Ao final chegar à reta final da campanha nacional de vacinação contra a poliomielite e o sarampo, apenas metade das crianças, público-alvo da campanha foram vacinadas. Somente 51% da meta foi alcançada de acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde.
Iniciada em seis de agosto, O objetivo era vacinar, até o dia 31 deste mês, 11 milhões de crianças de um ano a menores de cinco anos, inclusive aquelas que estão com a carteirinha de vacinação em dia. Mas, a meta estabelecida está longe de ser alcançada.
A avaliação entre membros do governo é que a adesão à campanha ainda está abaixo do esperado. Em algumas capitais, vários postos ficam vazios ou com poucas filas. Só para o dia D contra a pólio e o sarampo, no último sábado (18), por exemplo, a expectativa do governo era atingir ao menos 60% do público-alvo.
Neste ano, a campanha de vacinação é “indiscriminada”, ou seja, mesmo crianças que já foram vacinadas no passado devem receber novas doses. O objetivo reforçar a imunização e criar uma barreira de proteção contra o sarampo, doença que vem registrando avanço no país.
Desde fevereiro, já foram confirmados 1.237 casos. Outros 5.731 ainda estão em investigação. A maioria ocorreu em Roraima e Amazonas, estados que registram surtos da doença. Também foram registradas ao menos seis mortes.
O avanço ocorre menos de dois anos após o país receber da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) um certificado de eliminação do sarampo. A situação também trouxe alerta diante da queda crescente nas taxas de coberturas vacinais, o que eleva o risco de retorno de doenças já eliminadas.
Em 2017, o Brasil teve o mais baixo índice de vacinação de crianças em mais de 16 anos. A taxa de vacinação contra a pólio, por exemplo, caiu de 98,2%, em 2015, para 77%, em 2017.
O resultado disso é que, “23% dos quase três milhões de crianças que nasceram ou completaram 1 ano em 2017 não haviam recebido proteção completa contra o vírus da poliomielite, que pode provocar paralisia permanente nas pernas e nos braços”, apontou a revista “Pesquisa Fapesp”, da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Isso significa que cresce o risco de o país voltar a registrar casos de paralisia infantil caso ocorra uma reintrodução do vírus e contato com não vacinados, uma situação que não ocorre desde 1990.
CAMPANHAS
Segundo a Fapesp, o Ministério da Saúde aposta em cinco razões para a queda de vacinação e o fracasso da última campanha. “A percepção enganosa dos pais de que não é preciso mais vacinar porque as doenças desapareceram; o desconhecimento de quais são os imunizantes que integram o calendário nacional de vacinação, todos de aplicação obrigatória; o medo de que as vacinas causem reações prejudiciais ao organismo; o receio de que o número elevado de imunizantes sobrecarregue o sistema imunológico; e a falta de tempo das pessoas para ir aos postos de saúde, que funcionam das 8h às 17h só nos dias úteis”. Esses motivos são os mais mencionados nos monitoramentos feitos em municípios brasileiros em seguida às campanhas nacionais – no estado de São Paulo foram visitados 58 mil domicílios após a campanha de 2017.
O próprio governo aponta as principais causas do baixo índice de vacinação e não adota as medidas necessárias para contornar o problema.
Apenas campanhas publicitárias na televisão não são suficientes para mobilizar a população pela vacinação. Não existe mais acompanhamento da vacinação das crianças nos estados e municípios.
Sem os agentes públicos participarem da vida cotidiana das famílias, não há campanha de sucesso. É preciso estar nas creches, organizar a vacinação por elas, por exemplo, seria uma saída ao horário de atendimento restrito dos postos de saúde. Outra medida simples seria a visitação as casas de agentes de saúde para esclarecer as dúvidas apontadas pela população na pesquisa realizada pelo ministério.
O fato principal é que essa mobilização de agentes públicos para realizar uma campanha nacional de vacinação eficiente demanda recursos que não são disponibilizados e com isso o governo Temer (PMDB) deixa claro que não tem política pública de saúde e nem se importa com o retorno dessas cruéis doenças a vida dos brasileiros, mesmo depois delas já terem sido extintas.
MAÍRA CAMPOS