Repórteres do Fantástico, da Rede Globo, foram até os EUA onde houve as vendas das joias desviadas por Bolsonaro. Um Rolex teve que ser recomprado quando o escândalo estourou. Nome de Wassef aparece no recibo da recompra, diz a PF
A reportagem do Fantástico, da Rede Globo, neste fim de semana foi arrasador para a família Bolsonaro e para seu “faz-tudo”, o tenente-coronel Mauro Cid. Os repórteres foram até os Estados Unidos onde as joias desviadas por Bolsonaro foram vendidas ou onde eles tentaram vendê-las. Foram três os lugares visitados Nova York, na Pensilvânia e na Flórida.
BUSCA E APREENSÃO
A Polícia Federal abriu uma operação na semana passada para investigar a negociação, nos Estados Unidos, de presentes luxuosos recebidos por Jair Bolsonaro quando este era presidente. Foram feitas operações de busca e apreensão nas residências de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, na casa de Mauro Cid e de seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid,que recebeu dinheiro vivo em sua conta após a venda de uma das peças desviadas.
A reportagem relembra que, em visita à Arábia Saudita, em outubro de 2019, o presidente recebeu do governo do país o que a Polícia Federal chama de “kit ouro branco”. O destaque do kit era um relógio da marca Rolex. Mais tarde, esse relógio e um outro, da marca Patek Philippe, foram vendidos a uma loja de um shopping no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. A origem do relógio Patek Philippe ainda é incerta. Segundo a Polícia Federal, pode ter sido um presente que Bolsonaro recebeu quando foi ao Bahrein, em novembro de 2021.
KIT OURO ROSÉ
Em outubro de 2021, em visita à Arábia Saudita, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu o chamado “kit ouro rosé”: relógio, abotoaduras, caneta, anel e um rosário islâmico da marca de luxo Chopard. Bento voltou ao Brasil sem declarar o kit à Receita Federal.
Em junho de 2022, tenente-coronel Mauro Cid, assessor de Bolsonaro, foi para Los Angeles, nos Estados Unidos, junto com o presidente, integrando a comitiva presidencial, mas não voltou para o Brasil. Ele tinha ido para o encontro da Cúpula das Américas. De lá, passou em Orlando, onde ficou menos 24 horas. A viagem foi para a inauguração do vice-consulado brasileiro na cidade.
Segundo as investigações, Mauro Cid foi para a casa do pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que morava em Miami. Em seguida, Mauro Cid viajou de Miami para Pensilvânia, onde, segundo a Polícia Federal, conseguiu vender o Patek Philippe e o Rolex à loja Precision Watches pelo equivalente a R$ 346 mil. Depois da venda, a conta do pai, o general Lourena Cid, recebeu um depósito de US$ 68 mil, o mesmo valor pago pelos relógios.
ROLEX VENDIDO
Segundo a PF, depois de vender o Rolex do kit ouro branco e o relógio Patek Philippe, Mauro Cid foi da Pensilvânia para Miami. Lá ele tentou vender o restante do kit. Foi a uma rua no centro da cidade onde há lojas que compram e vendem ouro e joias. Tem, inclusive, um shopping com mais de 300 joalherias. As investigações mostram que foi em uma delas que Mauro Cid colocou à venda o anel, as abotoaduras e o rosário islâmico do kit.
A PF informa que em dezembro de 2022, o kit deixou o Brasil no avião presidencial que levou Jair Bolsonaro para os Estados Unidos. Pouco tempo depois, o kit aparece em um site de leilões em Nova York. É na sala 507 de um prédio que fica no centro de Manhattan que funciona uma casa de leilões chamada Fortuna Auction. A empresa, que se apresenta como a única do ramo especializada em joias e relógios, colocou à venda o kit ouro rosé em um leilão online no dia 8 de fevereiro.
O conjunto não foi arrematado e ficou em poder da empresa até pelo menos o dia 28 de fevereiro. Três dias depois, começaram a circular na imprensa as primeiras notícias levantando suspeitas sobre o destino de presentes milionários recebidos pelo governo Bolsonaro em visitas oficiais. Foi então que teve início a chamada “operação resgate dos bens” pela Polícia Federal.
Em março, o Tribunal de Contas da União decidiu que os presentes tinham que ser incorporados ao patrimônio da União. Segundo a Polícia Federal, o grupo de Mauro Cid conseguiu reaver o kit de ouro branco. Com o escândalo Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro, foi escalado para comprar de volta o Rolex que tinha sido vendido e estava à venda no shopping da Pensilvânia. Wassef recomprou o Rolex. Quanto ao Patek Philippe, a Polícia Federal diz que “não há indícios de que tenha sido recuperado pelos investigados”.
RECOMPRA PARA DEVOLVER
O nome de Frederick Wassef, aparece no recibo da recompra de um Rolex nos Estados Unidos. O item teria sido um presente recebido em viagem oficial no governo Bolsonaro, e vendido ilegalmente no exterior. A Polícia Federal acredita que o recibo é uma prova contundente contra o advogado do ex-presidente.
A PF diz também que todos os outros presentes retornaram ao Brasil. A lista inclui duas pequenas esculturas: uma palmeira e um barco dourados que Bolsonaro recebeu no Bahrein. Segundo a Polícia Federal, Mauro Cid tinha enviado ao pai, o general Lourena Cid, o endereço de uma loja em Miami. Na troca de mensagens, o general Lourena Cid perguntou se os lojistas sabiam que ele levaria para avaliação e perguntou o horário do encontro. Mauro respondeu que eles sabiam, e informou: “Catorze horas”.
O Fantástico foi até a loja. Ela é famosa pelos sorrisos que produz para quem pode pagar por uma boca de ouro ou de pedras preciosas. Um dos lojistas negou ter avaliado as esculturas. Ele disse que sabe do escândalo das joias e afirmou que não trabalha com obras de arte. A tentativa de venda não prosperou e as avaliações revelaram que as esculturas não são caras.