
“O governo decidiu desfinanciar tudo relacionado ao setor público e, em casos como o nosso, decidiu contra algo que estava funcionando bem”, denunciou Guillermo Durán, reitor da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires
Em resposta à asfixia de recursos destinados pelo governo de Javier Milei ao ensino público, as 57 universidades nacionais argentinas paralisaram suas atividades de 11 a 16 de agosto para exigir respeito ao pleno funcionamento, ameaçado pelo torniquete neoliberal, que não atinge só os salários dos funcionários, mas também as despesas operacionais e de pesquisa.
Conforme o reitor da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires, Guillermo Durán, os sucessivos cortes no orçamento do ensino superior para fazer caixa ao estrangeiro são motivados única e exclusivamente por “questões ideológicas”. “Eles vão fazer com que comece a funcionar mal e depois terão uma justificativa para não financiá-lo; é perverso”, condenou.
O fato, denunciou o reitor, é que o governo Milei “decidiu desfinanciar tudo relacionado ao setor público e, em casos como o nosso, decidiu desfinanciar algo que estava funcionando bem”, tornando mais grave a situação.
O alerta de Durán encontra eco em amplos setores da sociedade, com os cortes drásticos nos gastos públicos provocando um tsunami de protestos de aposentados, professores e médicos.
“COM TRABALHADORES ABAIXO DA LINHA DA POBREZA, NÃO HÁ UNIVERSIDADE POSSÍVEL”
A Confederação Nacional dos Professores Universitários (Conadu) reiterou a gravidade da situação e confirmou que a greve de professores e funcionários continuará com força. “Com trabalhadores abaixo da linha da pobreza, não há universidade possível”, afirmou a entidade, apontando a queda do poder de compra e o corte de recursos.
A Faculdade de Odontologia afirmou que os salários de funcionários e professores “foram cortados em 45%” e que “as despesas operacionais estão congeladas; com uma inflação anual de 100%, isso é muito complicado para nós”. Por sua vez, a Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo (Faduba) alertou que “Milei cortou os repasses para as universidades nacionais em 22,5% nos primeiros cinco meses de 2025” e que a diferença acumulada no poder de compra atingiu 91%, o equivalente a “quase sete salários a menos desde dezembro de 2023”.
“Desde que Milei assumiu o cargo, não houve negociações, o que nega o direito à negociação coletiva”, acrescentou a Associação dos Docentes da Universidade Nacional (Adunc) de Comahue, frisando que, nesse sentido, “o ensino universitário está sofrendo o pior atraso da história”.
Enquanto isso, eles esperam que o presidente Javier Milei vete a recém-aprovada Lei de Financiamento Universitário, que recebeu 158 votos a favor, 75 contra e 5 abstenções em uma maratona de sessões na Câmara dos Deputados. Eles acreditam que ela terá o mesmo destino daquela que o presidente vetou em 2024.
Especificamente na questão salarial, a oferta do governo no último acordo coletivo de trabalho foi de míseros 1,3%. Os professores esperavam recuperar o que haviam perdido desde 1º de dezembro de 2023 em pelo menos 45%.
Questionado sobre os motivos do corte de verbas, Durán respondeu: “Certamente não é uma questão orçamentária; entendo que seja uma questão ideológica. Um amigo economista me disse que o que o governo perderá ao não cobrar as retenções do imposto agrícola é 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), e que a mudança nas isenções de bens pessoais equivale a 0,15% do PIB. Ambos os valores estão acima do que a Lei Universitária exige, que é de 0,1% do PIB”.