A Mostra Democrática “Cinema com Partido” exibiu, no último sábado (03), o filme “Vá e Veja”, dirigido por Elem Klimov. Após a sessão foi realizado um debate com a jornalista especialista em cinema brasileiro e autora do blog Almanakito, Maria do Rosário Caetano e o crítico de cinema e cultura do jornal ‘O Estado de São Paulo’, Luiz Zanin Oricchio.
Segundo Maria do Rosário, “Esse é um dos filmes de guerra mais originais e realistas que temos, com um dos finais mais impactantes da história do cinema. O diretor trabalha com uma narrativa muito rica e intrigante, através de uma perspectiva de um adolescente, que acha uma arma e se alia com os partisans contra o inimigo nazifascista. Esse filme dialoga com grande drama social, atrelando a realidade cruel de uma ideologia, com a dor e o sofrimento de quem passou pelo período”.
Para Luiz Zanin, “A arte cinematográfica, empregada na construção desse filme e na obtenção dessa impressão sob o público, é uma impressão de horror, mas um horror sem qualquer efeito especial ou algo do tipo, mas sim um horror transmitido através de seres humanos, tomados por uma sanha sanguinária, absolutamente inacreditável. Porém, segundo os documentos históricos e os relatos de guerra nos contam que não há nenhum exagero nisso, isso efetivamente existiu, mostrando o rastro e o exagero da exacerbação da barbárie de uma ideologia, o que nos diz sobre um filme de horror”.
O crítico questionou ainda o quanto o filme aborda os limites das reações humanas perante aos períodos complexos da história da humanidade.
“O que a gente assiste em períodos autoritários, quando os instintos são colocados à solta, os atos dessas pessoas extrapolam os sentidos da barbárie, onde vão além das finalidades políticas pela obtenção ou manutenção do poder, ou seja que vão além da própria racionalidade”.
“O que o filme como um todo nos diz é que na hora em que se instaura a barbárie você sabe a hora que ela começa, mas não sabe a hora em que ela termina e os instintos mais baixos do ser humano são colocados à solta, isso acontece num campo de batalha, em meio a guerra, ou mesmo num porão de tortura, onde um torturador está livre para ferir uma pessoa indefesa. Esse filme talvez seja mais que um filme de horror, ele nos confronta com o horror da realidade humana, quando as barreiras civilizatórias são levantadas. Em tempo de guerra é propício que aconteçam coisas desse tipo”, considerou.
“Por fim, esse é um filme é considerado como um dos maiores filmes de guerra de todos os tempos, sendo um consenso entre a crítica mundial e ele nos dá um ponto de vista acerca da realidade humana, dos momentos mais complexos da história.”, concluiu Zanin.
O FILME
Frequentemente referenciado como um dos filmes mais perturbadores sobre a guerra e seus efeitos, o longa acompanha a trajetória do adolescente Floria em 1943, a partir de uma aldeia bielorrussa, onde encontra um velho fuzil e se junta ao movimento guerrilheiro de resistência contra os nazistas.
Na história da guerra, mais de 600 vilas foram aniquiladas juntamente com toda a sua população, sendo 2.230.000 de soviéticos, um terço dos habitantes da Bielorrússia. Eles foram mortos durante os anos da invasão alemã.
O diretor de “Vá e Veja”, Elem Klimov, foi duplamente premiado pela obra no 14º Festival Internacional de Moscou, com o Golden Prize e o FIPRESCI Prize, da Federação Internacional dos Críticos de Cinema.
O filme foi restaurado em 2017, em um processo coordenado pelo Diretor Geral do Mosfilm, o cineasta Karen Shakhnazarov, que levou quatro meses para ser concluída. O filme foi lançado em meio à comemoração dos 40 anos do fim da Grande Guerra Patriótica e teve 29 milhões de espectadores no território da antiga União Soviética.
No próximo sábado (10), às 10h, a mostra exibirá o filme O “Fascismo de todos os dias” (1965), de Mikhail Romm, no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na rua Rui Barbosa, 323, no Bixiga, centro de São Paulo.
Veja aqui a programação completa da Mostra Democrática “Cinema com Partido”