Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que avisou da prisão de Tiradentes e tentou iniciar a rebelião mesmo após a traição de Silvério dos Reis, ganhou uma lápide junto aos demais revolucionários
O resgate da inconfidente Hipólita Jacinta Teixeira de Melo por parte da direção do Museu da Inconfidência, que decidiu dedicar uma lápide a ela no Panteão da Pátria, criado por Getúlio Vargas em 1942 para abrigar os restos mortais dos heróis, mandados trazer por ele do exílio, é um reconhecimento à coragem desta mulher que lutou ao lado de Tiradentes pela independência do Brasil.
GETÚLIO TROUXE OS RESTOS MORTAIS DOS EXILADOS
A lápide de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi colocada ao lado de outros 16 inconfidentes. O panteão está localizado dentro do Museu da Inconfidência. Em 1936, Getúlio também tornou públicos Autos da Devassa, toda a documentação do processo e condenação dos revolucionários.
O corpo de Tiradentes não se encontra no Panteão da Pátria, junto aos seus camaradas, porque seu corpo, esquartejado, tendo suas partes enviadas para os locais por onde ele passou organizando o movimento de independência, nunca foi encontrado.
Assim como Barbara Heliodora, companheira de Alvarenga Peixoto, Inácia Gertrudes de Almeida, que escondeu Tiradentes dos algozes da Coroa Portuguesa, no Rio de Janeiro, e Antônia Maria do Espirito Santo, companheira de Tiradentes, Hipólita Jacinta fez parte do pequeno grupo de mulheres que tiveram participação direta e indireta nas lutas iniciais pela liberdade no Brasil.
Inácia Gertrudes de Almeida também foi uma importante figura feminina ligada à Inconfidência Mineira de 1789. Ela prestou ajuda a Tiradentes, quando ele esteve no Rio de Janeiro, escondendo-o após o início das perseguições desencadeadas pela traição de Silvério dos Reis. Como ela era viúva, então com 53 anos, e morava em uma casa com a filha solteira, de 27 anos, pediu para o seu compadre, um artesão que vivia na Rua dos Latoeiros, para que abrigasse Tiradentes em sua casa, local onde este foi preso mais tarde.
MULHERES COM PAPEL DE DESTAQUE
“Ao introduzir a lápide de uma mulher [Hipólita Jacinta Teixeira de Melo], você tem também um impacto de mudança na mentalidade. Ou seja, as mulheres tiveram, desempenharam, um protagonismo em momentos importantes da nossa história, e isso precisa ser contado”, afirma Alex Calheiros, diretor do Museu da Inconfidência. Por esta participação, na Conjuração Mineira, Dona Hipólita teve os seus bens sequestrados pela Coroa Portuguesa, inclusive os recebidos de herança paterna. Após longo processo, conseguiu resgatar o que haviam lhe tomado.
“Não se sabe se era magra, se era gorda, cor do cabelo, nada. Ficaram os feitos. E, nesse caso, quando eu recebi esse desafio falei: vamos vê-la de costas, sinalizando para nós em qualquer tempo aquilo que nós não podemos perder de vista, que é a luta pela liberdade”, conta o estilista Ronaldo Fraga, demandado para dar forma a esta personagem tão importante mas que não teve nenhum registro de sua imagem.
Hipólita Jacinta Teixeira de Melo escreveu uma carta enviada ao Padre Toledo, um dos inconfidentes, em missiva enviada por seu compadre Vitoriano Gonçalves Veloso.
Na carta ela ela avisa os demais inconfidentes sobre a prisão de Tiradentes e tentou estimular o início do levante que havia sido planejado. “Dou-vos parte com certeza de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério e o alferes Tiradentes para que vos sirva, ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra”
“Ela fez a coisa, a ação mais proibida para a mulher, que é entrar na cena política e se apresentar com voz pública. Por isso, me parece que a repressão, a forma da repressão, é apagar. Ela não existiu. É o esquecimento. Ela pagou um preço alto por ser a mulher valente que ela foi”, diz a professora Heloisa Starling, historiadora da UFMG.
MESMO COM A TRAIÇÃO, ELA TENTOU DESENCADEAR A REVOLTA
Hipólita Jacinta, ou melhor, Dona Hipólita, como ficou conhecida em toda região do Rio das Mortes, morava na Fazenda da Ponta do Morro, situada no sopé da Serra de São José, ponto estratégico do Caminho Velho, que ligava Vila Rica a Paraty, por onde escoava o ouro roubado ao Brasil.
De lá, ela enviava bilhetes aos inconfidentes, principalmente ao Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, em São José del Rei, e ao seu marido, o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que era companheiro do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, no Regimento de Dragões de Minas. Foi este que, em seu depoimento, deu a informação de que Tiradentes já participava do movimento desde pelo menos 1785.
Nascida em Prados, em 1748, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo tinha personalidade forte, destemida e possuidora de grande intelectualidade. Hipólita ousou sair da esfera doméstica e reivindicou seu lugar de fala no meio político. Com isso, foi personagem de grande importância na Conjuração Mineira, ao colaborar para a comunicação entre os inconfidentes, além de financiar algumas das ações do movimento (já que detinha grande riqueza) e disponibilizar sua residência, a Fazenda Ponta do Morro, para encontros e reuniões dos mesmos.
BÁRBARA HELIODORA
Outra personagem importante na inconfidência foi bárbara Heliodora. Para o escritor Aureliano Leite em sua obra “A Vida Heroica de Barbara Heliodora”, “ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que lhe acalentou o seu sonho da inconfidência do Brasil; … quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Bárbara que o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Ela também foi punida com a perda de seus bens e teve sua família perseguida pela repressão da Coroa portuguesa.
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