O restante das compras teria sido pago com cheques e outras formas de pagamento. Site refez seus cálculos anteriores. Valor também é bastante alto para os salários de dois deputados e um vereador. No total foram comprados 107 imóveis
Jair Bolsonaro tenta desesperadamente se desqueimar no escândalo, denunciado pelo site Uol, da compra de 51 imóveis pela sua família e pagos com dinheiro vivo, num valor total de R$ 25,6 milhões, em valores corrigidos. A jornalista Juliana Dal Piva, do Uol, que acaba de publicar um livro sobre o escândalo, foi quem descobriu toda a maracutaia.
Em sua propaganda de TV, Bolsonaro diz que a jornalista estaria mentindo e que, quando se lê nas escrituras dos imóveis investigados por ela que os mesmos foram pagos em moeda corrente, isso não significaria que tenha sido em dinheiro vivo.
Juliana Dal Piva desmentiu o presidente e detalhou as compras, em nova reportagem, mostrando que houve sim pagamento em dinheiro vivo. Do total de 107 imóveis adquiridos pelo clã Bolsonaro, 51 teriam sido pagos total ou parcialmente “in cash”.
Nas escrituras estavam presentes diversos tipos de pagamentos. Desde cheques, transferências e promissórias, até pagamentos em “moeda corrente contada e conferida”. Ou seja, ninguém “conta” e nem “confere” se não for em dinheiro vivo. Havia também escrituras em que não se especificava a forma de pagamento. Em suma, a explicação de Bolsonaro não convence ninguém. Foram mais de uma centena de imóveis adquiridos, com vários deles pagos em dinheiro, o que fatalmente levantaria dúvidas sobre a origem do dinheiro.
Até porque, Flávio Bolsonaro, filho de Jair, foi acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de lavar os cerca de R$ 6 milhões desviados por ele, e por seu faz-tudo, Fabrício Queiroz, no esquema da rachadinha da Assembleia Legislativa do Estado, entre outras formas, com a compra e venda fraudada de imóveis.
Em sua primeira reportagem, o site “Uol” calculou que esses 51 imóveis totalizaram R$ 13,5 milhões. Porém, com a devida correção esse dinheiro equivale a R$ 25,6 milhões. Isso só nos imóveis que teriam sido pagos em dinheiro vivo, fora os demais, já que o total de imóveis comprados pela família Bolsonaro nesses trinta anos, desde que Bolsonaro entrou para a política, foram 107.
São números e valores totalmente incompatíveis com os rendimentos da família e com os salários de parlamentares.
Pois bem, evidentemente que a oposição cobrou do presidente explicações sobre estes números. Como é que uma família de classe média baixa, formada também por parlamentares, no caso, Jair Bolsonaro, deputado federal, Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, e Carlos Bolsonaro, vereador, conseguiram comprar tantos imóveis e manipular valores tão altos?
Não adianta o presidente ficar nervoso e esbravejar, como tem feito, quando o assunto é tratado. Ele tem que explicar de onde surgiu tanto dinheiro. Não só os imóveis que foram pagos em dinheiro vivo – o que já levanta a suspeita de que houve lavagem de dinheiro, mas também os que foram pagos de outras formas. Afinal, de onde veio tanto dinheiro para a compra de tantos imóveis?
Em seguida, em 9 de setembro, saiu uma outra reportagem do Uol com o título: “‘Imobiliária Bolsonaro’ tem que explicar compra de 51 imóveis em dinheiro.” Depois, em mais uma outra reportagem, também no dia 9 de setembro, o Uol publica o seguinte título: “Clã Bolsonaro: as evidências de dinheiro vivo em cada um dos 51 imóveis”. A reportagem detalha as compras. Ou seja, foi divulgado um farto material mostrando as maracutaias da família Bolsonaro. O material foi tão farto que suscitou até a elaboração de um livro da jornalista Juliana Dal Piva, “A história proibida do clã Bolsonaro”.
A propaganda do PT, levada à TV, cumpriu sua obrigação e cobrou explicações sobre o escândalo dos R$ 25,6 milhões que, segundo a investigação do Uol, teriam sido usados pela família Bolsonaro para pagar em dinheiro os imóveis.
Eis que, nesta quarta-feira (14), o site refez os cálculos e afirmou que a campanha de Lula teria se equivocado sobre o valor total descrito pela sua própria reportagem de 30 de agosto. Segundo a nova versão do Uol, a família Bolsonaro teria usado dinheiro vivo no valor de R$ 11 milhões, em valores corrigidos, e não R$ 25,6 milhões como tinha dito anteriormente.
Diz um trecho da reportagem desta quarta-feira (14): “Diferentemente do que dá a entender a peça [do PT], a família Bolsonaro não pagou R$ 25,6 milhões em dinheiro vivo – em valores atualizados – para a compra de imóveis. Na verdade, este número corresponde ao valor do total das transações de imóveis com uso total ou em parte de dinheiro vivo, com correção monetária”.
Ou seja, a reportagem diz que “o PT erra” sobre o uso de dinheiro vivo para compra de imóveis pela família Bolsonaro. Só que essas informações nas quais a campanha de Lula se baseou foram reveladas pelo próprio Uol em reportagem de 30 de agosto. É só conferir o título da reportagem do Uol de 30 de agosto. “Metade do patrimônio do clã Bolsonaro foi comprada em dinheiro vivo.”
Vejam mais um trecho da reportagem do Uol de 9 de setembro sobre o artigo de Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, que deram base para a cobrança de Lula.
“Juliana Dal Piva e Thiago Herdy desmentem Jair Bolsonaro (PL) que disse na jovem Pan que o Uol confundiu deliberadamente o uso da expressão moeda corrente nacional” com dinheiro vivo ao reportar transações imobiliárias realizadas nos últimos 30 anos por integrantes de sua família. Segundo o presidente, ‘[em] qualquer escritura está escrito moeda corrente’. A afirmação do presidente está errada. O Uol publica hoje mais detalhes do levantamento em que se baseou a reportagem que mostrou ter pagamento parcial ou total de dinheiro vivo.
E aí segue ao detalhamento das compras.
Jair, Rogéria e Ana Cristina
8 imóveis: casas, apartamentos e lotes no Rio e em Brasília
Valor de compra: R$ 973,1 mil (R$ 3,2 milhões corrigidos)
Filhos
Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro
19 imóveis: apartamentos e salas comerciais no Rio
Valor de compra: R$ 8,5 milhões (R$ 15,7 milhões corrigidos)
Irmãos e mãe
Maria Denise, Maria Solange, Vânia, Renato e Olinda
Valor de compra: R$ 4,1 milhões (R$ 6,6 milhões corrigidos)
24 imóveis: casas, lotes e imóveis comerciais em São Paulo
Mesmo que a nova reportagem revendo os números esteja certa e que o levantamento de 30 de agosto tivesse se equivocado, o fato de R$ 11 milhões em dinheiro vivo terem sido usados para pagamento dos imóveis, em vez dos R$ 25,6 milhões, não deixa de ser um escândalo. Mesmo essa é uma quantia muito elevada para a família Bolsonaro.
Mas, é bom que se registre que quem mudou os cálculos não foi a campanha de Lula e, sim, o próprio site Uol. Portanto, não houve erro por parte da campanha.
O que se tem, no caso, é realmente um escândalo tamanho família. Um escândalo envolvendo a compra de 107 imóveis pela família Bolsonaro desde que ele e seus filhos entraram para a política. É isso que está deixando Bolsonaro atordoado. Metade destes imóveis, que envolvem casas, terrenos, escritórios e mansões de luxo, teriam sido pagos em dinheiro vivo. Seja R$ 25 milhões ou R$ 11 milhões, o fato é que Jair Bolsonaro deve uma explicação ao país.
Detalha quantos imóveis foi comprado por Jair Messias Bolsonaro, valor e forma de pagamento em qual ano?
A matéria diz que do total de 107 imóveis adquiridos pelo clã Bolsonaro, 51 foram pagos total ou parcialmente à vista. Quer mais detalhes do que isso? Para quê, leitor? Mas, tem outros, no mesmo artigo.