Líderes russos repudiam a tentativa de nublar o histórico papel da União Soviética na libertação dos povos da bestialidade nazista
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reafirmou na quinta-feira (30) o papel fundamental da União Soviética na derrota do nazismo, ao comentar declarações do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, sobre a contribuição dos Estados Unidos para a libertação da Alemanha.
“Foi a União Soviética que, com a ajuda de seus aliados, Reino Unido, Estados Unidos e outros, de fato suportou os principais fardos da libertação. Foi o povo soviético que realizou esse feito para toda a humanidade, salvando-a da ‘praga marrom'”, disse Peskov.
Para Peskov, essa “tentativa deliberada de apagar a verdade histórica” tem como consequência o “crescimento do nazismo”, que “se enraizou significativamente na Ucrânia e está marchando de volta pela Europa”.
O esclarecimento foi em resposta a Scholz, que afirmou que a Alemanha deve continuar reconhecendo sua responsabilidade pelo Holocausto e destacou o papel dos Estados Unidos na democratização do país após a Segunda Guerra Mundial.
O gesto de vassalagem de Scholz aos EUA não passou despercebido pela porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, que escreveu no Telegram: “Então os alemães foram libertados apenas pelos Estados Unidos? Não houve 600 mil soldados soviéticos mortos libertando a Polônia e Auschwitz? O gabinete do comandante soviético não salvou os berlinenses da fome em 1945? Não teve uma bandeira vermelha no Reichstag?”.
Ela também criticou a historiografia ocidental, que “difama o Exército Vermelho, nega o genocídio do povo soviético e mantém uma segregação das vítimas do nazismo”. Para a porta-voz, é fundamental “defender a verdade histórica”.
A questão fica ressaltada quando a nação que libertou Auschwitz e revelou ao mundo o Holocausto ali perpetrado é deixada de fora das comemorações. “Oitenta anos depois, a libertação de Auschwitz é celebrada com a participação de países que organizaram o Holocausto em Auschwitz, como a Alemanha e seus aliados, ou países que forneceram guardas, como Polônia ou Croácia”, assinalou o vice-primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vulin, denunciando a tentativa de “reescrever a história”.
Se ainda há prisioneiros vivos de Auschwitz entre nós, pergunte a eles a quem eles devem suas vidas – aos netos dos soldados do Exército Vermelho ou aos netos dos soldados da SS e da Wehrmacht.”
CONTRA IMIGRANTES, CDU FLERTA COM AfD
A carapuça serve bem à própria Alemanha, quando nas eleições de fevereiro o partido que está à frente nas pesquisas, a “democracia-cristã” (CDU), agora encabeçado por um ex-banqueiro da BlackRock, Friedrich Merz, acaba de aprovar no Bundestag uma nova diretriz anti-imigração graças aos votos da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido recém-endossado pelo bilionário bôer-americano, Elon Musk, o das saudações nazistas na posse de Trump.
A nova diretriz, apresentada pela CDU, passou por muito pouco, 348 votos a favor, 345 contra e 10 abstenções. Na semana passada, o endosso de Musk à AfD foi respondido por 100 mil manifestantes no Portão de Brademburgo.
A convergência entre a CDU e a AfD – esta, em segundo lugar nas pesquisas – traz receio de que o “cordão sanitário” que vetava alianças com neonazistas esteja com dias contados na Alemanha.
A AfD festejou mais esse passo para a banalização do neonazismo. O parlamentar Bernd Baumann declarou no plenário: “Algo novo está começando”. Já a líder do partido, Alice Weidel, celebrou nas redes sociais: “Um dia histórico para a Alemanha”.
Representantes de igrejas evangélicas e católicas divulgaram uma carta pedindo à CDU que recue, alertando sobre a cumplicidade com a xenofobia e as medidas que ferem os direitos humanos.
Até mesmo a ex-primeira-ministra Angela Merkel, também da CDU, rechaçou a convergência com a AfD. “Considero errado não se sentir mais vinculado a essa proposta [de isolar a extrema direita] e, com isso, permitir conscientemente, pela primeira vez em uma votação no Bundestag alemão, uma maioria com os votos da AfD.”
Ela convocou a “todos os partidos democráticos, conjuntamente e além das fronteiras partidárias”, a fazerem tudo o que for possível “para evitar, no futuro, atentados terríveis como os ocorridos recentemente, pouco antes do Natal, em Magdeburgo, e há poucos dias, em Aschaffenburg”.
De acordo com as pesquisas mais recentes divulgadas em 24 de janeiro, o CDU tem 30% dos votos. Em segundo, a AfD, com 20%. Os social-democratas (SPD) de Scholz têm 17%.
Um governo da CDU seria ainda mais acoelhado a Washington do que o governo Scholz, com Merz se declarando a favor de entregar ao regime neonazi de Kiev mísseis Taurus de fabricação alemã e de eternizar a guerra por procuração contra a Rússia para anexação da Ucrânia à Otan.
Sob o efeito bumerangue das sanções decretadas contra a Rússia e da perda do gás russo barato e confiável, a Alemanha está sob estagnação há dois anos e a desindustrialização entrou na ordem do dia.
Há 80 anos, o país segue sob a presença de 35 mil soldados norte-americanos e Washington anunciou que irá implantar mísseis intermediários na Alemanha, trazendo de volta a iminência de uma guerra nuclear, como a Europa já viveu nos anos 1980.