“Há que se evitar uma intervenção militar”, afirmou a União Europeia em resposta às reiteradas declarações de Washington e seu ‘presidente encarregado’ Juan Gaidó de que “todas as opções estão sobre a mesa”, após o fiasco da provocação da ajuda forçada ‘humanitária’ à Venezuela no fim de semana.
“A posição da UE é muito clara”, acrescentou porta-voz da Alta Representante de Política Externa, Federica Mogherini. O que a Venezuela precisa é de “uma saída pacífica, política e democrática, o qual, evidentemente, exclui o uso da força”.
Mesmo na reunião do Grupo de Lima – conformado sob ordens de Washington para acelerar a ingerência na Venezuela -, ficaram isoladas as vozes a favor de “todas as opções sobre a mesa”, isto é, da intervenção armada estrangeira.
Em sua declaração no encontro do dia 25, está estabelecido que, “Os países presentes reiteram sua convicção de que a transição para a democracia deve ser conduzida pelos próprios venezuelanos pacificamente e em respeito à Constituição e ao direito internacional, apoiada pelos meios políticos e diplomáticos, sem o uso da força”,
Desde Sharm El Sheik, no Egito, onde se realizava a cúpula Europa-Árabes, declaração dos 28 países integrantes da UE, articulada por Mogherini, reafirmou que “as origens da crise atual da Venezuela são políticas e institucionais; daí que a solução só pode ser política”.
A maior parte da UE reconheceu Guaidó, mas aceita conversar com Caracas sobre eleições e ajuda humanitária via ONU e Cruz Vermelha, e integra grupo de mediadores junto México, Uruguai e Comunidade do Caribe (Caricom).
Horas antes, o chanceler espanhol Joseph Borrell advertira que “não apoiaríamos, e condenaríamos firmemente, qualquer intervenção militar estrangeira, que esperamos que não se produza”.
Antes mesmo da cúpula em Bogotá, Chile e Peru, dois governos bastante alinhados à Casa Branca, já haviam dito estar contra a intervenção militar externa. . “Reiteramos e enfatizamos que o Chile apóia uma solução política e pacífica”, afirmara o chanceler Piñera, Roberto Ampuero. “O Chile não está disponível para outro tipo de alternativa”.
O presidente peruano Martin Vizcarra antecipara não achar “apropriado ou oportuno uma intervenção militar”, após asseverar que considerava “irreversível” a queda de Maduro.
O presidente Evo Morales – cujo país não faz parte do Grupo de Lima por motivos óbvios – postou mensagem voltada aos “irmãos presidentes”, em que registrou que “respeitando nossas diferenças políticas e como líderes democraticamente eleitos, lhes peço, com muito respeito, que busquem uma solução mediante o diálogo como opção para salvar vidas e evitar que a guerra traga destruição à nossa América Latina”.
Naquilo que o El País chamou de “rotundo não” à opção militar como saída para a crise venezuelana, o vice brasileiro, general Hamilton Mourão, afirmou na cúpula que “nunca foi uma opção” e que “advogamos pela não intervenção”. “Que eu saiba, ninguém está apostando em uma opção militar”, asseverou. É preciso “paciência e resiliência”. De acordo com ele, a operação para devolver a Venezuela ao “concerto democrático americano” é possível “sem qualquer medida extrema que nos confunda com aquelas nações que foram julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais”.
“Respeitamos os princípios de territorialidade e o princípio de não intervenção, pelo que rechaçaremos qualquer solução militar ou ameaça de uso da força”, disse o presidente guatemalteco Jimmy Morales.
Na cúpula, o vice-presidente dos EUA Mike Pence transmitiu as saudações do “grande defensor da democracia, Donald Trump”, anunciou sanções contra três governadores e voltou a exigir dos militares venezuelanos a derrubada de Maduro, “ou vão perder tudo”. Ele cobrou, ainda, do Grupo de Lima a adesão total às sanções de Trump, para capturar bens da PDVSA, a petroleira estatal venezuelana, e transferi-los a Guaidó.