
O segundo dia de desfile das escolas do Grupo Especial do carnaval de São Paulo, que começou no último sábado (1º), estendendo-se pela madrugada deste domingo (2) teve o Vai-Vai, Gaviões da Fiel e Acadêmicos do Tucuruvi como destaques 2º dia.
Águia de Ouro, Império de Casa Verde, Mocidade Alegre e Estrela do Terceiro Milênio também desfilaram neste segundo dia.

As sete escolas cruzaram a avenida sem sustos em relação ao tempo de desfile, passando tranquilas pelo Anhembi até o fechamento dos portões e respeitando os 65 minutos. A maioria delas apresentou pequenas falhas, que podem resultar perda de pontos importantes em quesitos como Harmonia, Evolução, Alegoria e Fantasia – a depender da visão dos jurados.

ÁGUIA DE OURO
A primeira escola a se apresentar, a Águia de Ouro levou para a avenida um enredo em homenagem a Benito di Paula. Décima colocada no Grupo Especial do carnaval de São Paulo em 2024, a escola fez um passeio pelos maiores sucessos da carreira do cantor e pianista, que na década de 1970, foi vizinho da quadra da agremiação.

As canções “Retalhos de cetim”, “Charlie Brown”, “Amigo do Sol, Amigo da Lua” e “Sanfona Branca” tiveram espaço do samba enredo. E as teclas do piano do artista ganharam vida, na comissão de frente da escola. O movimento na dança dos integrantes dava a ilusão de acordes no instrumento.
Dois carros da escola, incluindo o que trazia Benito de Paula, apresentaram problemas ainda na concentração. Embora eles tenham conseguido atravessar bem o percurso, o atraso na entrada resultou em alguns buracos na avenida, o que pode prejudicar a escola no quesito Evolução.
CASA VERDE
A Império da Casa Verde fez uma revolução no mundo quadrinhos e nos clássicos da literatura. Branca de Neve virou Preta de Neve, o Batman deixou de ser herói e o Peter Pan apareceu adulto no carro da comissão de frente, que foi um dos destaques da escola.
Ao longo do percurso, o elenco coreografado mostrava uma releitura de diversos personagens, trazendo questionamentos sobre os contos e histórias.
Os 220 ritmistas da bateria levantaram a arquibancada ao fazer suas paradinhas e coreografias. E os carros alegóricos surpreenderam o público com seus detalhes.
MOCIDADE
A atual campeã do carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre tenta o tricampeonato com um enredo que fala dos amuletos de sorte que são utilizados pelo povo brasileiro. O tema mostra a história dos patuás e de outros objetos de devoção. A própria presidente da escola, Solange Bichara, costuma roubar a cena nas apurações das campeãs carregando seus patuás durante a contagem dos pontos. E suas mãos foram representadas na última alegoria do desfile.
A bateria roubou a cena ao formar um enorme terço, onde cada integrante representava as contas menores do símbolo religioso. Em seguida, os ritmistas formavam um coração com o cordão, enquanto a rainha de bateria, Aline Oliveira, carregava uma cruz iluminada. O samba também levantou a arquibancada, que cantou junto com os 2700 componentes da escola.
Durante a passagem do carro Altares das Irmandades Negras, as luzes se apagaram. Embora tenha sido por poucos segundos, a escola pode pender pontos no quesito Alegoria, a depender da visão dos jurados. O último carro (Mandigas para mais uma vitória) também apresentou problemas ao longo do percurso, fazendo pausas pelo Anhembi e deixando, por vezes, espaços na pista. O carro, que era motorizado, pifou e precisou ser empurrado.
GAVIÕES
Quarta escola a entrar na avenida, a Gaviões da Fiel levou seu primeiro enredo afro. A escola, que ficou com a quarta posição no carnaval de São Paulo 2024, falou das máscaras africanas e usou o personagem do espírito Orumilá para viajar pelo continente negro.
A comissão de frente trouxe uma coreografia muito bem cadenciada que representava o resgate à ancestralidade, todas as coreografias da escola, foram pensadas com base em danças originárias dos povos da África. A parte de cima da fantasia de um dos membros da comissão de frente, que representava Exu, arrebentou, o que pode fazer com que a escola perca pontos.
A bateria da agremiação chamou a atenção ao incluir batidas de música afro em suas paradinhas, ajudando a contar a história do enredo.
TUCURUVI
Terceira colocada do carnaval São Paulo 2024, a Acadêmicos do Tucuruvi vai em busca de seu primeiro título com um enredo que conta a história do manto tupinambá, que foi levado do Brasil há mais de 300 anos. O exemplar de vestimenta sagrada dos indígenas tupinambás foi devolvido ao país em 2024 pela Dinamarca.
A comissão de frente trouxe a representação de um ritual indígena, com um time de componentes muito bem coreografado. A Tucuruvi chamou a atenção pelo efeito visual de suas alegorias e fantasias em cores neon. Outro ponto de destaque foi o carro que representava a feitura do manto, que é feito com penas que caem das aves.
MILÊNIO
A Campeã do Grupo de Acesso do carnaval de São Paulo, a Estrela do Terceiro Milênio levou para a avenida um enredo sobre o preconceito contra a comunidade LGBTQIAPN+.
A bateria da escola fez um apagão diferenciado e levantou a arquibancada quando alguns de seus ritmistas trocaram os instrumentos para bater enormes leques nas cores do arco-íris. O carnavalesco Milton Cunha fez uma pausa em sua transmissão do carnaval, que realizava para a TV Globo no momento e veio à frente dos músicos como homenageado.
Um dos ritmistas apareceu com as mangas da fantasia arregaçadas, o que pode gerar perda de pontos para a escola, a depender da visão dos jurados.
VAI-VAI
Para encerrar a noite de espetáculos, o Vai-Vai fechou o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do carnaval de São Paulo homenageando o diretor Zé Celso Martinez, que morreu em julho de 2023, aos 86 anos, após um incêndio atingir seu apartamento. O multiartista adotou o Bixiga, mesmo bairro do Vai-Vai, como local de vida e de produção artística.
A escola, que tem 15 títulos no Grupo Especial, levou o Teatro Oficina, sede da companhia teatral criada pelo dramaturgo, em sua comissão de frente.
O Vai-Vai respeitou o desejo de Zé para que suas obras fossem devoradas após sua morte e “devorou” sua arte e genialidade ao longo do desfile. Em especial no carro abre-alas, que celebrava um grande banquete antropofágico. A mente inquieta e livre do artista também ganhou espaço, sendo representada no segundo carro. Marcelo Drummond, viúvo de Zé, veio na alegoria.
Mesmo sendo a última escola a cruzar a avenida, já com o dia claro, a arquibancada seguiu lotada para acompanhar a passagem da escola.
A apuração das escolas de samba de São Paulo acontece na terça-feira (4).