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Lucro líquido da companhia em 2024 atingiu R$ 31,6 bilhões
A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, fechou 2024 com lucro líquido de R$ 31,6 bilhões, como resultado de um faturamento expressivo de R$ 203 bilhões. Do lucro total serão distribuídos R$ 9,14 bilhões de dividendos, enquanto as vítimas pelos crimes ocorridos na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e na barragem de Fundão em Mariana (MG), de propriedade da mineradora Samarco, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, aguardam por indenização justa.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ficou em R$ 80,1 bilhões. As informações foram anunciadas na quarta-feira (19). A data para pagamento dos dividendos será no próximo mês de março tanto para os detentores de ações de emissão da Vale negociadas no Brasil, quanto aos detentores de American Depositary Receipts (ADRs), negociados na Bolsa de Nova York.
Os lucros gordos da companhia continuam acontecendo ano após ano, assim como os dividendos distribuídos aos acionistas, no entanto, reparações pelos crimes que vitimou dezenas de brasileiros, seus familiares e dezenas de municípios, continuam com pendências e sofrimento.
O rompimento da barragem de Brumadinho, que matou 270 brasileiros em 25 de janeiro de 2019, configurou-se na maior tragédia ambiental e humanitária do Brasil. Na época, a Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgou relatório atestando que a tragédia poderia ter sido evitada se a Vale tivesse prestado informações corretas ao Sistema de Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM).
JUSTIÇA
Em Brumadinho, após seis anos, trabalhadores e familiares das vítimas ainda aguardam indenizações reclamadas na Justiça por meio de processos trabalhistas movidos contra a Vale, conforme o Sindicato Metabase Brumadinho que acompanha os processos, informa o portal da CUT-Central Única dos Trabalhadores.
É o caso da ação coletiva por dano-morte ganha pelas famílias dos 131 trabalhadores e trabalhadoras celetistas da Vale. Nela, pela decisão judicial, a Vale foi condenada a pagar um valor de R$ 1,447 milhão por vida perdida, sendo que a empresa quer pagar apenas R$ 500 mil. A empresa não sente qualquer constrangimento em distribuir os dividendos agora anunciados e não aceita remunerar as famílias em cerca de R$ 190 milhões, algo como 2% dos dividendos, em processo em que já foi condenada em três instâncias.
Para o sindicato, que rejeitou a proposta, a intenção da Vale de indenizar em R$ 500 mil os trabalhadores e familiares das vítimas da tragédia “é extremamente baixa”, pois trata-se de indenização pelos danos morais sofridos pelos falecidos, que tiveram uma morte brutal e de vidas abreviadas.
Os advogados da entidade, destacam também que, na ação coletiva por dano-morte ajuizada pelo sindicato, a Vale já foi condenada em três instâncias, incluindo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), por unanimidade, ao pagamento dessa indenização.
“O sindicato espera é que a empresa acate a decisão judicial e reconheça o dano causado às vítimas maiores do rompimento da barragem em Brumadinho, que são os trabalhadores e trabalhadoras mortos nessa tragédia-crime”, destaca a CUT. Negociações das partes envolvidas tentam chegar a um acordo. Por último, ficou definido que a Vale reavaliará a proposta e uma nova reunião será realizada em março.
Fora das demandas trabalhistas em Brumadinho, até agora ninguém foi responsabilizado criminalmente pelo desastre anunciado, visto as condições em que a barragem se encontrava.
Em Mariana, a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, Vale e BHP, se rompeu em 5 de novembro de 2015, despejando mais de 44 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro. A tragédia matou 19 pessoas e espalhou destruição na bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, com danos até a foz do rio, no Espírito Santo. Quarenta e nove municípios foram atingidos.
A Fundação Renova, criada para administrar a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem descumpriu acordos de reparação, acumulando 85 mil processos no judiciário e acabou sendo extinta em novo acordo. Só parte das famílias atingidas pelo lama receberam casas novas.
Segundo a Advocacia-Geral da União, a Fundação Renova só conseguiu indenizar 112 mil pessoas. Depois de dez anos da tragédia, ocorrida em novembro de 2015, apenas 26% da verba provisionada para reparar os danos do desastre, foram efetivadas.
Em outubro de 2024, a Vale, a Samarco e a BHP, o Governo Federal e as partes envolvidas assinaram um “acordo definitivo” sobre as demandas relacionadas ao colapso da barragem de Fundão. O valor total do acordo foi de aproximadamente R$ 170 bilhões, compreendendo obrigações passadas e futuras, para atender as pessoas, comunidades e o meio ambiente impactados pelo rompimento da barragem.
Mas as mineradoras colocam todo tipo de empecilho para não atenderem aos acordos homologados junto ao Supremo Tribunal Federal. No caso de Mariana, a ação popular contra a mineradora BHP em Londres contempla apenas 36% dos participantes.
“Convenientemente, a BHP não comunicou a ninguém, ao assinar o acordo no ano passado com as instituições de justiça e os governos brasileiros, que sabia que menos de 40% dos atingidos que são parte na ação inglesa poderiam participar da repactuação. Assim como já ocorreu no passado, as mineradoras prometeram uma solução definitiva, mas não o fizeram. Não é à toa que ouço de tantos clientes que eles não confiam nas mineradoras. Mais uma vez, os atingidos têm sua confiança trincada no comprometimento das mineradoras em uma solução séria e justa para o desastre de Mariana”, disse o advogado, Tom Goodhead da Pogust Goodhead, por nota, em reportagem de O Globo.
Sobre o processo na Inglaterra, a BHP na sua demonstração financeira semestral, publicada na terça (18), admite que o acordo brasileiro “não vai resolver todas as reivindicações” dos clientes da ação, pois cerca de 40% dos indivíduos e 80% dos municípios que participam da ação podem aderir ao acordo, segue a matéria.
Pode parecer incrível, mas em novembro de 2024, a Justiça Federal absolveu as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR, além de 22 pessoas, pelo rompimento da Barragem de Fundão em Mariana. O Ministério Público Federal (MPF) recorreu da decisão que absolveu empresas e profissionais acusados pelo rompimento da barragem do Fundão. O órgão pediu a revisão da sentença e a condenação de todos os réus.