O alto representante para Assuntos Exteriores e Política de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, afirmou na sexta-feira, 17, que as sanções dos Estados Unidos contra o gasoduto Nord Stream 2 são “contrárias” ao direito internacional e sublinhou que as políticas europeias “devem determinar-se pela e na Europa e não por terceiros”.
O Nord Stream 2, com 55 bilhões de metros cúbicos anuais, dobra o fornecimento de gás russo diretamente à Alemanha através do mar Báltico – e dali para outros países europeus -, e dificulta provocações de parte de governos hoje subservientes aos EUA, como o da Polônia e da Ucrânia, o que fortalece a segurança do fornecimento do gás vital para o crescimento da economia europeia com menos poluição.
“Estou profundamente preocupado pelo uso crescente de sanções, ou a ameaça de sanções, por parte dos EUA contra empresas e interesses europeus”, assinalou Borrell.
“A União Europeia se opõe ao uso de sanções por parte de terceiros países sobre empresas europeias que realizam negócios legítimos. Além disso, considera que a aplicação extraterritorial de sanções é contrária ao direito internacional”, assinalou.
“As políticas europeias devem determinar-se aqui na Europa e não por terceiros países”, frisou Borrell.
Na última quarta-feira, 15, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que seu departamento está tomando medidas que permitiriam a Washington impor sanções aos investidores dos projetos Nord Stream 2 e TurkStream, que levariam gás natural desde a Rússia para a Turquia e a Europa. Pompeo ameaçou esses investidores dizendo que deveriam “sair agora ou arriscar-se a sofrer consequências”.
O ministro de Assuntos Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, declarou na quinta-feira, 16, que seu país rechaça as ameaças de sanções, feitas por Mike Pompeo, relacionadas com a construção desse gasoduto.
“Com seus anúncios de medidas que ameaçam com sanções também às empresas europeias, o governo dos EUA ignora o direito e a soberania da Europa para decidir por si mesma onde e como recebemos nossa energia”, declarou em comunicado.
A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, já tinha deixado claro em dezembro de 2019, em Berlim, que a Alemanha “não recuará” do gasoduto Nord Stream 2, em parceria com a Rússia, apesar das sanções do Senado dos EUA aprovadas na véspera e anexadas ao orçamento do Pentágono para este ano de 2020.
Também o Kremlin rechaçou as pressões, com o porta-voz Dmitry Peskov classificando as sanções contra o gasoduto de “uma violação direta do direito internacional” e “um exemplo perfeito de concorrência desleal” e de disseminação do “domínio artificial sobre os mercados europeus”.
Peskov denunciou que Washington está “impondo aos consumidores europeus produtos mais caros e não competitivos – gás natural mais caro”, e foi peremptório em que tais ameaças não conseguirão deter o Nord Stream 2. “O Nord Stream 2 será concluído”, garantiu.
O gasoduto deveria ter sido finalizado até o final do ano passado, mas em função de atrasos na liberação da colocação de dutos de parte das autoridades dinamarquesas, ficou para meados de 2020.
Nesse contexto, o ministro Heiko Maas afirmou que “a política energética europeia se implementa na Europa, não em Washington”. “Rechaçamos claramente as sanções extraterritoriais”, acrescentou.
O gasoduto em questão corresponde a uma extensão do atual gasoduto Nord Stream, e poderá abastecer 26 milhões de lares e reduzir consideravelmente o custo de energia nas desmedidas contas dos cidadãos europeus.