembra que a dívida pública, no início do governo de FHC, era de R$ 43,5 bilhões. Em abril de 2022, a dívida era de quase R$ 6 trilhões”, constatou.
Aldomar considera fundamental o investimento público “para melhorar as condições de vida do povo brasileiro, em especial, na Saúde, na Educação e na pesquisa em tecnologia de ponta, para o desenvolvimento do país.”
Espera que o governo Lula “nos livre da estagnação econômica que maltrata nosso povo há quase dez anos e restabeleça a diversidade cultural e ideológica em nosso país”. Sobre o salário mínimo, Aldomar lembrou que economias menos desenvolvidas da Europa, por exemplo, como Portugal e Grécia, têm o salário mínimo por volta de 700 euros (mais ou menos R$ 4 mil). “O Brasil está entre as 20 maiores economias do mundo. Pelo menos o salário mínimo deveria estar no mesmo patamar que esses europeus”.
Para o presidente, a categoria deu mostras do seu valor. “Uma das piores consequências dessa política é o arrocho salarial, é a não reposição da inflação”. Os servidores do Banco Central pararam 88 dias, em todo Brasil, contra o arrocho salarial e pela valorização e reconhecimento do servidor – a defasagem dos salários era de 41,17% de 2010 até janeiro de 2023.
O valor da categoria foi demonstrado mais uma vez, trabalhando além do horário na pandemia e criando o popularíssimo PIX, “que veio facilitar a circulação de mercadorias e a segurança”.
O presidente do sindicato regional de São Paulo declarou que seu objetivo é valorizar a categoria, “juntar o vigor dos mais jovens com a experiência dos aposentados” e resistir ao rebaixamento dos salários. Aldomar afirmou que vai “interagir com outros sindicatos e instituições de pesquisa, pela melhoria das condições de vida do povo paulista”.
A seguir, publicamos a entrevista na íntegra.
CARLOS PEREIRA
HP – Qual sua opinião sobre o juro de 13,75%, a maior taxa do mundo?
Aldomar Guimarães – É fundamental se criar as condições para que a taxa de juros caia por duas questões principais:
A primeira é que o aumento do juro faz crescer brutalmente a dívida do governo, que é paga com recurso público e endividamento.
Apenas a título de ilustração, no início do governo de FHC, a dívida era de R$ 43,5 bilhões. Em abril de 2022, a dívida era de quase R$ 6 trilhões É um custo cada vez maior para ser suportado pelo Estado brasileiro.
Além disso, a taxa Selic definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central serve de referência para muitos setores da economia. Por isso, quando ela é mantida em uma taxa alta por muito tempo, as famílias e as empresas passam a ter dificuldades crescentes de acessar o crédito necessário para investir na produção.
HP – O que o senhor espera do governo Lula?
A.G – Investimento público em Saúde e Educação é fundamental. O Brasil não só tem um extenso litoral como tem, ainda, fronteiras a serem desbravadas. Temos a maior floresta tropical do mundo, a maior rede hidrográfica. Espero que Lula desenvolva o país com base na diversidade da sua natureza. Que em nosso país volte a conviver com todas as culturas e todas as ideologias. Desenvolva nossa indústria e preserve o meio ambiente.
Eu espero do governo Lula a volta do investimento público, principalmente, em tecnologias de ponta. Que seu governo nos livre da estagnação econômica que maltrata nosso povo há quase dez anos.
Espero que o Estado volte a ser presença fundamental na melhoria de vida das pessoas. Eu espero a volta do diálogo. Que Lula seja um alento para a empobrecida população brasileira, que melhore sua qualidade de vida, com mais igualdade e isonomia.
HP – E o aumento real do salário mínimo?
A.G – O aumento real concedido para R$ 1.320 não traz o salário mínimo para o atendimento às necessidades básicas do trabalhador. A cesta básica custa R$ 800. Ainda tem educação, saúde, transporte etc. O Dieese faz o cálculo que, para atender as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas, seriam necessários, pelo menos, R$ 6.700.
Economias menos desenvolvidas da Europa, por exemplo, como Portugal e Grécia, têm o salário mínimo de 700 euros (mais ou menos R$ 4 mil). O Brasil está entre as 20 maiores economias do mundo. Pelo menos o salário mínimo deveria estar no mesmo patamar que esses europeus. Não estou dizendo que tem de aumentar tudo de uma vez. Mas pode se estabelecer uma meta, num determinado espaço de tempo. Não é só isso, o Estado tem que possibilitar uma educação de qualidade, moradia. Isso também conta e muito.
HP – Pelo que se viu de fora, os funcionários do Banco Central fizeram a mais longa e unânime greve da história da categoria. Como foi isso?
A.G – Sempre essas políticas ultraliberais têm em comum o juro alto e a doutrina do estado mínimo. Com a pandemia e depois com a guerra na Ucrânia, essa forma de combater a inflação foi aplicada aqui e por outros países. Parece que não tem dado certo, porque a inflação continua crescendo.
Uma das piores consequências dessa política é o arrocho salarial, a não reposição da inflação. Os servidores do Banco Central pararam 88 dias, em todo Brasil, contra o arrocho salarial e pela valorização e reconhecimento do servidor. As perdas salariais eram de 41,17% de 2010 até janeiro de 2023 (com o recente reajuste de 9%, o arrocho caiu para 32,17%). O valor da categoria foi demonstrado mais uma vez.
Já na pandemia, a categoria trabalhou além do seu horário. Criamos, inclusive, o popularíssimo PIX, que veio facilitar a circulação de mercadorias, a velocidade e a segurança dos negócios, fatos reconhecidos, hoje, por todos. Invenção nossa. Quando passamos na rua e vemos os vendedores vendendo com a maior facilidade, sem a maquininha, ficamos satisfeitos.
HP – Quais suas principais metas no sindicato?
A.G – Primeiro é a valorização dos nossos servidores. Acompanhando esta principalidade, está a resistência ao arrocho salarial. Não esquecer nunca daqueles que já passaram por aqui e deram o suor e o sangue para esta instituição estar onde está hoje, que são os aposentados. Trabalhar com afinco para que essa geração que vem depois da gente possa nos substituir melhor do que fomos. Não acredito em entidade que não se renova. Precisa do sangue novo. Juntar a experiência com o vigor da juventude.
Fazer com que o Banco Central interaja com outras instituições e categorias similares e planejemos ações que tragam melhoria de vida para população, como fizemos com a criação do PIX. Vamos procurar instituições como o Butantã e a Fiocruz, que se dedicam à pesquisa para benefício da população e dar nosso apoio no que for possível. O Brasil precisa de investimento público em pesquisa.