Na sexta-feira (29/11), quando nós, amigos de Valdo (ninguém, nem ele, o chamava pelo nome da certidão de nascimento, Josevaldo, por inteiro, Josevaldo Albuquerque Bahia), o acompanhávamos pela última vez, lembrei da primeira vez que o vi.
Foi em Belo Horizonte – e não me lembro mais o que eu e ele estávamos fazendo lá.
Pareceu-me muito jovem – o que quer dizer, claro, muito mais jovem que eu. Era noite e bebemos algumas cervejas, entre histórias sobre alguns conhecidos (já dizia o grande Ariano Suassuna: “Bom mesmo é falar mal pelas costas. Falar mal pela frente constrange quem fala e quem ouve. Não custa nada esperar que a pessoa dê as costas”).
Na época, Valdo assumira – interinamente, é verdade – a distribuição da Hora do Povo e fizera um excelente trabalho.
Mas isso foi há uns 30 anos.
Depois, em um encontro sobre petróleo, ouvi um dos maiores especialistas no tema designar Valdo como “grande jornalista” – o petróleo foi uma das áreas em que o nosso Valdo mais contribuiu.
Ele iniciou sua trajetória política no movimento estudantil, em seu Estado, o Pará. Algumas de suas histórias mais engraçadas eram sobre certas peculiaridades paraenses.
Resta dizer que era um homem muito inteligente – inclusive em questões matemáticas. Lembro que, um dia, sabendo das minhas dificuldades para ensinar matemática aos meus filhos, ele recomendou-me uma obra sobre “matemática elementar” (mais especificamente, sobre “fundamentos de matemática elementar”), que fui quase imediatamente comprar.
Descobri que era uma obra em 11 volumes – mas ele não recomendara o livro por brincadeira. Realmente, ele não achava nada excessivo esses 11 volumes para um pai que estava ajudando os seus filhos a aprender alguns rudimentos matemáticos. E até que os livros ajudaram muito.
Valdo era nosso redator – da editoria de política/economia – há largos anos.
Como todos nós, ele tinha os seus defeitos. O maior deles, provavelmente, em seu caso, era não perceber o quanto as pessoas gostavam dele.
Seu funeral, na sexta-feira, mostrou como ele estava enganado.
Entretanto, ele gostava das pessoas – e não somente das que estavam próximas.
Desde jovem, Valdo dedicou a sua vida aos milhões – aliás, bilhões – que não têm quase o que comer, que são excluídos dos benefícios de uma sociedade cada vez mais antissocial.
Ele era, inteiramente, um brasileiro – e, como tal, combatente pela nossa independência e liberdade.
À sua viúva, Eliane, e aos seus irmãos e irmãs, a nossa solidariedade.
CARLOS LOPES