Indicados de Haddad se somaram a Campos Neto na sabotagem à economia brasileira
O Comitê de Política do Banco Central (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira, (19) manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 10,50% ao ano, agredindo ainda mais o setor produtivo, os trabalhadores e os consumidores brasileiros com juros altos e elevando o assalto aos cofres públicos – via pagamento recordes dos juros da dívida pública.
A decisão da manutenção da taxa de juros nominal em 10,50% foi confirmada em votação unânime do colegiado de diretores do BC. Ou seja, a paulada veio com o apoio dos quatro membros que foram indicados pelo governo Lula.
“Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira”, diz trecho do comunicado da reunião do Copom.
2º MAIOR JURO REAL DO MUNDO
Com a decisão, a taxa de juros reais ficou em 6,79%, segundo levantamento feito pelo MoneYou, apontando que o Brasil segue firme na segunda colocação no ranking mundial de juros reais (quando descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses – de 3,96%). Em 8 de maio, última reunião do Copom, a taxa de juro real brasileira estava em 6,54%.
Segundo a consultoria financeira, a média global de juro real, entre os 40 países pesquisados, ficou em 0,36%. O juro real é o que realmente importa para economia, pois quando ela sobe, o custo do crédito também aumenta, influenciando, assim, a decisão dos setores produtivos do país a não realizarem investimentos – leia-se, reduções de postos de trabalho e salários .
No comunicado, o Copom destaca que “a inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação” e que “as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente”, sendo que as “projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025”.
Então, o que se projeta é uma inflação baixa, controlada e dentro das bases da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Ou seja, não há justificativas para a paralisação dos cortes na Selic.
O que justifica, portanto, tal afronta aos brasileiros, que clama por juros baixos neste país? Só há uma resposta: a ganância dos bancos em elevar ainda mais os seus ganhos, via o pagamento de juros da dívida pública.
Beneficiado pela política monetária do BC, só nos últimos 12 meses até abril o mercado financeiro obteve cerca de R$ 776 bilhões – dinheiro extraído de toda sociedade para um grupo seleto de magnatas locais e estrangeiros. Para manter os ganhos desta magnitude, os banqueiros e rentistas exigem do governo cortes orçamentários – o que significa baixar os investimentos do Estado (em Saúde, Educação, Segurança) – com base no limite de gastos imposto pelo “Arcabouço Fiscal” e metas fiscais rígidas criadas pela equipe econômica do governo. O gasto com os juros está dispensado das normas e metas fiscais vigentes.
Foi nesse sentido que, após a última reunião do Copom, em que o colegiado registrou um corte de 0,25%, desacelerando o ritmo de redução da SELIC, o presidente do BC, Campos Neto atuou para agitar os porta-vozes do cooperativismo financeiro na mídia para o acirramento da posição, de que o governo caminha para o descontrole do gasto público – uma situação falsa – mas que justificaria o BC paralisar o ciclo de corte da taxa básica, iniciado em agosto do ano passado, época em que a Selic estava em 13,50%.
O ruído aberto culminou na histeria dos agentes de mercado, que passaram a elevar as projeções para a taxa de juro Selic de curto e longo prazo, projeções de inflação entre outros prognósticos, com o fim de enquadrar à equipe econômica do governo na adoção de corte orçamentários e avançar contra a Previdência Social e os mínimos constitucionais em Saúde e Educação.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz outro trecho do comunicado do BC.
ARROCHO MONETÁRIO
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), fez críticas à decisão do Copom.
“Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5%, quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a banda da meta de inflação”, escreveu Gleisi, em publicação no X (antigo Twitter).
“Não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai conseguir credibilidade, nem hoje, nem nunca”, completou Hoffmann.
Após a decisão do BC, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou nota, em que classifica a decisão do Copom como “inadequada e excessivamente conservadora”. “A decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda”, criticou.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, avalia que “a manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, defendeu.
A CNI destacou na nota ainda que, “mesmo se o Copom tivesse reduzido a Selic em 0,25 ponto percentual, o que seria o mais adequado, a taxa de juros real estaria em 6,4% ao ano, ou seja, 1,9 ponto acima da taxa de juros real neutra, ainda denotando política monetária fortemente contracionista”.
Nos primeiros três meses de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,8%, em comparação ao trimestre imediatamente anterior. Após seis meses em estagnação, o crescimento do PIB veio novamente calcado na atividade agropecuária (cresceu 11,3%), apesar do setor de serviços (alta de 1,4%) ter influenciado diretamente para o resultado positivo do PIB.
Por outra via, prejudicada pelos altos juros, a indústria brasileira segue em ritmo fraco. O setor variou em queda de -0,1% frente ao quarto trimestre de 2023. A indústria de transformação – que é responsável por cerca de 85% da indústria brasileira – cresceu apenas 0,7% no período, o que manteve a atividade operando 17,8% abaixo do nível recorde registrado no terceiro trimestre de 2008 (há mais de 16 anos), segundo a série histórica da pesquisa do IBGE.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, também rechaçou a decisão do Copom afirmando que, “ao manter em 10,5% ao ano o patamar da taxa básico de juros (Selic), o Banco Central não apenas quebra uma sequência de sete reduções consecutivas, mas coloca um freio, artificialmente e sem nenhuma razão, no desenvolvimento econômico e social do país”, criticou em sua rede social.
ANTONIO ROSA